Rua Julieta Ferrão, topónimo atribuído a um arruamento da freguesia das Avenidas Novas por Edital de 10 de Agosto de 1978
Julieta Bárbara Ferrão (1899-1974), conservadora dos Museus Municipais da Câmara Municipal de Lisboa. Pertenceu à Sociedade Nacional de Belas Artes, à Cruzada das Mulheres Portuguesas, à Associação Feminina Portuguesa para a Paz e ao Grupo Amigos de Lisboa. A vida de Julieta Ferrão está intimamente ligada à do museu Rafael Bordalo Pinheiro uma vez que era afilhada e sobrinha por afinidade de Artur Ernesto Santa Cruz Magalhães, coleccionador da obra daquele artista, colecção iniciada em 1895.
Ao longo da sua vida Cruz Magalhães reuniu originais, objectos pessoais, correspondência e periódicos de Bordalo, decidindo criar de raiz um museu dedicado ao artista. Assim, a partir de 1813 começa a criar o museu cujo plano inicial incluía três salas para a exposição da colecção, uma escola primária feminina e uma casa para a professora. Desde o início que Julieta participa no projecto ajudando o padrinho principalmente na aquisição de peças e convencendo outros coleccionadores a doá-las. A sua formação escolar fizera-se no ensino particular, tendo ainda aulas de violino e de escultura com Raul Xavier e crescera num ambiente imbuído de ideais republicanos, fazendo amizade com muitas das figuras femininas republicanas conhecidas, como Sara Benoliel, Ana de Castro Osório, Maria Lamas e Elina Guimarães, por exemplo. O museu é inaugurado a 6 de Agosto de 1916, tendo apenas as 3 salas previstas no projecto. Num dos registos de Ferrão assinala-se que em pouco mais de 4 anos, o museu recebera mais de 7000 visitantes e rendera uma quantia considerável que fora distribuída por várias associações filantrópicas, entre as quais a Cruz Vermelha e a Cruzada das Mulheres Portuguesas. Desde o início, Julieta Ferrão está à frente da instituição em parceria com Cruz de Magalhães e rapidamente se apercebe que o museu teria de crescer. Em 1919 contava já 9 salas e a ideia da escola feminina fora abandonada. Em 1920, cria-se o Grupo de Amigos Defensores do museu, do qual foi secretária, substituindo Cruz Magalhães sempre que necessário. Em 1922 publica a 1ª monografia sobre o museu, embora, já antes disso tivesse colaborado em vários periódicos. Em simultâneo, não descura a sua aprendizagem, tornando-se assinante de várias revistas europeias da especialidade, como, por exemplo, a Museum, ou a Musées et Monuments, ao mesmo tempo que realiza algumas viagens pela Europa conhecendo outros museus.
Em 1924, Cruz Magalhães doa o museu à Câmara Municipal, sendo condição da doação a manutenção de Julieta Ferrão como sua directora. Integrada nos quadros de pessoal da edilidade, Julieta dava assim início a uma carreira formal de conservadora. Dizia de si própria que sofria de “doença bordaliana, ou seja, de rafaelite aguda”, tal a sua dedicação ao museu e à figura de Bordalo. A sua obra será um reflexo dessa “doença”: Rafael Bordalo Pinheiro e a Crítica (1924); Guia do Museu Rafael Bordalo Pinheiro (1927) Rafael Bordalo Pinheiro e a Faiança das Caldas (1933). Nos seus relatórios sobre o museu não deixa de fazer uma análise crítica às necessidades do mesmo: pugna pela instalação de um alarme de incêndios, por uma maior segurança, pelo aumento de pessoal, e sobretudo pela aquisição de peças ainda em vida do último pintor que trabalha com o mestre Bordalo. Paralelamente organiza exposições, colabora em periódicos, como o Modas e Bordados, A Capital, O Século, Diário de Notícias, e Revista Municipal, entre muitos outros. Apesar de já exercer a função de conservadora de museu, ingressa no primeiro curso de Conservador, organizado por João Couto, director do Museu Nacional da Arte Antiga.
Em 1942 a Câmara Municipal, no seguimento de uma reorganização dos Serviços Culturais, cria o Serviço dos Museus Municipais, sendo Julieta Ferrão a primeira mulher a desempenhar esse cargo. A sua obra alarga-se para além de Rafael publicando Lisboa, Lisbon, Lisbonne (1952), A conquista de Lisboa por um caldense (1955), Vieira Lusitano (1956), colabora na Nova Colecção da Arte Portuguesa (1956) e Há 70 Anos (1962) ao mesmo tempo que organiza ou colabora na organização de dezenas de exposições dos museus municipais. Em 1969 reforma-se por ter atingido a idade máxima. Mas a Câmara viria a convidá-la, no ano seguinte, para integrar a Comissão Municipal de Toponímia, cargo que desempenhou até à sua morte e mais uma vez sendo a primeira mulher a integrar a comissão.
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