Capitão Cook

Captainjamescookportrait

A Rua Capitão Cook é uma herança toponímica da Expo 98, subordinada  ao tema Os oceanos: um património para o futuro, fixando o nome deste capitão da Marinha Real Britânica  que foi  o primeiro a mapear a Terra Nova e cujas realizações no mapeamento do Pacífico, Nova Zelândia e Austrália mudaram as visões da geografia mundial.

A Expo 98 nomeou os arruamentos do evento com topónimos ligados aos oceanos, a navegadores e aos Descobrimentos Portugueses, aos aventureiros marítimos da literatura e banda desenhada mundial, a figuras de relevo para Portugal, a escritores portugueses ou títulos de obras suas e ainda juntou alguns ligados à botânica. Após a reconversão da zona em Parque das Nações foram oficializados 102 topónimos  pelo Edital municipal de 16/09/2009, e mais tarde, pelo Edital municipal de 06/05/2015, foram oficializados mais 60 topónimos do Parque das Nações Norte, onde se inclui esta Rua Capitão Cook, que liga o Passeio dos Heróis do Mar à Via do Oriente.

James Cook ( Inglaterra – Marton-in-Cleveland/07.11.1728 – 14.02.1779/Kealakekua) foi um capitão da Marinha Real Britânica que pela primeira vez fez um mapa da Terra Nova. Em 1770, Cook partiu da Nova Zelândia para descobrir a costa oriental da Nova Holanda (hoje Austrália), que ainda não tinha sido visto por nenhum europeu. Daí, navegaram para norte e ancoraram na baía Botânica. Cook concluiu três viagens para o Oceano Pacífico nas quais conseguiu o 1º contato europeu com a costa leste da Austrália e o Arquipélago do Havai, bem como a 1ª circum-navegação registada da Nova Zelândia. Também os estudos etnográficos de Cook sobre os povos das ilhas do Pacífico, da Nova Zelândia e da Austrália transmitiram aos europeus do século XVIII uma 1ª visão dessas áreas pouco exploradas da Terra.

James Cook começou a trabalhar em navios-carvoeiros pelas costas inglesas e aprendeu matemática, hidrografia e navegação praticamente sozinho. Alistou-se em 1755  na Marinha Real Britânica, participou da Guerra dos Sete Anos e foi rapidamente promovido. Em 1757 já era dono do seu próprio navio (o Pembroke) e em setembro de 1759, esteve ao lado do Capitão Wolfe durante a conquista de Quebeque (hoje Canadá). De 1760 a 1767 realizou o levantamento cartográfico do rio São Lourenço, do canal de Orleans, da foz do rio Hudson, da costa da Terra Nova e de Labrador. Os mapas que reuniu e seu relato de um eclipse solar mostraram sua competência, tornando-o forte candidato a comandar expedições científicas a mando da Coroa Britânica. Considerado o pai da Oceânia morreu na baía havaiana de Kealakekua em luta com os nativos durante a sua 3ª viagem exploratória na região do Pacífico.

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Manuel de Azevedo Fortes

Manuel de Azevedo Fortes
(Foto: Estúdio Mário Novais © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

O  Engenheiro-Mor do Reino Manuel de Azevedo Fortes, considerado o pai da cartografia científica moderna portuguesa já que em 1722 publicou o seu Tratado do modo mais fácil e o mais exacto de fazer as cartas geográficas, está homenageado na toponímia de Lisboa, na Freguesia de Campolide, desde a publicação do Edital municipal de 05/12/1990, com a legenda «Engenheiro-Mor do Reino/1660 – 1749».

Esta artéria nasceu como Rua 12 do Bairro do Alto da Serafina (edital municipal de 15/03/1950 ), seguindo a tradição daquela época em atribuir nos bairros sociais apenas topónimos numéricos. Quase quarenta depois, pelo edital de 28/12/1989, passou à denominação de Rua do Andador das Almas, numa remodelação de toda a toponímia do Bairro da Serafina para designações consideradas populares mas a que os moradores reagiram com protestos intensos e a que a nova vereação então eleita reagiu acolhendo os anseios da população e pelo edital de 14/12/1990 renomeando as artérias do Bairro da Serafina com nomes de personalidades ligadas ao Aqueduto das Águas Livres.

E assim entra Manuel Azevedo Fortes (Lisboa/1660 – 28.03.1749/Lisboa) na toponímia de Lisboa. Foi ele o Engenheiro-Mor do Reino nomeado por D. João V em 23 de outubro de 1719 e esteve ligado ao projecto de construção do Aqueduto das Águas Livres, com Manuel da Maia e José da Silva Pais, tanto nos estudos preparatórios como nas medições da obra.

Esta figura maior do Iluminismo Português que estudara Filosofia em Alcalá de Henares, Paris e Sena – sendo o primeiro em Portugal a professar o cartesianismo -, bem como Teologia e Matemática em Paris, regeu durante 3 anos  a cátedra de Filosofia em Sena (Itália) e tornou-se professor de matemática na Academia Militar da Fortificação, em Lisboa, no período de 1695 a 1701. Em 1702 foi nomeado capitão de infantaria com exercício de engenheiro e, em 1735, foi nomeado sargento-mor de batalha. São obra sua, por exemplo, a reconstrução da povoação de Campo Maior destruída por um raio (em 1734) bem como a edificação dos paióis de Estremoz, Olivença, Elvas e Campo Maior e o plano parra a nova praça da Vila da Zibreira. Fez também parte do grupo de 50 académicos fundadores da Academia Real de História (1720), onde dirigiu os Estudos Geográficos, e publicou  Representação a Sua Majestade sobre a forma e direcção que devem ter os engenheiros para melhor servirem neste reino e suas conquistas (1720), os dois volumes de O Engenheiro Português (1728-1729), Evidência apologética e crítica sobre o primeiro e segundo tomo das ‘Memórias Militares’, pelos praticantes da Academia Militar desta côrte (1733) e Lógica Racional, Geométrica e Analítica (1734).

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Junto ao coreto de Carnide o arraial da Rua Neves Costa

Rua Neves Costa – Freguesia de Carnide

Junto ao coreto construído em 1927 no núcleo antigo de Carnide, na Rua Neves Costa – que por isso é conhecida popularmente como Largo do Coreto -, decorre até 29 de junho o Arraial do Carnide Clube, no âmbito das Festas de Lisboa 2019.

O Carnide Clube, sediado na Rua Neves Costa nºs 69-71, foi fundado em 11 de novembro de 1920, dia escolhido por ser justamente o Dia do Armistício. A fundação da associação ocorreu antes da participação de Portugal na I Guerra, com o seu primeiro auto de posse a ser assinado em 25 de abril de 1916, quando ainda se denominava Carnide Club Ciclista. Contudo, o envio de sócios como tropas portuguesas para a Primeira Guerra Mundial forçou o encerramento do clube no dia 1 de outubro de 1917. O fim da Guerra permitiu aos antigos sócios retomarem a dinamização do desporto em Carnide e assim retomaram o Carnide Clube, escolhendo por isso como data de fundação o dia do fim da Primeira Guerra, em 1918, que a partir daí passou a ser o Dia do Armistício.

Já a Rua Neves Costa era a antiga Rua Direita de Carnide que no ano seguinte à implantação da República, por Edital municipal de 7 de agosto de 1911, passou a homenagear o engenheiro militar natural de Carnide, com a legenda «Engenheiro Militar/1774 – 1841», mas que também comandara exércitos portugueses contra tropas espanholas e francesas em 1797 e que foi um pioneiro na cartografia militar portuguesa, a partir da qual concebeu a ideia da criação das Linhas de Torres Vedras.

José Maria das Neves Costa (Lisboa/14.08.1774 – 19.11.1841/Lisboa), filho de Josefa Maria Vieira e de Manuel Cláudio da Costa,  formou-se na Academia de Fortificação, Artilharia e Desenho e destacou-se como oficial do Real Corpo de Engenheiros pela execução da carta topográfica da área a norte de Lisboa, para garantir melhor defesa da capital portuguesa, por encomenda do Ministério da Guerra. Aliás, este levamento surgiu na sequência de uma exposição que havia feito em 26 de novembro de 1808,  aquando das invasões francesas, lembrando a importância do relevo do terreno a norte de Lisboa para a defesa da capital. Em 1810, trabalhou nas Linhas de Torres, às ordens do engenheiro inglês Fletcher e no ano seguinte, como Major do Real Corpo de Engenharia ofereceu a Carta Militar das Linhas de Torres Vedras ao Marechal Beresford.

Neves Costa havia sido comandante do Exército que lutou no Alentejo contra os espanhóis e franceses em 1797 e em 1802, foi nomeado para o Estado-Maior da fiscalização  das praças e fortes de fronteira e costas marítimas. Coube-lhe também o reconhecimento da fronteira do Alentejo, bem como a execução da carta da península de Setúbal (1813). Em 1806, foi escolhido pelo Visconde Sá da Bandeira para organizar o Arquivo Militar e, cinco anos depois, para dirigir os trabalhos de fortificação da praça de Almeida (1811).

Em 1822, foi eleito deputado liberal constitucional por Setúbal e no ano seguinte, foi nomeado ministro da guerra, por decreto de 28 de maio de 1823, mas não chegou a exercer por D. Miguel ter voltado ao poder. Tratou dos direitos e dos deveres do soldado perante a sociedade civil, em 1827, na sua Memoria sobre a organização e disciplina do exercito portuguez, em relação ao systema constitucional. Em 1835, a Câmara dos Pares incumbiu-o de propor um plano de reforma do sistema de pesos e medidas e introdução do sistema decimal, com o Visconde de Vilarinho de São Romão e Manuel Gonçalves de Miranda.

O Brigadeiro José Maria das Neves Costa,  foi consagrado como patrono do Centro de Informação Geoespacial do Exército pela sua importância para a cartografia militar e também o seu nome foi dado a uma Rua de Torres Vedras e a uma Travessa da Cova Piedade (Almada), para além de estar referido numa placa evocativa das Linhas de Torres.

Rua Neves Costa – Freguesia de Carnide

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A Avenida do Aeroporto que passou a Avenida Almirante Gago Coutinho

A Avenida do Aeroporto nos anos 50 do séc. XX
(Foto: Mário de Oliveira, Arquivo Municipal de Lisboa)

Ainda hoje se chama Avenida do Aeroporto à Avenida Almirante Gago Coutinho – em homenagem ao aviador entretanto falecido – mas quando se começou a pensar num aeroporto para Lisboa a artéria era conhecida como prolongamento da Avenida Almirante Reis e depois dele implantado, passou a denominar-se Avenida do Aeroporto para, volvidos 13 anos, ser designada como Avenida Almirante Gago Coutinho, topónimo que 23 anos mais tarde o escritor Mário de Carvalho colocou no título de uma obra sua – A inaudita guerra da Avenida Gago Coutinho e outras histórias (1983) – mesmo que meia dúzia de anos depois, em dezembro de 1989, a Avenida tenha sido encurtada para ceder uma parte à nova Alameda das Comunidades.

Na década de vinte do século Vinte começou a falar-se da necessidade de um aeródromo para Lisboa e a sua construção foi mesmo decidida em março de 1928, para a Portela de Sacavém, considerada a localização «ideal, dada a ausência de aglomerados urbanos circundantes e, simultaneamente, a proximidade do centro da cidade (5km) e do porto fluvial». Todavia,  só na década de trinta se começou a construir  o Aeroporto e só na década seguinte abriu ao tráfego, em 15 de outubro de 1942.

Cinco anos depois do Aeroporto estar em funcionamento, ponderando a edilidade atribuir o nome de Avenida do Aeroporto à primitiva Avenida Alferes Malheiro, a Comissão Municipal de Toponímia foi de parecer na sua reunião de 3 de fevereiro de 1947  que o topónimo fosse antes dado ao prolongamento da Avenida Almirante Reis, entre a Praça do Areeiro e o Aeroporto da Portela, o que se veio a concretizar pelo Edital municipal de 17/02/1947.

Nove anos depois, em 1956 o Aero-Club de Portugal sugeriu à Câmara atribuição do nome «Avenida Gago Coutinho – Sacadura Cabral» à Avenida do Aeroporto. Porém, a Comissão Municipal de Toponímia discordou porque « deverá seguir-se a orientação até agora adoptada de só se consagrarem na toponímia da cidade nomes de individualidades que tenham falecido há alguns anos, lembrando, entretanto, que o nome de Sacadura já se encontra atribuído a uma avenida da capital.»

Passados três anos,  em 18 de fevereiro de 1959 faleceu Gago Coutinho, e no dia seguinte o vereador Dr. Baêta Henriques interveio na reunião de Câmara para que  o nome de Gago Coutinho fosse dado à Avenida do Aeroporto e apesar da Comissão de Toponímia contrapor que  fosse «atribuído a uma praça ou avenida de maior projecção do que a Avenida do Aeroporto e, possivelmente, junto ao Tejo, na freguesia da Ajuda ou Alcântara, onde aquele ilustre homem de ciência nasceu e viveu a maior parte da sua vida e partiu para a grande viagem que lhe deu renome Universal» o Edital municipal de 2 de janeiro de 1960 mudou o topónimo Avenida do Aeroporto para Avenida Almirante Gago Coutinho, com a legenda «Sábio e Herói da Navegação Aérea». Finalmente, mesmo no final do ano de 1989 a Avenida Almirante Gago Coutinho ficou com menor dimensão, já que o troço desta Avenida compreendido entre a Praça do Aeroporto e o Edifício do Aeroporto de Lisboa passou a denominar-se Alameda das Comunidades Portuguesas, pelo Edital municipal de 9 de dezembro de 1989.

Gago Coutinho por Amarelhe, no Sempre Fixe de 27 de maio de 1926

Carlos Alberto Viegas Gago Coutinho (São Brás de Alportel ou Lisboa/17.02.1869-18.02.1959/Lisboa), registado na lisboeta freguesia de Belém como tendo nascido a 17 de fevereiro de 1869 e que durante largo tempo viveu na Madragoa, na Rua da Esperança, foi um almirante da Marinha Portuguesa, geográfo e cartógrafo que fez também incursões na História Náutica a partir de 1925,  que se notabilizou como pioneiro da aviação, sobretudo por ter realizado com Sacadura Cabral a 1ª travessia aérea do Atlântico Sul, entre Lisboa e o Rio de Janeiro, de 30 de março a 17 de junho de 1922, no hidroavião Lusitânia.

A partir de 1917, incentivado por Sacadura Cabral que entretanto conhecera em Moçambique, tentou adaptar à aeronavegação os processos e instrumentos da navegação marítima, tendo criado em 1919 o famoso sextante de bolha artificial que ostenta o seu nome,  comercializado pela empresa alemã Plath. E foi para testar essas ferramentas de navegação aérea que Sacadura Cabral e Gago Coutinho realizaram em 1921 a travessia aérea Lisboa-Funchal.

Membro do Grande Oriente Lusitano da Maçonaria Portuguesa, Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa e pela Faculdade de Engenharia do Porto, bem como Medalha de Ouro da Sociedade de Geografia de Lisboa, Gago Coutinho foi também agraciado com a Ordem Militar de Avis (1919, 1920 e 1926), a Ordem Militar da Torre e Espada (1922), a Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (1922), a Ordem do Império Colonial (1943), a Ordem Militar de Cristo (1947), para além de ser topónimo em inúmeras localidades portuguesas e brasileiras, de que mencionamos como exemplo Avenidas em Montemor-o-Novo e na brasileira de São Paulo; Largos em Carnaxide, Loulé, Sesimbra, Sines, Vila Viçosa; Praças no Barreiro, Mação, Moura, Sacavém e em Salvador da Bahia ou Santos; Ruas em Albufeira, Caldas da Rainha, Casal de Cambra, Coimbra, Faro, Lagos, Maia, Matosinhos, Montijo, Olhão, Pinhal Novo,  Quarteira, São Brás de Alportel, Setúbal, Vendas Novas, ou no Brasil em Campinas, Cuiabá, Curitiba, Londrina, Recife, Rio de Janeiro, São José do Rio Preto, São Paulo ou Uberlândia, para além de uma Rua na moçambicana Maputo e outra em Las Palmas, nas Ilhas Canárias; assim como Travessas na Covilhã,  Ermesinde, Marco de Canavezes, Nisa, Quinta do Conde, Trofa ou Valongo.

A Avenida Almirante Gago Coutinho nos dias de hoje – Freguesias do Areeiro e de Alvalade

A Rua de Lacerda e Almeida das fronteiras do Brasil e primeiras longitudes de África

Freguesia da Penha de França (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia da Penha de França
(Foto: Sérgio Dias)

No troço do Caminho de Baixo da Penha entre a Avenida General Roçadas e a Rua Jacinto Nunes está desde a publicação do Edital de 23 de março de 1954 a Rua Dr. Lacerda e Almeida, em homenagem ao matemático que integrou a comissão de delimitação das fronteiras do Brasil com a Bolívia e a Venezuela e enquanto governador de Tete, em Moçambique, procedeu a uma exploração onde definiu as primeiras longitudes em África.

Já em 1949 e depois em 1953,  a Comissão Municipal de Toponímia foi do parecer que se denominassem os arruamentos do Vale Escuro com topónimos relacionados com figuras que em África cumpriram a política portuguesa, quer por obra governativa quer por delimitação de fronteiras. E assim para além da Rua Dr. Lacerda e Almeida os outros topónimos sugeridos foram a Praça Aires de Ornelas, a Rua Artur de Paiva, a Avenida Coronel Eduardo Galhardo, a Rua Francisco Pedro Curado, a Praça João de Azevedo Coutinho, o Largo General Pereira de Eça, a Avenida Mouzinho de Albuquerque, a Praça Paiva Couceiro , a Rua Teixeira Pinto e a Rua Eduardo Costa.

Francisco José de Lacerda e Almeida (Brasil – São Paulo/22.08.1750 – 18.10.1798/Cazambe-Moçambique), filho de José António de Lacerda (de Leiria) e de Francisca de Almeida (de São Paulo) concluiu o curso de matemática na Universidade de Coimbra em 1776 e no ano seguinte concluiu o doutoramento, conseguindo em 1778 ser convidado para o serviço do Estado, como geógrafo, astrónomo e matemático. Neste contexto, integrou os trabalhos de demarcação das fronteiras entre Portugal e Espanha (1779), resultantes da assinatura do Tratado de Santo Ildefonso e seguiu depois para o Brasil (1780) para a delimitação das fronteiras com a Bolívia e a Venezuela, para além de ter executado levantamentos que podem ser classificadas como geográficos, para obter dados geodésicos, destinados a apoiar a cartografia da região. Fez ainda uma viagem de investigação dos rios Cuiabá, Paraguai, Taquari, Cochim, Camampoan, Pardo, parte do Paraná e todo o Tieté e regressou a Lisboa em 1790. 

Em setembro do ano seguinte passou a docente de Matemática na Real Academia dos Guarda-Marinhas, funções que exerceu até partir  para Moçambique em maio de 1797. Nesta época de explorações científicas, dentro do espírito do Iluminismo, Lacerda e Almeida queria seguir o curso do Zambeze, até à zona da nascente, para aí procurar a nascente do Cunene, que corria para a costa ocidental e iniciou a expedição em 3 de julho de 1798, no decorrer da qual contraiu malária, chegando o «Geral de Tete», como era conhecido, já bastante debilitado ao Cazembe em outubro, onde veio a falecer.  A sua expedição foi a  primeira a determinar longitudes em África por métodos astronómicos rigorosos, tendo os seus registos sido publicados em 1844 (Diário da viagem de Moçambique para os rios de Senna [na Zambézia] feita pelo governador dos mesmos rios Dr. Francisco José de Lacerda e Almeida).

Supõe-se que tenha sido eleito membro da Academia de Ciências de Lisboa, em 1791 ou 1795, mas nem todos os autores estão de acordo nesta questão.

Para além da rua que lhe foi dedicada em Lisboa 156 anos após o seu falecimento, o seu nome também se tornou topónimo na cidade Pontes e Lacerda no Estado do Mato Grosso (homenagem a Silva Pontes e Lacerda e Almeida); no Rio Lacerda e Almeida no Estado de Rondônia; na Ilha Lacerda e Almeida no Rio Paraná; assim como uma povoação moçambicana na margem direita do Zambeze recebeu em 1893 o nome de Lacerdónia.

 

Freguesia da Penha de França (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia da Penha de França
(Planta: Sérgio Dias)

 

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Manuel Godinho de Herédia, o cartógrafo da Península malaia dos tempos filipinos

Freguesia de Belém (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Belém
(Foto: Sérgio Dias)

Manuel Godinho de Herédia,  cartógrafo luso-malaio a quem o rei Filipe I nomeou como «Descobridor e Adelantado da Nova Índia Meridional», está desde a publicação do Edital municipal de 15/06/1960 na Rua 14 do Bairro de Casas Económicas da Encosta do Restelo.

O Bairro das Casas Económicas da Encosta da Ajuda começou por ter toponímia numérica nas suas 22 artérias, fixada pelo edital municipal de 03/12/1951, como era prática habitual nos bairros sociais. Cerca de nove anos depois, o  edital camarário de 15/06/1960 substituiu essas denominações em números por topónimos relativos a figuras da Expansão Portuguesa dos séculos XV a XVII e assim, a Rua 14 do Bairro de Casas Económicas da Encosta do Restelo passou a homenagear Manuel Godinho de Herédia (Malaca/1558 ou 1563 – c. 1623/Goa), por vezes também grafado como Manuel Godinho de Erédia ou como Emanuel Godinho de Erédia.

O ananás desenhado por Manuel Godinho de Heredia na sua Suma

O ananás desenhado por Manuel Godinho de Herédia na sua Suma

Herédia,  que foi educado pelos jesuítas, empenhou-se em descobrir a Austrália, que ele designava como «ilha do Ouro» e que já nas lendas malaias tinha um papel destacado, embora se ignore se concretizou ou não este plano. A sua ideia era de que a ilha do Ouro se encontrava a noroeste da Austrália que hoje conhecemos, alicerçado nas leituras que fizera de Ptolomeu, Marco Polo e Ludovico di Varthema, bem como nos relatos de viagens malaias coevas, acidentais ou deliberadas, ao sudeste de Timor. Em 1594, Filipe I nomeou-o «Descobridor e Adelantado da Nova Índia Meridional» e, por volta de 1602, o então vice-rei da Índia, Aires de Saldanha, até destacou navios e homens para a viagem de descoberta mas a eclosão de guerras locais levou a que Manuel de Godinho fosse chamado como soldado e engenheiro militar e supõe-se que mais não se terá avançado.

Certo é que foi professor de matemática e se dedicou à geografia e cartografia do Oriente, tendo delineado várias cartas das Índias Orientais e da Ásia, as plantas das praças conquistadas, e é muito possível que em Goa tenha conhecido o cartógrafo Fernão Vaz Dourado. Para além disto, registou os povos, animais e plantas dos locais que percorreu em texto e desenhos. Em Goa, também copiou as cartas que lhe chegavam por marinheiros e construiu um dos  primeiros levantamentos da península malaia. Deixou publicadas, entre outras, por vezes com a referência cosmógrafo-mor, as obras Miscelânea (1610), Plantas de praças das conquistas de Portugal, feitas por ordem de Rui Lourenço de Távora, vizo-rei da India (1610), Discurso sobre a Província do Indostan chamada Mogûl ou Mogôr com declaração do Reino gozarate, e mais Reinos de seu destricto (1611), Suma de Arvores e Plantas da India Intra Ganges (1612) onde apresenta um catálogo ilustrado das plantas do Sudeste Asiático, Declaracam de Malaca e da India Meridional com Cathay (1613), Carta da Ilha de Goa (1616), Livro de Plataformas das Fortalezas da Índia (c. 1620).

Freguesia de Belém (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Belém
(Planta: Sérgio Dias)

 

 

A Rua Capitão Cook , do 1º mapa da Terra Nova

Freguesia do Parque das Nações (Foto. Sérgio Dias)

Freguesia do Parque das Nações
(Foto. Sérgio Dias)

A Rua Capitão Cook é uma herança toponímica da Expo 98, subordinada  ao tema Os oceanos: um património para o futuro, fixando o nome deste capitão da Marinha Real Britânica  que foi  o primeiro a mapear a Terra Nova e cujas realizações no mapeamento do Pacífico, Nova Zelândia e Austrália mudaram as visões da geografia mundial.

A Expo 98 nomeou os arruamentos do evento com topónimos ligados aos oceanos, a navegadores e aos Descobrimentos Portugueses, aos aventureiros marítimos da literatura e banda desenhada mundial, a figuras de relevo para Portugal, a escritores portugueses ou títulos de obras suas e ainda juntou alguns ligados à botânica. Após a reconversão da zona em Parque das Nações foram oficializados 102 topónimos  pelo Edital municipal de 16/09/2009, e mais tarde, pelo Edital municipal de 06/05/2015, foram oficializados mais 60 topónimos do Parque das Nações Norte, onde se inclui esta Rua Capitão Cook, que liga o Passeio dos Heróis do Mar à Via do Oriente.

Captainjamescookportrait

James Cook ( Inglaterra – Marton-in-Cleveland/07.11.1728 – 14.02.1779/Kealakekua) foi um capitão da Marinha Real Britânica que pela primeira vez fez um mapa da Terra Nova. Em 1770, Cook partiu da Nova Zelândia para descobrir a costa oriental da Nova Holanda (hoje Austrália), que ainda não tinha sido visto por nenhum europeu. Daí, navegaram para norte e ancoraram na baía Botânica. Cook concluiu três viagens para o Oceano Pacífico nas quais conseguiu o 1º contato europeu com a costa leste da Austrália e o Arquipélago do Havai, bem como a 1ª circum-navegação registada da Nova Zelândia. Também os estudos etnográficos de Cook sobre os povos das ilhas do Pacífico, da Nova Zelândia e da Austrália transmitiram aos europeus do século XVIII uma 1ª visão dessas áreas pouco exploradas da Terra.

James Cook começou a trabalhar em navios-carvoeiros pelas costas inglesas e aprendeu matemática, hidrografia e navegação praticamente sozinho. Alistou-se em 1755  na Marinha Real Britânica, participou da Guerra dos Sete Anos e foi rapidamente promovido. Em 1757 já era dono do seu próprio navio (o Pembroke) e em setembro de 1759, esteve ao lado do Capitão Wolfe durante a conquista de Quebeque (hoje Canadá). De 1760 a 1767 realizou o levantamento cartográfico do rio São Lourenço, do canal de Orleans, da foz do rio Hudson, da costa da Terra Nova e de Labrador. Os mapas que reuniu e seu relato de um eclipse solar mostraram sua competência, tornando-o forte candidato a comandar expedições científicas a mando da Coroa Britânica. Considerado o pai da Oceânia morreu na baía havaiana de Kealakekua em luta com os nativos durante a sua 3ª viagem exploratória na região do Pacífico.

Freguesia do Parque das Nações (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua Comandante Fontoura da Costa, das tábuas náuticas e descobrimentos

Freguesia do Lumiar (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia do Lumiar
(Foto: Sérgio Dias)

Com a legenda «Investigador histórico e cartógrafo/1869 – 1940» foi o Comandante Fontoura da Costa colocado na toponímia de Lisboa, através do Edital de 13/11/1967, na via que era referenciada como Rua Terceira T.E. ou arruamento projetado entre a Estrada Militar e a Estrada do Desvio, ou ainda, arruamento B da Zona adjacente à Calçada de Carriche e Estrada do Desvio.

A Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa analisara em 16/05/1958 um ofício da Comissão Executiva do 5º Centenário da Morte do Infante Dom Henrique, solicitando que fossem atribuídos a arruamentos de Lisboa os nomes dos historiadores dos Descobrimentos Luciano Pereira da Silva, Professor António Barbosa, Comandante Fontoura da Costa, Comandante Quirino da Fonseca e Henrique Lopes de Mendonça. Mais tarde, em 22/05/1967, a Comissão tomou conhecimento de um pedido de Henriqueta Vasconcelos Sousa Coutinho para que o nome do Comandante Abel Fontoura da Costa fosse dado a um arruamento. E finalmente, na reunião da Comissão de 03/11/1967, ao analisar uma notícia do Diário de Lisboa, de 27 de Setembro, criticando a falta de denominação dos arruamentos construídos entre a Estrada do Desvio e a Estrada Militar, a Comissão considerou prematura a atribuição de nome aos arruamentos por se tratar de uma zona ainda em  fase de urbanização e sujeita a alterações e considerou apenas aconselhável denominar a Rua Terceira T.E., artéria na qual nasceu a Rua Comandante Fontoura da Costa.

Na Ilustração Portuguesa

Na Ilustração Portuguesa

Abel Fontoura da Costa (Alpiarça/09.12.1869 – 07.12.1940/Lisboa), foi um Oficial da Marinha que  logo em 1901 foi membro da Comissão de Delimitação de Fronteiras entre Angola e o Estado independente do Congo e durante largos anos ensinou na Escola Auxiliar da Marinha (1901 a 1913), como Professor da cadeira de Agulhas, Cronómetros e Navegação, sendo ainda Comandante Superior das Escolas de Marinha (1923). Foi também docente na Escola Náutica  (1924 a 1939), da qual foi  director de 1936 a 1939 tal como já havia sido diretor das Escolas Naval e  de Educação Física da Armada (1932). Publicou, entre outras obras, Aplicação das tábuas de estrada e logaritmos de subtracção do método de Ste Hilaire (1889), Tábuas Náuticas (1907), Marinharia dos Descobrimentos (1933), A Carta de Pêro Vaz de Caminha (1940) Roteiros portugueses inéditos da carreira da Índia do século XVI (1940) e La Science Nautique dês Portuguais à l’époque dês Découvertes (1941), para além de muitos artigos para os Anais do Clube Militar Naval de que se destaca «A Marinharia dos Descobrimentos». Fontoura da Costa também procedeu à compilação das obras completas de Pedro Nunes, à publicação do Roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama de Álvaro Velho e ainda organizou uma importante exposição de roteiros portugueses dos séculos XVI e XVII.

Fontoura da Costa desempenhou igualmente funções políticas enquanto governador de Cabo Verde (1915-1917) e Ministro da Agricultura e da Marinha, de 9 de janeiro a 18 de agosto de 1923. Representou Portugal no Congresso de Ciências Históricas de Zurique e foi ainda membro da Academia Portuguesa de Ciências e História e da Comissão organizadora do Museu Naval (1936), bem como presidente da Associação de Futebol de Lisboa, em 1910. Foi agraciado com a Comenda (1919) e o  Grande-Oficialato (1920) da Ordem Militar de Avis.

Freguesia do Lumiar (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias)

A Rua Capitão Renato Baptista, engenheiro da Manutenção Militar e da Carta de Lisboa de 1892

Freguesia de Arroios (Foto: Luís Pavão, 2011, Arquivo Municipal de Lisboa)

Freguesia de Arroios
(Foto: Luís Pavão, 2011, Arquivo Municipal de Lisboa)

Através do seu edital de 22/11/1900 a Câmara Municipal de Lisboa prestou homenagem ao Capitão Renato Baptista,  que foi quem em 1892 iniciou o levantamento da Carta da cidade de Lisboa que crescera nessa última década do século XIX, atribuindo o seu nome a um arruamento da cidade até aí designado por prolongamento da Vila Amâncio.

Na última década do século XIX, os limites da cidade de Lisboa já não eram os mesmos do início desse século, já que foram expandindo cada vez mais para Este, Oeste e Norte, situação que levou à necessidade de elaborar uma nova planta que abarcasse os novos limites da capital portuguesa. Foi este levantamento que se iniciou em 1892, por intermédio do engenheiro Renato Baptista. Mais tarde e após a sua morte, a Câmara Municipal de Lisboa adjudicou em 1904 trabalho semelhante ao engenheiro Júlio Silva Pinto, que os terminou em 1911. Já em 1891  o Capitão Renato Baptista comandara a primeira companhia do regimento de Artilharia destacado em Moçambique e no seu relatório África Oriental – Reconhecimento para os estudos do caminho de ferro da Beira a Manica efectuado em 1891, incluiu uma carta dos territórios de Manica e Sofala.

Joaquim Narciso Renato Descartes Baptista (Lisboa/ 05.10.1855 – 02.11.1900/Lisboa), capitão de engenharia desde 1884, lente da cadeira de Arquitetura da Escola do Exército, funcionário do gabinete do Ministro da Guerra e ajudante de campo do rei D. Carlos, foi responsável pela obra do quartel dos alunos da Escola do Exército e pelas reformas nas instalações daquele estabelecimento, assim como pela reconstrução e reconversão do antigo edifício conventual das freiras carmelitas ou Grilas para Manutenção Militar, em 1896-1897, tendo ainda escolhido os equipamentos para as várias fábricas de moagem, bolachas e padaria e oficinas, e publicado uma obra sobre esta matéria, intitulada Manutenção Militar.

O capitão Renato Baptista também traduziu para a língua francesa a Morgadinha de Valflor de Pinheiro Chagas e foi diretor da Associação dos Engenheiros e da Sociedade de Geografia, tendo  sido agraciado ao longo da vida com as Cruzes de Avis, Santiago, Cristo, a Legião de Honra francesa e o Mérito Militar espanhol.

Freguesia de Arroios (Planta: Sérgio Dias)

Freguesia de Arroios
(Planta: Sérgio Dias)

A Avenida de Manuel da Maia da «Carta Topographica da parte mais arruinada de Lisboa»

Freguesias do Areeiro e de Arroios (Foto: Sérgio Dias)

Freguesias do Areeiro e de Arroios
(Foto: Sérgio Dias)

A Avenida Manuel da Maia homenageia o autor da «Carta Topographica da parte mais arruinada de Lisboa», executada para permitir a reconstrução de Lisboa após o Terramoto de 1755, e que pelo Edital camarário de 25/11/1929 assinado pelo vice-presidente da Comissão Administrativa Carlos Mardel Ferreira assim ficou fixado na «Avenida Nº 3 prolongada com a Nº5, compreendida entre o Largo do Leão e a Rotunda a oriente do Bairro Popular do Arco do Cego [Praça de Londres]».

Avenida Manuel da Maia a óleo no Palácio de Queluz foto António Passaporte AML

Manuel da Maia (Lisboa/1677 – 17.09.1768/Lisboa) foi um engenheiro militar nomeado Engenheiro-Mor na época pombalina, em 1758. Era quem estava à frente dos engenheiros da Academia Militar da Corte e que procedeu ao levantamento de todos os bairros de Lisboa, para aferir das áreas mais sensíveis que precisavam de maiores intervenções, elaborando uma planta geral para a recuperação e reedificação de Lisboa, que estava praticamente em ruínas, a  Carta Topographica da parte mais arruinada de Lisboa na forma, em que se achava antes da sua destruição pra sobre ella se observarem os melhoramentos necessários, na escala de 100 varas [1:1100], abrangendo o sítio onde hoje encontramos o Largo do Corpo Santo e a Rua da Misericórdia até às Igrejas da Sé e de São Cristóvão, e para o norte até ao Largo Trindade Coelho e o Largo de São Domingos.

Manuel da Maia começara como engenheiro militar em 26 de maio de 1698 e foi incumbido em 1701 das fortificações de Lisboa, tendo reforçado a linha de fortes, desde Santa Apolónia até à Torre de São Julião da Barra e em 1718 apresentou a planta da cidade de Lisboa completa. Outra importante obra sua e que resistiu ao Terramoto foi o Aqueduto das Águas Livres cujos estudos lhe demoraram 6 anos e depois delineou, tendo também com Custódio Vieira dirigido a execução da obra, sucedendo-lhe como responsáveis José da Silva Pais, Rodrigo Franco, Carlos Mardel, Miguel Ângelo Blasco, Reinaldo Manuel dos Santos e Francisco António Ferreira. Foi também ele responsável pela construção da estátua equestre de D. José I, na Praça do Comércio.

Refira-se ainda que foi nomeado guarda-mor da Torre do Tombo, em 1745, onde organizou o corpo cronológico desde 1161 até 1698 e salvou o arquivo na altura do Terramoto, assim como traduziu obras de natureza militar e engenharia, por ser conhecedor de Latim, Italiano, Inglês e Francês.

Freguesias do Areeiro e de Arroios (Planta: Sérgio Dias)

Freguesias do Areeiro e de Arroios
(Planta: Sérgio Dias)