A Guerra Colonial nascida há 56 anos, também no tabuleiro da Toponímia de Lisboa

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A Guerra Colonial que se iniciou há 56 anos, em fevereiro de 1961, para além de decorrer em Angola, Guiné e Moçambique até ao 25 de Abril de 1974 , também se jogou no tabuleiro da toponímia de Lisboa, onde o Estado Novo fixou as suas mensagens de defesa do Império Colonial.

Em 1947, os britânicos concederam a independência indiana e o primeiro-ministro indiano, Jawaharlal Nehru, exigiu a  integração da Índia Portuguesa na União Indiana. A resposta do Governo também foi dada através da Câmara Municipal de Lisboa, logo no ano seguinte, através do Edital municipal de 29 de abril de 1948, que colocou no Plano de Urbanização da Encosta da Ajuda, em Belém, as Praças de Damão, Dio e Goa, assim como mais 6 topónimos todos ligados à Expansão Portuguesa na Índia: a Avenida da Índia e a Avenida Dom Vasco da Gama, a Rua Soldados da Índia, a Rua Dom Cristóvão da Gama, a Rua Dom Lourenço de Almeida e a Rua São Francisco Xavier.

E nos anos sessenta e a edilidade lisboeta passa a contemplar na sua toponímia, como revelam as legendas dos topónimos, os «Heróis da Ocupação» e os «Heróis do Ultramar», nas freguesias que ainda tinham alguns arruamentos sem denominação e assim, na Ajuda passou a constar a Rua General Massano de Amorim/Governador Ultramarino/Herói da Ocupação, tal como na Ajuda e Belém ficou a Rua General João de Almeida/Herói do Ultramar (ambos os topónimos pelo Edital de 28/10/1960 ). A terminar o ano, pelo Edital 21/12/1960 , fixou-se em São Domingos de Benfica a Rua Major Neutel de Abreu/Herói do Ultramar.

O ano de 1961 começou com o assalto ao Santa Maria em 22 de janeiro, como forma de protesto contra a falta de liberdade cívica e política em Portugal, preparada por Henrique Galvão e Humberto Delgado e levada a cabo pelo primeiro com 20 elementos da DRIL (Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação) que o transformou em paquete Santa Liberdade, tendo as televisões e os jornais de todo o mundo divulgado o acontecimento. A edilidade atribuiu em 15 de fevereiro de 1961 o nome do piloto que faleceu nesse acontecimento, João Nascimento da Costa, numa rua do Beato, a que juntou nas proximidades, em junho a Rua Engº Maciel Chaves, com a significativa presença nestas inaugurações do então presidente da CML, António Vitorino França Borges, bem como divulgação na Revista Municipal.

Onze dias antes, a 4 de fevereiro de 1961, o MPLA (Movimento Popular e Libertação de Angola) tinha atacado a prisão de São Paulo e uma esquadra da polícia, em Luanda, tendo sido mortos 7 polícias, enquanto no norte de Angola, a UPA (União das Populações de Angola) desencadeou vários ataques contra a população branca e assim Angola foi o primeiro país a  iniciar a luta armada organizada contra o domínio português.

Ainda em 1961, pelo Edital de 10 de novembro, são colocados na toponímia alfacinha mais dois Heróis do Ultramar: a Rua General Justianiano Padrel na freguesia de S. Vicente e o Largo Alferes Francisco Duarte, na Penha de França.

E a 18 de dezembro, a União Indiana invadiu os territórios de Goa, Damão e Dio, quase sem resistência dos soldados portugueses face à disparidade das forças em contenda. Salazar tinha avisado o governador do Estado Português da Índia, General Vassalo e Silva por telegrama que «Não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, assim como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos». O General Vassalo e Silva  que aceitou a rendição só 53 anos depois teve o seu nome numa rua de Lisboa, em 2014.

A 23 de janeiro de 1963, a luta armada alargou-se à Guiné-Bissau, com o ataque do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) ao quartel de Tite, no sul do país. A partir do mês seguinte, pelo Edital de 13 de fevereiro de 1963, os arruamentos de uma nova urbanização, Olivais Norte, receberam os nomes de 4 militares, todos com a legenda «Morto em Angola ao Serviço da Pátria – 1961»: a Rua General Silva Freire, a Rua Alferes Barrilaro Ruas, a Rua Sargento Armando Monteiro Ferreira e a Rua 1º Cabo José Martins Silvestre.

A 9 de setembro, os Olivais Norte acolheram mais 2 mortos ao serviço da Pátria mas desta vez na Índia: a Rua Capitão Santiago de Carvalho/ Morto em Damão ao serviço da Pátria – 1961 e a Rua Capitão-Tenente Oliveira e Carmo/ Morto em Dio ao Serviço da Pátria – 1961. E ainda nesse ano, pelo Edital de 13 de dezembro, em São Domingos de Benfica, é atribuída a Rua Conde de Almoster/Herói do Ultramar/1858 – 1897.

Em 1964, na Freguesia do Beato, é atribuído o Largo Honório Barreto, em memória de um Governador da Guiné do séc. XIX lá nascido, pelo Edital de 23 de julho. E em 25 de setembro desse mesmo ano, a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) inicia a luta armada com o ataque a Chai, em Cabo Delgado. Em novembro, o Edital de dia 26, coloca o o Furriel João Nunes Redondo, com a legenda «Morto na Guiné ao serviço da Pátria – 1963» e o Sargento José Paulo dos Santos com a a legenda «Morto em Angola ao Serviço da Pátria – 1963» em ruas de Olivais Norte.

Três anos passados, pelo Edital de 14 de junho acrescentam-se à toponímia lisboeta mais 3 Heróis do Ultramar – Rua Coronel Bento Roma (em Alvalade), Rua General Farinha Barão, Rua General Garcia Rosado (em Arroios) a que se vão somar pelo Edital de 4 de julho, 14 cidades e vilas de Moçambique em Olivais Sul.

A 10 de Abril de 1969, ainda em Olivais Sul, 11 cidades de Angola são feitas topónimos. No ano seguinte, pelo Edital de 31 de março, são homenageados dois médicos militares com a Rua Dr. Nicolau de Bettencourt/ Brigadeiro-Médico (Avenidas Novas) e a Rua Dr. José Baptista de Sousa/Coronel Médico (Benfica). E a 11 de julho são colocadas em Olivais Sul as guineenses cidades de Bafatá, Bissau e Bolama, bem como a cabo-verdiana Cidade da Praia, a timorense Cidade de Dili e a indiana Cidade de Margão.

A 9 de fevereiro de 1971, a zona de Olivais Sul vai ainda acolher a angolana Rua Cidade de Negage. E ainda nesse ano, o  Edital municipal de 15 de março, instalou a Avenida dos Combatentes a percorrer as freguesias de Alvalade, São Domingos de Benfica e Avenidas Novas, e o de 22 de junho, colocou mais 10 Heróis do Ultramar, falecidos em combate, em Olivais Velho, Benfica e Alcântara: Rua Major Figueiredo Rodrigues; Rua Alferes Mota da Costa; Largo Américo Rosa Guimarães; Rua Alferes Carvalho Pereira; Rua Alferes Santos Sasso; Rua Furriel Galrão Nogueira;  Rua José dos Santos Pereira; Rua José da Purificação Chaves; Rua Manuel Correia Gomes e a Rua Manuel Maria Viana.

Após o 25 de Abril de 1974, e sendo um dos 3 «Dês» do Programa do MFA o de Descolonizar, a toponímia de Lisboa também refletiu essa mudança alterando a denominação da Praça do Ultramar para Praça das Novas Nações, pelo Edital de 17 de fevereiro de 1975, o 2º edital de Toponímia da Câmara de Lisboa após o 25 de Abril.

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