Joaquim Possidónio Narciso da Silva, arquiteto e arqueólogo de quem o olisipógrafo Júlio de Castilho foi biógrafo, ficou na memória das placas toponímicas de Lisboa desde o final do séc. XIX, logo no ano seguinte à sua morte (1897), na Rua da Fonte Santa, artéria onde em 1 julho de 1863 fundara o Albergue dos Inválidos do Trabalho e no mesmo ano em que com outros também fundara a Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses.
Foi por via da deliberação camarária de 6 de maio de 1897 e consequente Edital municipal de 17 de maio a Rua Possidónio da Silva nasceu no ano seguinte ao falecimento do homenageado, substituindo o topónimo Rua da Fonte Santa, por neste arruamento estar sediada a instituição que fundara seis anos antes para acolher operários idosos ou inválidos, o Albergue dos Inválidos do Trabalho que em 1978 foi incorporado na associação Inválidos do Comércio.
Joaquim Possidónio Narciso da Silva (Lisboa/07.05.1806 – 23.03.1896/Lisboa) distinguiu-se ao longo da sua vida como um defensor da preservação do património cultural português, quer através dos artigos que publicava nos jornais quer como precursor do ensino e da investigação arqueológica na salvaguarda e valorização do património histórico-artístico e monumental português. Aliás, Possidónio da Silva foi pioneiro em Portugal na utilização da fotografia como forma de defesa do património. A partir de 1861 editou a Revista Pittoresca e Descriptiva de Portugal, que incluiu fotografias de 26 elementos do património arquitétónico português.
Tendo participado em escavações, desde 1850 que se interessara pelos monumentos megalíticos em Portugal e escavou duas antas em Tomar. Depois, em 1858, D. Pedro V encarregou-o de fazer o primeiro levantamento dos monumentos nacionais. Em 1863 fundou a Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses, a que também presidiu até 1866 e novamente de 1871 até ao seu falecimento. É desta associação que vai nascer em 1866 um museu arqueológico, instalado nas ruínas do Convento do Carmo. Possidónio da Silva deu um curso gratuito de Arqueologia na sede da Associação e em 1878 publicou Noções Elementares de Archeologia, uma síntese dos métodos de escavação estratigráfica e setorial. Recorde-se que foi desta associação, da secção de Arqueologia Olissiponense, que nasceu o Museu da Cidade de Lisboa, instalado pela primeira vez na sede associativa em 1922.
Filho de Reinaldo José da Silva e de Maria Luísa Narcisa da Silva, Possidónio passou a sua juventude no Rio de Janeiro, para onde partira bebé com a família por causa da invasão napoleónica de 1807, já que o seu pai era Mestre Geral dos Paços Reais. Regressou em 1821 e estudou com Domingos Sequeira, Maurício Sendim e Germano de Magalhães, seguindo aos dezoitos anos para Paris para estudar Arquitetura e cinco anos mais tarde, para Roma. Em 1831 regressou a Paris e trabalhou no Palais Royal e no Palácio das Tulherias. Dois anos depois regressou a Portugal e publicou O que foi e é a architectura, e o que aprendem os architectos fora de Portugal. A seguir, tornou-se o arquiteto da Casa Real, tendo adaptado o Palácio de São Bento para Parlamento (1833-1834) pelo que foi condecorado com o Colar da Torre e Espada. Foi também autor dos projetos não concretizados do Palácio da Ajuda (1834) e de uns balneários públicos no Passeio Público (1835). Traçou também a remodelação do Palácio das Necessidades (1844-1846), do Palácio do Alfeite (antes de 1857), bem como do Teatro de São Carlos e do Palácio do Manteigueiro – na esquina da Rua da Horta Seca com a Rua da Emenda-, tendo ainda delineado muitos estabelecimentos comerciais da Baixa lisboeta dessa época e ainda, um bairro novo na quinta do Calvário.
Em 1882, o escultor francês Anatole Vasselot fez um busto de bronze de Possidónio da Silva mas este nunca permitiu a divulgação da sua imagem em nenhum meio até à sua morte e assim, este busto apenas foi inaugurado em 5 de julho de 1968, colocado sobre um pedestal de pedra na Praceta da Rua Possidónio da Silva. Em 1916, passou também a ser o topónimo de uma Travessa próxima da Rua Possidónio da Silva e o seu nome faz também parte da toponímia dos concelhos de Mem Martins e do Seixal (em Fernão Ferro). Júlio de Castilho coligiu e organizou cronologicamente a Correspondência artística e científica, nacional e estrangeira com J. Possidónio da Silva, documentação que encadernou e legou à Torre do Tombo em 8 de julho de 1915. O filho de Possidónio, Ernesto da Silva (1868 – 1913) também é topónimo de uma Rua e de um Largo lisboetas, na freguesia de Benfica.
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