A olisipógrafa Irisalva Moita numa Rua da antiga Quinta dos Alcoutins

Freguesia do Lumiar
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Irisalva Moita, a olisipógrafa e arqueóloga que durante mais de 20 anos dirigiu o Museu da Cidade de Lisboa, sempre trabalhando empenhadamente e com paixão pelo património de Lisboa, está na toponímia de uma artéria da antiga Quinta dos Alcoutins, na Freguesia do Lumiar, desde março do ano passado.

A Rua Irisalva Moita ficou na  Rua A à Quinta dos Alcoutins pelo Edital municipal de 17 de março de 2017 e pelo mesmo documento a edilidade colocou nos outros arruamentos da urbanização personalidades ligadas à cultura da cidade e do país, como o artista plástico Joaquim Rodrigo (Ruas B e B1), e os professores universitários padre Manuel Antunes (Rua I) e Isabel Magalhães Colaço (Rua C).

Irisalva Moita em 1960
(Foto: Armando Serôdio, Arquivo Municipal de Lisboa)

De acordo com Ana Cristina Leite (revista Rossio nº 1, maio de 2013), Irisalva Constância de Nóbrega Nunes Moita (Angola – Lubango/21.05.1924 – 13.06. 2009/Lisboa) distinguiu-se como arqueóloga, historiadora, olisipógrafa e museóloga. Desde muito nova que vivia em Lisboa, onde em 1949 se licenciou em Ciências Históricas e Filosóficas. Um dos seus primeiros interesses foi a arqueologia e como bolseira do Instituto de Alta Cultura, em Arqueologia, desde 1952, trabalhou em diversas escavações, tanto em Moura e Pavia como na Beira Alta. Associada ao Centro de Etnologia Peninsular,  de 1959 a 1972, levou a cabo um levantamento exaustivo dos castros portugueses. Irisalva Moita foi ainda pioneira das escavações arqueológicas em contexto urbano, como lhe aconteceu em Lisboa na do Hospital Real de Todos-os-Santos, por ocasião das obras do Metropolitano de Lisboa, em 1960, sendo a primeira grande ação de salvaguarda do património arqueológico urbano, bem como na Necrópole Romana na Praça da Figueira, no Teatro Romano (1966/67) na Rua de São Mamede e Rua da Saudade e na Casa dos Bicos.

Acresce que enquanto trabalhava no terreno como arqueóloga, ao longo dos anos 50,  Irisalva deu também aulas no ensino secundário e fez o curso de Conservador de Museus (1953/55) no Museu Nacional de Arte Antiga. A partir de 1958, após ingressar no quadro definitivo dos Museus Municipais de Lisboa, de que virá a ser conservadora-chefe de 1971 a 1994, Irisalva Moita centrou os seus interesses na olisipografia, através da história e do património da capital, construindo-se como figura de referência da Olisipografia.

Das exposições que concretizou no Palácio dos Coruchéus e no Palácio Pimenta, destaquem-se as do VIII centenário da chegada a Lisboa das Relíquias de São Vicente (1973),  santo sobre cujo culto em todo o país investigara; O Culto de Santo António, na região de Lisboa; Lisboa Quinhentista: a imagem e a vida na cidade (1979), uma mostra sobre o povo de Lisboa, tipos, ambiente, modos de vida, divertimentos e mentalidade; Lisboa e o Marquês de Pombal (1982), produzida no bicentenário da morte do Marquês de Pombal;  Azulejos de Lisboa ( 1984) na qual estiveram expostos muitos dos azulejos da coleção do Museu da Cidade, a segunda maior do país ;  Faianças de Rafael Bordalo Pinheiro (1985) ou até O abastecimento de água no tempo de D. João V (1990).  E para além dos catálogos de exposições, a vastíssima obra da Dr.ª Irisalva Moita, para além da coordenação d’ O Livro de Lisboa (1998), onde assinou os artigos «Das origens pré-históricas ao domínio romano: origens pré e proto-históricas» e «Lisboa no séc. XVI: a cidade e o ambiente», está quase toda dispersa por revistas da especialidade e atas de congressos.

Irisalva Moita sonhou criar uma área específica dedicada ao azulejo no Museu de Lisboa mas não chegou a concretizá-la. Como conservadora-chefe dirigiu o Museu da Cidade, o Antoniano e o de Rafael Bordalo Pinheiro, tendo transformado o modesto museu que existia no Palácio da Mitra no Museu de Lisboa, a partir do programa que elaborou entre 1973 e 1975, com um discurso cronológico e evolutivo da cidade.

Foi homenageada com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa no Dia Internacional dos Museus de 2008, assim como com a Ordem do Infante D. Henrique (2005), no grau de Grande Oficial.

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

3 thoughts on “A olisipógrafa Irisalva Moita numa Rua da antiga Quinta dos Alcoutins

  1. Pingback: No centenário da morte de Júlio de Castilho, fundador da Olisipografia, os seus seguidores na Toponímia de Lisboa | Toponímia de Lisboa

  2. XXXXXXXX
    Passou-me despercebida a atribuição de um topónimo à Dra. Irisalva. Se ainda estivesse na Comissão de Toponímia, teria aplaudido a ideia com entusiasmo. Além da grande mestra que foi, esta senhora mostrou grande simpatia para comigo, revelando interesse pelos meus escritos sobre Lisboa e incentivando-me a prosseguir.sem desânimos. Assim, fiquei grato pelo que com ela aprendi e pela boa vontade para com o “discípulo”.
    XXXXXXX

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