A Rua Augusta e a Praça do Comércio

A Rua Augusta e a Praça do Comércio antes de 1873
(Foto: © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

A Rua da Augusta Figura do Rei leva-nos a direito para a estátua do monarca que homenageia: D. José I, o soberano que inaugurou em Lisboa a prática da atribuição de nomes de ruas por decreto.

É dele a Portaria de 5 de novembro de 1760 no qual se estabelece a denominação dos arruamentos da Baixa lisboeta reconstruída sob o plano de Eugénio dos Santos e Carlos Mardel«entre as Praças do Comercio e a do Rocîo», ao mesmo tempo que se regulamenta a distribuição dos ofícios e ramos do comércio pelas diferentes 14 artérias: «Rua Nova d’El Rey  [hoje, Rua do Comércio], Rua Augusta, Rua Áurea, Rua Bella da Rainha  [hoje, Rua da Prata], Rua Nova da Princesa  [hoje Rua dos Fanqueiros], Rua dos Douradores, Rua dos Correeiros, Rua dos Sapateiros, Rua de S. Julião, Rua da Conceição, Rua de S. Nicolau, Rua da Victoria, Rua da Assumpção e Rua de Santa Justa».

Na Rua Augusta deviam alojar-se os mercadores da seda e da lã e, quinze anos depois, a 6 de Junho de 1775 foi colocada no enfiamento da artéria, na Praça do Comércio, a estátua equestre de D. José, feita por Machado de Castro. Quase um século mais tarde, em 1873, foi rematada a Rua Augusta com um Arco Triunfal, da autoria de Veríssimo José da Costa.

Esta rua, que faz a ligação entre as duas praças principais pré-terramoto, o Terreiro do Paço e o Rossio, ambas mantidas e realinhadas no plano de reconstrução da baixa da cidade, será o eixo central da malha urbana da Baixa que hierarquiza os arruamentos através da sua largura e tipologia dos edifícios e cujo rigor geométrico remete para a planificação e organização de estruturas militares. O planeamento, a racionalidade e o pragmatismo, valores intrínsecos ao Iluminismo, estão assim presentes como alicerces fundamentais da nova imagem que se pretendia para uma das mais movimentadas capitais europeias.

A visão perspética a partir do Rossio que conduz a uma Praça, a do Comércio, é fortemente cenográfica e ao gosto oitocentista que através desta tipologia definia espaços amplos de representação simbólica do poder. Classificada como Monumento Nacional em 1910 (Decreto n.º 136, de 23-06-1910), a nova Praça é considerada uma obra de referência do séc. XVIII na genealogia das suas congéneres europeias tendo um aspeto inovador: uma das suas faces é total e simbolicamente aberta sobre o rio Tejo.

O programa da Praça do Comércio, tipologicamente associado às “praças reais” francesas e à semelhança destas, previa desde o início a colocação de uma estátua do rei no centro geométrico de um triângulo equilátero no alinhamento da então Rua da Augusta Figura do Rei e que viria a ser a primeira estátua equestre realizada em Portugal. Cerca de 100 anos depois da sua inauguração, cujos festejos se adequaram à solenidade do momento, em 1873 foi terminado o Arco do Triunfo colocado a norte da Praça cuja construção estava prevista desde 1759 nos planos de reconstrução da baixa com desenho de Eugénio dos Santos e que enquadra cenograficamente a estátua. Ficava assim terminado um percurso de afirmação de poder expresso em diferentes momentos: a Rua Augusta e o Arco, a Praça do Comércio e Estátua do monarca D. José I.

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