A Avenida Ribeira das Naus acolhe a Festa da Diversidade nas Festas de Lisboa’19

A construção da Avenida da Ribeira das Naus, cerca de 1953
(Foto: Judah Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa)

No próximo sábado, dia 29 de junho, a partir das 16 horas, no âmbito das Festas de Lisboa’19, a Avenida da Ribeira das Naus vai acolher a Festa da Diversidade que neste 2019 celebra os seus 20 anos, e se estende para o domingo.

Organizada  pela associação SOS Racismo a Festa da Diversidade procura trazer para o espaço público o trabalho de muitas associações e artistas da periferia ou sem a visibilidade que merecem, procurando ultrapassar qualquer tipo de discriminação, de preconceito, de racismo, xenofobia, homofobia e machismo, pelo que vai receber o final da Marcha LGBT, ao mesmo tempo que neste espaço público lisboeta acolhe vários saberes, sabores e sons do mundo, com dignidade, respeito e igualdade, contribuindo para o diálogo intercultural.

A Avenida da Ribeira das Naus, tal como a paralela Rua do Arsenal, partilham a mesma origem: o Arsenal da Marinha, descendente das tercenas de D. Manuel I. Foi sobre a doca seca do Arsenal da Marinha, atulhada em 1939, que se construiu a Avenida da Ribeira das Naus, topónimo que foi atribuído pelo Edital municipal de 22 de junho de 1948 e no final desse mesmo ano, em 29 de dezembro, a edilidade lisboeta colocou nesta Avenida uma lápide onde se podia ler «Neste local construíram-se as naus que descobriram novas terras e novos mares e levaram a todo o mundo o nome de Portugal».

A Ribeira de Lisboa era a zona marginal do Tejo, entre a Praça do Município e a Igreja da Conceição Velha, até com D. Manuel I ser o local das tercenas onde se construíam os navios necessários, a ponto de o rei  ter mandado construir o seu Paço mesmo ao lado para melhor verificar esses trabalhos. O terramoto de 1755 destruiu esse importante complexo naval mas a sua reconstrução iniciou-se logo em 1759, sob o traçado de Eugénio dos Santos.  Por isso o local foi conhecido como Ribeira das Naus, nome extensivo ao Arsenal da Ribeira das Naus (depois  Arsenal Real da Marinha e a partir de 1910, apenas Arsenal da Marinha). Em 1936, o Arsenal começou a ser transferido para as instalações navais do Alfeite e terminou a sua laboração em 1939, altura em que se começou a construir a Avenida da Ribeira das Naus.

Refira-se que no mesmo ano de 1948, pelo Edital municipal de 29 de Abril, cerca de dois meses antes do que consagrou a Avenida da Ribeira da Naus, foram atribuídos em Belém, onde em 1940 havia decorrido a Exposição do Mundo Português, mais topónimos evocativos do antigo Império Português, a saber, a Praça do Império, a Avenida da Índia, as Praças de Goa, de Damão e de Dio, a Rua Soldados da Índia, assim como topónimos que recordavam  figuras ligadas à Expansão Portuguesa, como navegadores – Avenida Dom Vasco da Gama, Rua Dom Cristóvão da Gama, Rua Dom Jerónimo Osório, Rua Fernão Mendes Pinto -, representantes das autoridades de Portugal – Rua Dom Lourenço de Almeida, Rua Tristão da Cunha – , historiadores da época – Rua Damião de Góis, Rua Fernão Lopes de Castanheda -, bem como cientistas – Rua Duarte Pacheco Pereira – e missionários – Rua São Francisco Xavier – e o próprio rei dessa época do Império Português com a Praça Dom Manuel I.

Freguesia de Santa Maria Maior e Misericórdia

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A 2ª senha do 25 de Abril, a Rádio Renascença e a Rua Ivens

Em 1960
(Foto: Arnaldo Madureira, Arquivo Municipal de Lisboa)

A 2ª senha, para continuação do golpe de Estado militar foi dada à meia-noite e vinte do dia 25 de abril, com a canção “Grândola, Vila Morena”, de José  Afonsono programa “Limite” da Rádio Renascença, antecedida pela leitura da sua primeira quadra previamente gravada por Leite de Vasconcelos e posta no ar por Manuel Tomás.

Naquela época, a Rádio Renascença estava instalada no nº 14 da Rua Ivens, num prédio que se estendia também pela Rua Capelo. Ambos os topónimos tinham nascido cerca de 89 anos antes, através do Edital municipal de 7 de setembro de 1885, em conformidade com as resoluções da Câmara de dia 3 do mesmo mês, que incluíam também um programa para festejar a chegada a Lisboa dos exploradores Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens que ocorreria daí a dias, a 16 de setembro, mencionando que após o desembarque no Arsenal da Marinha seriam iluminados os edifícios municipais e feita uma recepção no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Lisboa a Capelo e Ivens.

Refira-se que o mesmo Edital atribuiu também a Rua Anchieta e a Rua Serpa Pinto, somando assim 4 topónimos referentes a exploradores dos territórios africanos na mesma zona do Chiado. A Rua de São Francisco passou a ser a Rua Ivens, a Travessa da Parreirinha mudou para Rua Capelo, a Rua da Figueira tornou-se a Rua Anchieta e a Rua Nova dos Mártires converteu-se em Rua Serpa Pinto.

O homenageado Roberto Ivens (Açores-Ponta Delgada/12.06.1850 – 28.01.1898/Dafundo), filho de Margarida Júlia de Medeiros Castelo Branco e de Robert Breakspeare Ivens, foi um oficial da Marinha que em 1877, com Hermenegildo Capelo e Alexandre Serpa Pinto, recebeu  o encargo de explorar os territórios compreendidos entre Angola e Moçambique, nomeadamente, estudando as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Com Capelo levou a cabo duas expedições, em 1877-1880 e em 1884-1885, conhecidas através dos relatos De Benguela às Terras de Iaca (1881) e De Angola à Contracosta (1886). Acresce que através dos seus cadernos e desenhos, Ivens foi também o repórter da época em África.

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O extinto Largo do Museu Agrícola Colonial

O antigo Largo do Museu Agrícola Colonial em 1939
(Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

Por proposta do vice-presidente Abílio Trovisqueira, foi atribuído o Largo do Museu Agrícola Colonial ao largo em frente do portão da entrada do Pátio das Vacas, delineado entre a Calçada de Ajuda e a Calçada do Galvão e compreendendo a parte da Travessa do Pátio das Vacas, conforme deliberação por unanimidade da  Comissão Executiva da CML de 15 de novembro e o consequente Edital de 13 de dezembro de 1917. Assim, o Largo do Museu Agrícola Colonial existiu durante quase 43 anos, de 13 de dezembro de 1917 a  28 de outubro de 1960.

Hoje este Largo não tem existência física porque é parte da Rua General João de Almeida. Este último topónimo foi atribuído por Edital municipal de 28 de outubro de 1960  e dez anos depois, o Edital municipal de 4 de novembro de 1970, integrou neste arruamento a Travessa do Pátio das Vacas e o Largo do Museu Agrícola Colonial.

Como o nome indica, este topónimo registava a presença no local do Museu Agrícola Colonial, no Palácio conhecido como Palácio dos Condes da Calheta. O palácio data de meados do séc. XVII, provavelmente por iniciativa de D. João Gonçalves da Câmara, 4º conde da Calheta, como residência de veraneio. Em 1726 foi adquirido por D. João V  mas no final desse século estava quase ao abandono. Foi depois recuperado para receber visitas de famílias reais (como o pai de D. Fernando II) e veio até a converter-se na casa dos funcionários reais aposentados, como o precetor dos príncipes.

Por Decreto Régio de 25 de janeiro de 1906, no contexto da organização do Ensino Agronómico Colonial no Instituto de Agronomia e de Veterinária, foi criado o Jardim Colonial e o Museu Agrícola Colonial. O primeiro teve execução prática a partir de 1914 e dois anos depois, isto é, em 1916, foi a vez do Museu, no ano anterior à deliberação municipal de atribuição do topónimo. O Decreto Régio fundador, para além da instalação do ensino agrícola tropical incluir um jardim-laboratório e um museu, especificava que o Diretor do Jardim seria o docente da disciplina de Geografia económica e culturas coloniais do IAV.

O espaço do Palácio e dos seus jardins e estufa serviram em 1940 como Pavilhão da Caça e do Turismo da Exposição do Mundo Português, com os seus tanques a exporem crocodilos e a mostrar várias geografias coloniais portuguesas pelos jardins, para além da Casa da Direção exibir jaulas com leões.

A partir de 1944 o Jardim Colonial fundiu-se com o Museu Agrícola Colonial, para formar o Jardim e Museu Agrícola Colonial, fora da dependência do Instituto Superior de Agronomia. Em 1951 passou a denominar-se Jardim e Museu Agrícola do Ultramar  e em 1974, ficou parte integrante da Junta de Investigações do Ultramar, depois Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT). Em 1983 tomou a designação de Jardim-Museu Agrícola Tropical (JMAT), uma das unidades funcionais do Instituto de Investigação Científica Tropical, com o seu Centro de Documentação e Informação.

Em 2007, o Jardim foi classificado como Monumento Nacional, juntamente com o Palácio Presidencial ou Palácio Nacional de Belém e todo o conjunto intramuros. O Jardim Botânico Tropical, um museu da flora da Expansão Portuguesa, foi integrado na Universidade de Lisboa em 2015 e é hoje dirigido pelo Professor José Sousa Dias, que já foi o representante dessa Universidade na Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa.

Planta do Largo do Museu Agrícola Colonial em 23 de agosto de 1923 (Arquivo Municipal de Lisboa)

 

A Rua São Francisco Xavier em Belém

Freguesia de Belém
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

São Francisco Xavier, padre, missionário e santo, conhecido pelos epítetos de Apóstolo do Oriente e Santo Padroeiro de Goa, é o topónimo de um arruamento de Belém desde 1948, especificamente, do Plano de Urbanização da Encosta do Restelo.

A Rua São Francisco Xavier foi atribuída pelo Edital municipal de 29 de abril de 1948 à Rua VI do Plano de Urbanização da Encosta do Restelo  ou Encosta da Ajuda, fazendo a ligação da Rua Dom Lourenço de Almeida à Rua Soldados da Índia. Por este mesmo Edital,  o primeiro da edilidade lisboeta a fixar em Belém memórias dos lugares e figuras referentes à Expansão Portuguesa, para além da Rua da Alcolena (um topónimo tradicional da zona derivado do Casal de Alcolena) foram mais os seguintes 20 topónimos: Praça do Império, Avenida da Índia, Avenida Dom Vasco da Gama, Praça de Damão, Praça de Dio, Praça de Goa, Praça Dom Manuel I,  Rua Damião de Góis, Rua Dom Cristóvão da Gama, Rua Dom Jerónimo Osório, Rua Dom Lourenço de Almeida, Rua Duarte Pacheco Pereira, Rua Fernão Mendes Pinto, Rua Fernão Lopes de Castanheda, Rua Tristão da Cunha e Rua Soldados da Índia.

Na época, este Edital tem ainda o significado de ser também o primeiro a responder com a manutenção da política colonial. Em 1947, os britânicos concederam a independência indiana e o primeiro-ministro indiano, Jawaharlal Nehru, exigiu a  integração da Índia Portuguesa na União Indiana. A resposta do Governo português também foi dada através deste Edital de toponímia da Câmara Municipal de Lisboa, logo no ano seguinte.

Imagem de São Francisco Xavier trazida de convento de Diu (Foto: António da Silva Fernandes Duarte, 1969, Arquivo Municipal de Lisboa)

Francisco Xavier (Espanha- Pamplona/07.04.1506 – 03.12.1552/ilha de Sanchoão – China) após conhecer em Paris Inácio de Loyola, na Sorbonne, torna-se padre jesuíta e D. João III incumbe-o em 1541 de evangelizar o Oriente e nessa missão percorreu Goa, Comorim, Manapar e Cochim e depois, as ilhas de Madrasta, Maçacar, Malaca, Molucas, Ceilão, Amboíne e Moro. Foi nomeado Superior da Companhia de Jesus de toda a Missão da Índia Oriental, desde o Cabo da Boa Esperança até à China.

Nos milhares de quilómetros que palmilhou, São Francisco Xavier visitou mais de cinco dezenas de reinos, fundou Igrejas, reorganizou as missões, foi exemplo de solidariedade cristã, tendo sido venerado por milhões de pessoas e canonizado pelo Papa Gregório XV em 1622, sendo o seu dia celebrado a 3 de dezembro.

Entretanto, já desde a década de 80 do século XX que se desenvolviam esforços para a construção de uma Igreja Paroquial dedicada a São Francisco Xavier no Alto do Restelo, que era então freguesia de São Francisco Xavier e daí resultou a atribuição da Praça de São Francisco Xavier à rotunda na confluência da Avenida Ilha da Madeira com a Rua Antão Gonçalves e com a Rua Carlos Calisto, pelo Edital municipal de 16 de dezembro de 2004, estando assim São Francisco Xavier duas vezes na toponímia de Lisboa.

Freguesia de Belém
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

São Francisco Xavier está também presente na toponímia de Algueirão-Mem Martins, Barcarena, Buraca, Calheta, Carcavelos, Chaves, Coimbra, Mirandela, Estremoz, Fafe, Fernão Ferro, Ferrel, Gafanha da Nazaré, Leça do Balio, Loures, Lourinhã, Massamá, Montijo, Nazaré, Paio Mendes, Palmela, Pinhal Novo, Ponta Delgada, Pontinha, Porto, Póvoa de Santo Adrião, Rio de Mouro, Rio Tinto, Sacavém, Santa Iria de Azóia, São Domingos de Rana, São João da Madeira, São Julião do Tojal, Setúbal, Trofa, Viana do Castelo, Vila Nova de Famalicão e Viseu.

Freguesia de Belém
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

A rua do mercador quatrocentista a quem D. Afonso V arrendou a costa africana

Freguesia de Belém
(Foto: Sérgio Dias)

A Rua Fernam Gomes perpetua na Encosta do Restelo o nome do mercador do séc. XV a quem D. Afonso V arrendou a exploração comercial da costa africana pela contrapartida de avanço na exploração de novos territórios no litoral de África.

O topónimo foi fixado na Rua BM1 à Encosta do Restelo pelo edital municipal de 19/10/1964, somando-se aos inúmeros topónimos de navegadores, missionários, e bandeirantes que desde a década de quarenta do século XX caracterizam a toponímia da zona, centrada na Expansão Portuguesa, tendo recebido a legenda «Navegador do Século XV».

Pelo mesmo edital fixaram-se no local mais 10 topónimos, todos de navegadores do século XV, a saber, Álvaro Esteves que até navegou com Fernão Gomes, Gonçalo Nunes, Gonçalo Velho Cabral, João Coimbra, João Fernandes Labrador, Jorge Álvares, Paulo da Gama, Pedro de Barcelos, Pero de Alenquer e Tristão Vaz, dando assim o edital municipal cumprimento ao parecer da Comissão Municipal de Toponímia, na sua reunião de 27 de maio de 1960, no qual se enunciava que «A Comissão começou por se ocupar, novamente, do processo nº 3545/60, no sentido de os arruamentos do Bairro de Casas Económicas da Encosta do Restelo serem todos denominados com nomes de figuras relacionadas com a nossa Epopeia Marítima, tendo, para o efeito, visitado aqueles arruamentos e o Bairro residencial.»

Fernam Gomes, também grafado como Fernão Gomes da Mina, foi o mercador a quem D. Afonso V por carta de 12 de abril de 1455 tornou recebedor dos resgastes da Guiné, fosse de mouros fosse de mercadorias. Consta que já antes  servira D. Afonso V em Ceuta e  João de Barros refere-o também na conquista de Alcácer Ceguer (1458).

Mas foi de novembro de 1468 a 1 de junho de 1473 que vigorou o contrato de arrendamento da Costa da Guiné em que o rei D. Afonso  V lhe arrendou por 5 anos, depois prolongado por mais um ano, o exclusivo do comércio do golfo da Guiné, com a obrigação de pagar uma renda anual de 200 mil réis e de ir explorando 100 léguas da costa da África por ano, a sul da Guiné, a partir da Mata de Santa Maria, tendo até 1475 alcançado o cabo de Santa Catarina e as ilhas do golfo da Guiné.

A documentação conhecida refere-o como escudeiro da Casa Real pelo menos desde 4 de setembro de 1469, sendo dois anos depois, aquando da conquista de Arzila, armado cavaleiro da Casa Real. A 14 de dezembro de 1472 recebeu autorização para ele e os seus acompanhantes usarem espadas e todas as outras armas, enquanto durasse o contrato de arrendamento com a Coroa. Terão trabalhado com Fernão Gomes os cavaleiros de D. Afonso V João de Santarém e Pêro Escobar (que em 1471 descobriram a região onde se viria a erguer o forte de S. Jorge da Mina onde conseguiram o primeiro resgate de ouro), Soeiro da Costa, Fernando Pó (que chegou à Baía de Biafra e descobriu a ilha que ficou com o seu nome, agora Bioko) e Rui de Sequeira, bem como os pilotos Álvaro Esteves e Martim Fernandes, e ainda os navegadores Pedro de Sintra, Lopo Gonçalves e Lopo de Sequeira (passaram a linha do Equador, atingindo o Gabão e descobrindo as ilhas de S. Tomé, Príncipe e Ano Bom).

Também foi concedido a Fernão Gomes o monopólio do comércio da malagueta (ou pimenta-da-guiné), por mais 100 mil réis anuais, produto que era então um popular substituto da pimenta. Por outro lado, a Coroa reservava para si o monopólio da revenda do marfim, ao preço de 1500 réis por quintal, que Fernão Gomes teria que ceder integralmente a Martim Eanes de Boaviagem, a quem o rei concedera o exclusivo da venda deste produto em Portugal.

Aliás, os propósitos mercantis foram neste contexto evidentes, a ponto de se terem sido perpetuados nas designações atribuídas pelos navegadores às partes da Costa da Guiné que iam explorando, identificando-as pelas principais mercadorias que aí se obtinham através do comércio com os nativos: Costa da Malagueta (Libéria), Costa do Marfim, Costa do Ouro (Gana) e Costa dos Escravos (Togo e Benim).

Fernão Gomes foi agraciado pelo rei com o  apelido Mina (Carta régia de 29 de Agosto de 1474) e um brasão de armas em escudo de prata,  com três cabeças de negros com colares e argolas de ouro nas orelhas e nas faces, para além de ter sido nomeado membro do Conselho Real em 1478.

Na sua vida privada, Fernam Gomes  casou-se em Lisboa com Catarina Leme, filha bastarda do mercador flamengo Martim Leme, «O Velho».

Freguesia de Belém
(Planta: Sérgio Dias)

 

 

 

A Guerra Colonial nascida há 56 anos, também no tabuleiro da Toponímia de Lisboa

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A Guerra Colonial que se iniciou há 56 anos, em fevereiro de 1961, para além de decorrer em Angola, Guiné e Moçambique até ao 25 de Abril de 1974 , também se jogou no tabuleiro da toponímia de Lisboa, onde o Estado Novo fixou as suas mensagens de defesa do Império Colonial.

Em 1947, os britânicos concederam a independência indiana e o primeiro-ministro indiano, Jawaharlal Nehru, exigiu a  integração da Índia Portuguesa na União Indiana. A resposta do Governo também foi dada através da Câmara Municipal de Lisboa, logo no ano seguinte, através do Edital municipal de 29 de abril de 1948, que colocou no Plano de Urbanização da Encosta da Ajuda, em Belém, as Praças de Damão, Dio e Goa, assim como mais 6 topónimos todos ligados à Expansão Portuguesa na Índia: a Avenida da Índia e a Avenida Dom Vasco da Gama, a Rua Soldados da Índia, a Rua Dom Cristóvão da Gama, a Rua Dom Lourenço de Almeida e a Rua São Francisco Xavier.

E nos anos sessenta e a edilidade lisboeta passa a contemplar na sua toponímia, como revelam as legendas dos topónimos, os «Heróis da Ocupação» e os «Heróis do Ultramar», nas freguesias que ainda tinham alguns arruamentos sem denominação e assim, na Ajuda passou a constar a Rua General Massano de Amorim/Governador Ultramarino/Herói da Ocupação, tal como na Ajuda e Belém ficou a Rua General João de Almeida/Herói do Ultramar (ambos os topónimos pelo Edital de 28/10/1960 ). A terminar o ano, pelo Edital 21/12/1960 , fixou-se em São Domingos de Benfica a Rua Major Neutel de Abreu/Herói do Ultramar.

O ano de 1961 começou com o assalto ao Santa Maria em 22 de janeiro, como forma de protesto contra a falta de liberdade cívica e política em Portugal, preparada por Henrique Galvão e Humberto Delgado e levada a cabo pelo primeiro com 20 elementos da DRIL (Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação) que o transformou em paquete Santa Liberdade, tendo as televisões e os jornais de todo o mundo divulgado o acontecimento. A edilidade atribuiu em 15 de fevereiro de 1961 o nome do piloto que faleceu nesse acontecimento, João Nascimento da Costa, numa rua do Beato, a que juntou nas proximidades, em junho a Rua Engº Maciel Chaves, com a significativa presença nestas inaugurações do então presidente da CML, António Vitorino França Borges, bem como divulgação na Revista Municipal.

Onze dias antes, a 4 de fevereiro de 1961, o MPLA (Movimento Popular e Libertação de Angola) tinha atacado a prisão de São Paulo e uma esquadra da polícia, em Luanda, tendo sido mortos 7 polícias, enquanto no norte de Angola, a UPA (União das Populações de Angola) desencadeou vários ataques contra a população branca e assim Angola foi o primeiro país a  iniciar a luta armada organizada contra o domínio português.

Ainda em 1961, pelo Edital de 10 de novembro, são colocados na toponímia alfacinha mais dois Heróis do Ultramar: a Rua General Justianiano Padrel na freguesia de S. Vicente e o Largo Alferes Francisco Duarte, na Penha de França.

E a 18 de dezembro, a União Indiana invadiu os territórios de Goa, Damão e Dio, quase sem resistência dos soldados portugueses face à disparidade das forças em contenda. Salazar tinha avisado o governador do Estado Português da Índia, General Vassalo e Silva por telegrama que «Não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, assim como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos». O General Vassalo e Silva  que aceitou a rendição só 53 anos depois teve o seu nome numa rua de Lisboa, em 2014.

A 23 de janeiro de 1963, a luta armada alargou-se à Guiné-Bissau, com o ataque do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) ao quartel de Tite, no sul do país. A partir do mês seguinte, pelo Edital de 13 de fevereiro de 1963, os arruamentos de uma nova urbanização, Olivais Norte, receberam os nomes de 4 militares, todos com a legenda «Morto em Angola ao Serviço da Pátria – 1961»: a Rua General Silva Freire, a Rua Alferes Barrilaro Ruas, a Rua Sargento Armando Monteiro Ferreira e a Rua 1º Cabo José Martins Silvestre.

A 9 de setembro, os Olivais Norte acolheram mais 2 mortos ao serviço da Pátria mas desta vez na Índia: a Rua Capitão Santiago de Carvalho/ Morto em Damão ao serviço da Pátria – 1961 e a Rua Capitão-Tenente Oliveira e Carmo/ Morto em Dio ao Serviço da Pátria – 1961. E ainda nesse ano, pelo Edital de 13 de dezembro, em São Domingos de Benfica, é atribuída a Rua Conde de Almoster/Herói do Ultramar/1858 – 1897.

Em 1964, na Freguesia do Beato, é atribuído o Largo Honório Barreto, em memória de um Governador da Guiné do séc. XIX lá nascido, pelo Edital de 23 de julho. E em 25 de setembro desse mesmo ano, a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) inicia a luta armada com o ataque a Chai, em Cabo Delgado. Em novembro, o Edital de dia 26, coloca o o Furriel João Nunes Redondo, com a legenda «Morto na Guiné ao serviço da Pátria – 1963» e o Sargento José Paulo dos Santos com a a legenda «Morto em Angola ao Serviço da Pátria – 1963» em ruas de Olivais Norte.

Três anos passados, pelo Edital de 14 de junho acrescentam-se à toponímia lisboeta mais 3 Heróis do Ultramar – Rua Coronel Bento Roma (em Alvalade), Rua General Farinha Barão, Rua General Garcia Rosado (em Arroios) a que se vão somar pelo Edital de 4 de julho, 14 cidades e vilas de Moçambique em Olivais Sul.

A 10 de Abril de 1969, ainda em Olivais Sul, 11 cidades de Angola são feitas topónimos. No ano seguinte, pelo Edital de 31 de março, são homenageados dois médicos militares com a Rua Dr. Nicolau de Bettencourt/ Brigadeiro-Médico (Avenidas Novas) e a Rua Dr. José Baptista de Sousa/Coronel Médico (Benfica). E a 11 de julho são colocadas em Olivais Sul as guineenses cidades de Bafatá, Bissau e Bolama, bem como a cabo-verdiana Cidade da Praia, a timorense Cidade de Dili e a indiana Cidade de Margão.

A 9 de fevereiro de 1971, a zona de Olivais Sul vai ainda acolher a angolana Rua Cidade de Negage. E ainda nesse ano, o  Edital municipal de 15 de março, instalou a Avenida dos Combatentes a percorrer as freguesias de Alvalade, São Domingos de Benfica e Avenidas Novas, e o de 22 de junho, colocou mais 10 Heróis do Ultramar, falecidos em combate, em Olivais Velho, Benfica e Alcântara: Rua Major Figueiredo Rodrigues; Rua Alferes Mota da Costa; Largo Américo Rosa Guimarães; Rua Alferes Carvalho Pereira; Rua Alferes Santos Sasso; Rua Furriel Galrão Nogueira;  Rua José dos Santos Pereira; Rua José da Purificação Chaves; Rua Manuel Correia Gomes e a Rua Manuel Maria Viana.

Após o 25 de Abril de 1974, e sendo um dos 3 «Dês» do Programa do MFA o de Descolonizar, a toponímia de Lisboa também refletiu essa mudança alterando a denominação da Praça do Ultramar para Praça das Novas Nações, pelo Edital de 17 de fevereiro de 1975, o 2º edital de Toponímia da Câmara de Lisboa após o 25 de Abril.

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A Avenida e a Praça de Dom João II, o Príncipe Perfeito

Praça Príncipe Perfeito - Freguesia do Parque das Nações (Foto: Sérgio Dias)

Praça Príncipe Perfeito – Freguesia do Parque das Nações
(Foto: Sérgio Dias)

D. João II, «Príncipe Perfeito» de cognome, é topónimo de duas artérias do Parque das Nações, herdadas da Expo 98: a  Avenida D. João II, que corre paralela à Rua do Pólo Sul, e nasce na Praça Príncipe Perfeito para desembocar na Via do Oriente.

No âmbito da requalificação urbana resultante da Expo 98 «Os Oceanos: um património para o futuro», a Câmara Municipal de Lisboa oficializou pelo Edital de 16/09/2009 os topónimos escolhidos pela organização do evento para figurarem nos arruamentos no decorrer da exposição, já que na altura em que se tornaram território administrativo do concelho de Lisboa já possuíam prédios construídos e causaria transtornos e custos aos residentes a mudança de topónimo.

Esta herança toponímica que Lisboa acolheu integra referências aos oceanos, aos Descobrimentos Portugueses, aos aventureiros marítimos de diversas nacionalidades, da literatura e da banda desenhada, assim como figuras de relevo para Portugal, escritores portugueses ou obras suas de alguma forma ligadas ao mar e ainda, alguns biotopónimos.

Avenida D. João II - Freguesia do Parque das Nações (Foto: Sérgio Dias)

Avenida D. João II – Freguesia do Parque das Nações
(Foto: Sérgio Dias)

D. João II (Lisboa- Paço das Alcáçovas/03.03.1455 – 25.10.1495/Alvor), 13º rei de Portugal, de 1481 a 1495, filho de D. Afonso V e de D. Isabel de Coimbra, casou com sua prima direita D. Leonor de Viseu em 1471 e caracterizou o seu reinado pelo empenho em restabelecer a eficácia do poder central e restaurar as finanças públicas por um lado, enquanto por outro, defendeu a política de exploração atlântica, dando prioridade à busca de um caminho marítimo para a Índia, tanto mais que já desde 1474 dirigia a política atlântica de expansão portuguesa.

Foi D. João II que após ordenar as viagens de Bartolomeu Dias e de Pêro da Covilhã, e  na sequência da recusa em apoiar Cristóvão Colombo, delineou em 1494 o plano da primeira viagem à Índia para ser executada por Estêvão da Gama e negociou com os Reis Católicos o Tratado de Tordesilhas que dividiu o controlo do mundo entre Portugal e Espanha, já com o Brasil – oficialmente descoberto em 1500 – na metade portuguesa. A totalidade das descobertas portuguesas do reinado de João II permanece desconhecida já que muita informação foi mantida em segredo por razões políticas e arquivos desse período foram destruídos no Terramoto de 1755.

D. João II foi a efígie nas notas de mil angolares (do Banco de Angola) de 1 de junho de 1944, bem como das de 500 escudos do Banco de Portugal de 25 de janeiro de 1966.

A Avenida D. João II e a Praça Príncipe Perfeito - Freguesia do Parque das Nações (Planta: Sérgio Dias)

A Avenida D. João II e a Praça Príncipe Perfeito – Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua Bartolomeu Dias do Cinema Belém Jardim

O Cinema Belém Jardim na Rua Bartolomeu Dias em 1953 (Foto: Eduardo Portugal, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Rua Bartolomeu Dias estabelecida em Belém desde 1911, sobre a Rua do Bom Sucesso, acolheu em 1925 nos nºs 25 e 27 o Cinema Belém Jardim que funcionou como tal até ao ano de 1968.

A antiga Rua Direita do Bom Sucesso passou a  Rua do Bom Sucesso por Edital municipal de 8 de junho de 1889 e mais tarde, pelo Edital de 7 de agosto de 1911 ganhou a denominação de Rua Bartolomeu Dias. A legenda «Navegador/Século XV» foi colocada cerca de 46 anos depois, por proposta de 4 de junho de 1957 da Comissão Consultiva Municipal de Toponímia.

Em junho de 1925 abriu portas nesta artéria o Cinema Belém Jardim que veio a fechar em 1968, embora a partir de 1954  tenha sofrido com a concorrência do moderno Cinema Restelo, na Avenida Torre de Belém.  No entanto, encerrou no decorrer da II Guerra Mundial, para servir de depósito de cereais com destino à Suíça.  O Cinema Belém Jardim estava situado entre a fábrica de artigos de borracha Repenicado & Bengala que ocupava os nºs 21 e 23 e 29 a 33 do arruamento e este conjunto de edifícios da Rua Bartolomeu Dias foi demolido entre 1989 e 1990, por ocasião das obras para a construção do Centro Cultural de Belém.

Bartolomeu Dias no Museu Militar (Foto: José Pascoal)

Bartolomeu Dias no Museu Militar
(Foto: José Pascoal)

Bartolomeu Dias, descendente de Dinis Dias e sobre o qual se ignora onde e quando nasceu foi um navegador português, a quem D. João II entregou o comando de duas caravelas, para ir colher notícias do Prestes João, em 1486. Entre várias peripécias descobriu primeiro a angra dos Ilhéus (hoje, baía de Spencer) e o cabo das Voltas; a tripulação não quis passar além do que apelidaram Rio do Infante e a acabaram por dobrar o cabo  a que Bartolomeu Dias deu o nome de Tormentoso e D. João II substituiu por Boa Esperança (1487) . Já em 1500, Bartolomeu Dias acompanhou Pedro Álvares Cabral na viagem à Índia em que se descobriu o Brasil.

No âmbito da Expo 98  os arruamentos do evento ficaram com topónimos ligados aos oceanos pelo que quando o concelho de Lisboa recebeu este território passou a somar também o Largo Bartolomeu Dias ao Parque das Nações.

Freguesia de Belém (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Belém
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua da família de navegadores de apelido Corte Real

Freguesia de São Vicente (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de São Vicente
(Foto: Sérgio Dias)

A ligar a Rua Washington à Rua Franklim foi atribuída a Rua dos Cortes Reais, à Rua 5 do Bairro América, na época uma nova urbanização erguida na antiga Quinta das Marcelinas à Rua do Vale de Santo António, por deliberação camarária de 25 de novembro de 1918 e Edital municipal de 17 de outubro de 1924,

De igual forma foram preenchidas as restantes artérias do Bairro América com topónimos relacionados com o continente americano, quer com figuras republicanas de prestígio quer com portugueses considerados heróis pelas explorações que os levaram a esse continente: «Que se denomine Bairro America, o bairro em construção na Quinta das Marcelinas na rua do Vale de Santo Antonio e que os respectivos arruamentos tenham as designações seguintes: o nº 1, rua Franklin [Benjamin Franklin, estadista norte-americano fulcral na independência das 13 colónias inglesas para a construção dos estados americanos]; o nº 2, rua Washington [ o primeiro presidente dos Estados Unidos da América]; o nº3, rua Ruy Barbosa [político e jornalista brasileiro que defendia o princípio da igualdade das nações]; o nº 4, rua Bolivar [Simon Bolívar que combateu o domínio espanhol na América do Sul, comandando as revoluções que promoveram a independência da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia]; a nº 5, rua do Costa Reais [refere-se à Rua dos Cortes Reais, família de navegadores portugueses que empreenderam navegações para o continente americano]; o nº 6, rua Fernão de Magalhães [o primeiro navegador a fazer uma viagem de circum-navegação], e o nº7, rua Alvaro Fagundes[navegador português do século XVI que explorou a costa austral da Terra Nova]. Deliberação camararia de 25 de Novembro de 1918».

Tendo havido um engano no nome desta artéria aquando da publicação do Edital municipal de 17 de outubro de 1924 foi o mesmo corrigido pelo Edital de 2 de dezembro de 1927 especificando que «onde se lê ‘Rua de Costas Reais’, deve lêr-se ‘Rua dos Côrtes Reais’».

A Rua dos Cortes Reais em 1969 (Foto: João H. Goulart, Arquivo Municipal de Lisboa)

A Rua dos Cortes Reais em 1969
(Foto: João H. Goulart, Arquivo Municipal de Lisboa)

Vasco Anes da Costa, cavaleiro honrado de Tavira e contemporâneo do rei D. João I teve nos seus filhos a origem dos primeiros Corte Real, família distinta de navegadores dos séculos XV e XVI.

O seu filho João Vaz Corte-Real (Faro/c. 1420 – 1496/Angra do Heroísmo) ligou o seu nome ao descobrimento da Terra Nova, cerca do ano de 1472, o que o colocaria a desembarcar cerca de vinte anos antes de Colombo nas costas da América do Norte. Organizou ainda outras viagens que o terão levado até à costa da América do Norte, explorando desde as margens do Rio Hudson e São Lourenço até ao Canadá e Península do Labrador. Em 1474 foi nomeado capitão donatário de Angra do Heroísmo, cargo que acumulou com o da Ilha de S. Jorge, a partir de 1483.

Depois, três dos seus filhos com Maria da Barca – Gaspar Corte-Real, Miguel Corte-Real e Vasco Anes Corte-Real – continuaram o seu espírito de aventura tendo os dois primeiros desaparecido no seguimento de expedições marítimas, entre 1500 e 1502. Gaspar fez em 1500 a sua primeira viagem à Terra Nova, então chamada Terra Nova dos Bacalhaus ou Terra dos Corte-Reais e partiu  numa segunda expedição ao Continente Americano em 1501 e desapareceu. O irmão Miguel (nasceu cerca de 1450), partiu em 1502 em busca dele e também nunca mais foi visto.  O seu desaparecimento deu origem a pesquisas e teses controversas, como a do seu naufrágio nas costas da Nova Inglaterra, onde teria encontrado as populações índias e gravado em latim a epígrafe da  Pedra de Dighton em 1511, com escudos em V e cruzes idênticas às das caravelas portuguesa e os dizeres MIGUEL CORTEREAL pela vontade de DEUS aqui CHEFE dos ÍNDios 1511. O irmão Vasco Anes Corte Real (nasceu em   1465) foi proibido pelo rei D. Manuel  de procurar os irmãos, herdando os cargos do seu pai: alcaide-mor de Tavira e capitão da ilha de São Jorge.

João Vaz Corte-Real teve ainda as filhas Iria Corte Real ( nasceu em 1440), Joana Vaz Corte Real (nasceu em 1465 como o irmão Vasco), Isabel Corte Real e um outro filho, Lourenço Vaz Corte Real.

Freguesia de São Vicente (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de São Vicente
(Planta: Sérgio Dias)

A Avenida Álvares Cabral do Liceu Pedro Nunes

O Liceu Pedro Nunes em 1909 (Foto: Alberto Carlos Lima, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Liceu Pedro Nunes em 1909
(Foto: Alberto Carlos Lima, Arquivo Municipal de Lisboa)

O Liceu Pedro Nunes nasceu do traço do Arqº Miguel Ventura Terra em 1906, n’ «a Avenida que deve ligar o Largo da Estrella com o antigo Largo do Rato, hoje Praça do Brazil» com a denominação de Avenida Álvares Cabral dada pelo Edital municipal de 18/11/1910, e o Lyceu Central de Pedro Nunes abriu no dia 17 de novembro de 1911.

Miguel Ventura Terra delineou mais dois outros Liceus lisboetas, a saber, o Liceu Camões, construído entre 1907 e 1909 na Praça José Fontana, e o  Liceu  Maria Amália Vaz de Carvalho (1913) na Rua Rodrigo da Fonseca que por falta de verba durou tantos anos a ser construído  que acabou por ser concluído pelo Arqº António Couto.

Após a implantação da República em Portugal, o  1º Edital da edilidade lisboeta sobre toponímia foi em 5 de novembro de 1910, tendo sido atribuídos os topónimos Praça do Brasil ao Largo do Rato  e, Praça do Rio de Janeiro à Praça do Príncipe Real. A  circunstância de Hermes da Fonseca, Presidente da República Federativa do Brasil, tendo então o Rio de Janeiro como capital,  ter estado em Lisboa nos dias 4 e 5 de outubro, possibilitou ao Brasil a condição de ser o primeiro país a reconhecer o novo regime em Portugal. E assim ganha sentido que o 2º Edital  de toponímia da Câmara Municipal de Lisboa, datado de 18 de novembro de 1910 denomine a artéria que nascia na então Praça do Brasil com o nome do navegador português que oficialmente primeiro chegou às Terras de Vera Cruz: Pedro Álvares Cabral. Refira-se ainda que para a construção desta Avenida foi necessário demolir em 1930 o Teatro do Rato, conforme proposta aprovada por unanimidade do vereador Quirino da Fonseca na sessão de 9 de janeiro de 1930, onde se indicava que «Estando a ultimar-se a Avenida Alvares Cabral entre a Rua do Sol ao Rato e o Largo da Estrela, achando-se no leito dessa Avenida o Teatro do Rato, cuja construção a titulo precario foi autorisada em sessão de 9 de Março de 1922, tenho a honra de propôr que nos termos da clausula 2ª do respectivo contracto sejam intimados os concessionarios ou seus  representantes a demolir o referido teatro no prazo de 90 dias», bem como foram expropriados prédios da Travessa de Santa Quitéria, da Rua de São Bernardo, da Praça do Brasil e da Rua das Amoreiras.

Freguesias da Estrela e de Campo de Ourique (Foto: Sérgio Dias)

Freguesias da Estrela e de Campo de Ourique
(Foto: Sérgio Dias)

Pedro Álvares Cabral (Belmonte/1467 ou 1468 – 1520 ou 1526/Santarém), partiu de Lisboa em 9 de março de 1500,  ao comando da segunda armada para a Índia, com uma tripulação de experientes navegadores, como Bartolomeu Dias, Nicolau Coelho e Gaspar de Lemos, para além de padres, soldados e comerciantes. Intencional, como parece indicar a linha de repartição do Tratado de Tordesilhas, ou não, certo é que se desviou da rota para a Índia e arribou ao Brasil, após o que seguiu para a Índia a 3 de maio de 1500. Por este feito foi-lhe erguido um monumento no Rio de Janeiro e outro em Lisboa, justamente na Avenida que tem o seu nome e na Rotunda fronteira ao Liceu Pedro Nunes.

Finalmente, destacamos por ordem alfabética, os nomes de alunos do Liceu Pedro Nunes que também estão presentes na toponímia de Lisboa: Bento de Jesus Caraça, Carlos Botelho, o  Prof. Barahona Fernandes, Ribeirinho e o Ten. Coronel Ribeiro dos Reis. A que acrescem como professores desta escola, Rómulo de Carvalho ou António Gedeão e o Prof. Delfim Santos.

Freguesias da Estrela e de Campo de Ourique (Planta: Sérgio Dias)

Freguesias da Estrela e de Campo de Ourique
(Planta: Sérgio Dias)