Manuel Maria Barbosa du Bocage, conhecido pelo seu espírito irónico e satírico, tem na sua relação com a toponímia de Lisboa também uma histórica algo jocosa que o fez migrar de Alcântara para a zona de Carnide-Lumiar.
Em 8 de julho de 1892 a Câmara Municipal de Lisboa deliberou na sua sessão de câmara a atribuição do topónimo Rua Bocage às Ruas nºs 7 e 8 do Bairro do Casal do Rolão. Na mesma deliberação e no mesmo bairro de Alcântara decidiram também fixar Gil Vicente (na Rua nº 9) e Filinto Elísio (Rua nº 2 ). Todavia, no final dos anos 80 supôs-se que a Rua Bocage e a Avenida Barbosa du Bocage, dedicada a um primo em segundo grau do poeta sadino, se referiam à mesma pessoa e resolveu-se eliminar do mapa alfacinha a Rua Bocage transformando-a pelo Edital de 29/02/1988 em Rua Amadeu de Sousa Cardoso.
E assim ficou Lisboa sem o seu Bocage mais de 8 anos, até o Edital de 24/09/1996 o recolocar no Impasse FG da Quinta dos Inglesinhos, à Avenida das Nações Unidas, desta feita para evitar equívocos e, por proposta de Appio Sottomayor na Comissão Municipal de Toponímia, como Rua Poeta Bocage/1765 – 1805.
Manuel Maria Barbosa du Bocage (Setúbal/15.09.1765 – 21.12.1805/Lisboa), «Magro, de olhos azuis, carão moreno», também conhecido como Elmano Sadino da Nova Arcádia (Academia literária fundada em 1790), viveu em Goa, Damão e Macau, até regressar a Lisboa em 1790, frequentar o Café Nicola no Rossio da cidade e, viver a partir de 1801 no n.º 25 da Travessa André Valente, ao Bairro Alto.
Bocage publicou apenas os três volumes das suas Rimas, de 1791 a 1804, embora os seus versos eróticos e burlescos tenham circulado abundantemente em edições clandestinas. As suas temáticas predominantes fixaram-se na desilusão amorosa e nas dificuldades materiais e pode Bocage ser considerado o maior poeta português do séc. XVIII.
Não é também menor a sua obra como tradutor, mesmo que menos conhecida. As suas versões de textos clássicos latinos, de autores como Virgílio e Ovídio, caracterizam-se por rigor e originalidade, o que também sucedeu nas suas traduções da língua francesa de escritores da época, como Voltaire, La Fontaine, Lesage, Florian, Lacroix, d’Arnaud, Delille e Castel.
Em 7 de agosto de 1797, o Intendente Pina Manique mandou-o prendê-lo por desrespeito ao rei e à Igreja, primeiro no Limoeiro (até 14 de novembro), depois nos calabouços da Inquisição no Rossio e a partir de 17 de fevereiro de 1798 no Real Hospício das Necessidades, a cargo dos Oratorianos, de onde só saiu em liberdade no último dia desse ano.
Autor unanimemente considerado como um vulto maior do arcadismo em Portugal, a produção literária de Bocage foi influenciada pelos ideais Iluministas, sobretudo de influência francesa, com os quais tomou contacto quando, com 18 anos, chegou a Lisboa. Integrou, assim, o Arcadismo, escola literária que reagiu aos excessos estilísticos e ao virtuosismo do barroco, trazendo novos temas (mais simples e acessíveis), redigidos numa linguagem mais clara e significativa, adequada ao público leitor a que se pretende dirigir, nomeadamente à burguesia urbana. Tal como em outros domínios, também a literatura foi permeável às “Luzes” e, influenciada pela razão, pela experiência e pelo espírito científico, contribuiu para perspectivar uma nova visão do mundo.
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