Do Alto das Pulgas às Escadinhas do Mirador de 17 de novembro de 1917

Freguesia da Ajuda
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O Alto das Pulgas na Ajuda, através do Edital municipal de 17 de novembro de 1917, passou a ter Escadinhas do Mirador como topónimo, por sugestão da Junta local.

Conforme se pode ler na Ata da Comissão Executiva da CML de 15 de novembro de 1917, a Junta de Paróquia da Ajuda pelo seu ofício nº 208, de 4 de setembro de 1917, solicitou à edilidade «que parte da rua do Mirador e uma parte da rua do Machado, vulgarmente conhecida pelo Alto das Pulgas, passe a denominar-se Escadinhas do Mirador e à Travessa de Sant’Ana, Travessa Aliança.» A Câmara deliberou a pretensão favoravelmente e assim foi publicado o Edital municipal de 17 de novembro de 1917 que atribuiu o topónimo Escadinhas do Mirador, arruamento que hoje podemos encontrar a ligar a  Rua do Mirador à Travessa do Moinho de Vento.

 

Este novo topónimo segue outros dois da zona, a Rua e a Travessa do Mirador que foram oficializados pelo Edital da CML de 26 de setembro de 1916, e sobre ele, o olisipógrafo Luís Pastor de Macedo defendeu, na sua Lisboa de Lés a Lés, que «Não há dúvida que o nome devia ser Miradouro e não Mirador. Vejamos por exemplo um passo das “Artes e Indústrias em Portugal no século XVIII”, de Vítor Ribeiro, onde se faz referência a uma notícia da “Gazeta de Lisboa” que fala na rua do Miradoiro, em Belém, e onde nos é apresentada uma célebre bordadora que morava nessa mesma rua (…) A mudança do nome de Miradouro para Mirador foi feita depois de 1890.»

Freguesia da Ajuda
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Ruas com miradouros

Rua do Mirante em 1902 (Foto: Machado & Souza, Arquivo Municipal de Lisboa)

Rua do Mirante em 1902
(Foto: Machado & Souza, Arquivo Municipal de Lisboa)

Ao contrário dos ponteiros do relógio, vamos de oriente para ocidente ao encontro dos miradouros que ainda estão registados na toponímia oficial de Lisboa.

Na freguesia de São Vicente está a Rua do Mirante, a  ligar a Calçada dos Cesteiros à Rua Diogo do Couto, firmado na tradição popular de denominar os arruamentos pelas suas características. Nas proximidades ficam o Beco do Mirante , o Outeirinho do Mirante e a Rua de Entre Muros do Mirante. Em todos estes topónimos se destaca a particularidade de um sítio mais alto com boas vistas e no  processo municipal 32548/71  que se socorre de uma planta de 1878, ficamos a saber que o hoje Outeirinho do Mirante se denominava então Altinho do Mirante. Apenas a Rua de Entre Muros do Mirante tem Edital, do Governo Civil de Lisboa, datado de 05/08/1867  e para acrescentar «do Mirante» à já antiga Rua de Entre Muros.

Ainda em São Vicente, no vulgarmente conhecido como Miradouro da Graça está o topónimo Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen, por se situar na proximidade da casa onde a poeta residiu.

Calçada do Mirante à Ajuda - Placa Tipo II (Foto: Sérgio Dias)

Calçada do Mirante à Ajuda – Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias)

A ocidente, temos ainda a Calçada do Mirante à Ajuda, situada num ponto alto da zona circundante do Palácio Nacional da Ajuda onde se pode encontrar o Jardim das Damas e a Sala da Física do Paço Velho, entre a Rua do Cruzeiro e a Calçada da Ajuda. Era a Rua do Mirante até o Edital de  26/09/1916 oficializar um conjunto de 55 topónimos que haviam sido herdados do  extinto Concelho de Belém, a pedido da Junta de Freguesia da Ajuda.

Finalmente, surge a Rua do Miradouro no Bairro Social de Caselas, uma das poucas com denominação própria atribuída pelo Edital municipal de 15/03/1950 neste Bairro. Para além da Rua do Miradouro,  Rua do Casal da Raposa, Rua do Gabarete, Rua do Gravato e Rua da Igreja, todas as outras artérias deste Bairro construído de 1944 a 1949 e inaugurado em 28 de abril de 1949 pelo Ministro do Interior, em comemoração do 21º aniversário da entrada de Salazar para o governo da nação, ficaram com denominação numérica.

Rua do Miradouro - Freguesia de Belém

Rua do Miradouro – Freguesia de Belém

 

 

O Miradouro de Sophia

Capa Sophia

Desde a publicação do Edital de 13/11/2008 que Sophia de Mello Breyner Andresen dá nome a um Miradouro da Freguesia de São Vicente, antes conhecido como Miradouro da Graça, e que teve honras de inauguração oficial há 5 anos atrás, no dia 2 de julho de 2009,  com a colocação também no local de um busto da poeta e da reprodução do seu poema «Lisboa».

A ligação ao Bairro da Graça desta poeta (como ela gostava de ser designada) advém de ter residido na Travessa das Mónicas nos mais de sessenta anos que viveu em Lisboa.

Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto/06.11.1919 – 02.07.2004/Lisboa) distinguiu-se na memória dos portugueses como a sua maior poeta, para além de ser a autora de diversos livros infantis que marcaram várias gerações.

Escreveu os seus primeiros poemas aos doze anos e publicou a sua primeira obra – Poesia – aos 23 anos (em 1944). Prosseguiu com uma produção literária de mais de duas vintenas de títulos de poesia, prosa e até ensaio, bem como de diversas edições de literatura infantil onde se destacam A Fada Oriana e A Menina do Mar, a que ainda soma as suas traduções de Claudel, Dante, Eurípedes ou Shakespeare.

Em 60 anos de vida literária, Sophia foi galardoada inúmeras vezes com prémios nacionais e internacionais, nomeadamente com o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores (1964), o Prémio Teixeira de Pascoaes (1977), o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação de Críticos Literários (1983), os Prémios D. Dinis da Fundação Casa de Mateus e Inasset-INAPA e o Grande Prémio de Poesia Pen Clube (todos em 1990), o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças (1992), a Placa de Honra do italiano Prémio Petrarca (1995), o Prémio da Fundação Luís Miguel Nava (1998), o Prémio Camões (1999), o Prémio Max Jacob-Poesia Estrangeira 2001 e, o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero Americana (2003), no que foi  o primeiro português e a primeira mulher a recebê-lo.

Sophia não se coibiu de ter intervenção cívica e de ser uma resistente contra o regime de Salazar, nomeadamente como membro fundador da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e erguendo a sua poesia como voz de Liberdade, especialmente com O Livro Sexto, de 1962. Três anos depois, também subscreveu o Manifesto dos 101 em que um grupo de católicos se assumia em oposição ao regime de Salazar. Após o 25 de Abril redigiu um poema para assinalar esse dia, o qual se encontra inscrito numa placa do Quartel do Carmo: Esta é a madrugada que eu esperava/O dia inicial inteiro e livre/Onde emergimos da noite e do silêncio/E livres habitamos a substância do tempo. Também logo em 1975, integrou o Conselho de Imprensa e foi eleita pelo Partido Socialista à Assembleia Constituinte, pelo círculo do Porto. Moveu-a sempre o combate pela dignidade o que a conduziu em 1991 a redigir um abaixo-assinado a favor da causa timorense  e, em 1998, um outro a apelar à interdição de minas antipessoais.

Lisboa comporta ainda outro topónimo que homenageia Sophia: a Rua  Menina do Mar, na freguesia do Parque das Nações.

Enamorados pelas ruas de Lisboa

pedro e inês coração 33

Sob o título «Enamorados pelas ruas de Lisboa» vamos hoje discorrer sobre os topónimos alfacinhas que a Lisboa de  hoje guarda nas suas ruas e que revelam  20 pares enamorados.

Desde logo, a Rua Pedro e Inês (Edital de 16/09/2009), na Freguesia do Parque das Nações, que evoca o casal icónico do amor português, popularizado também em Os Lusíadas: D. Pedro I e Dona Inês de Castro. Em função das estratégias e interesses políticos da época, D. Pedro I que reinou de 1357 a 1367, tinha desde tenra idade casamento agendado com D. Constança, princesa e filha do Infante de Castela, que chegou a Portugal em 1340, com um séquito que integrava uma aia galega chamada Inês de Castro e por quem D. Pedro se apaixonou deixando de lado as conveniências de Estado e as reprovações da corte que considerava aquela ligação indecorosa e temia a influência da família galega dos Castros na coroa portuguesa. O rei D. Afonso despachou D. Inês para um exílio próximo da fronteira Espanhola, em 1344, mas entretanto D. Constança faleceu pouco depois de dar à luz D. Fernando, e D. Pedro trouxe Inês para viver consigo no Paço de Santa Clara, tendo desta relação nascido D. Diniz, D. Beatriz e D. João. D. Afonso aproveitou a ausência de D. Pedro numa caçada e enviou três homens para decapitarem Inês de Castro ( 7 de Janeiro de 1355). D. Pedro declarou guerra ao pai e dois anos passados, com a morte D. Afonso e a sua própria subida ao trono promoveu a captura dos 3 assassinos de D. Inês, provou que casara com ela em Bragança e, mandou construir dois esplêndidos túmulos, frente a frente, no Mosteiro de Alcobaça para onde transladou o corpo de D. Inês e ao qual se juntou em 1367.

Mas Lisboa guarda ainda mais casais nas suas artérias, sendo a maioria ligada ao teatro. Por ordem cronológica de entrada em cena da figura feminina encontramos logo no Edital de 12/03/1932  a Rua Rosa Damasceno e a Rua Eduardo Brazão; a Rua Actriz Virgínia (31/03/1932) a a Rua Ferreira da Silva (12/03/1932);  a Rua Actriz Palmira Bastos (04/11/1970) e a Rua Sousa Bastos (20/03/1995) em Marvila;  a Rua Maria Lalande (Edital de  31/01/1978) e a Rua Francisco Ribeiro-Ribeirinho (24/04/1986); a Rua Laura Alves (29/02/1988) e a Rua do compositor Frederico Valério (30/07/1999);  a Rua Amélia Rey Colaço (21/08/1990) e a Rua Actor Robles Monteiro (09/02/1970), em Benfica; e, a Rua Brunilde Júdice (01/02/1993) e a Rua Actor Alves da Costa  (26/03/1971).

Ainda ligados a áreas de cultura e artísticas temos também  os Largos Madalena Perdigão e Azeredo Perdigão, ambos da direcção da Fundação Gulbenkian; a Rua da escritora Maria Amália Vaz de Carvalho e a Rua do poeta Gonçalves Crespo; a Rua da escritora Branca de Gonta Colaço e a Rua do pintor Jorge Colaço; a Rua da pintora Sara Afonso e a Rua do pintor e tudo Almada Negreiros;  o Miradouro da escritora Sophia de Mello Breyner Andresen e a Rua do jornalista Francisco Sousa Tavares; e, o caso único das ruas do casal de juristas Elina Guimarães e Prof. Adelino da Palma Carlos.

Independentemente do maior ou menor grau de enamoramento, Lisboa mostra ainda pares reais: o Largo Dona Estefânia (também com uma Rua e uma Travessa) e a Rua D. Pedro V; a Rua de Santa Isabel (ou o Largo Rainha Santa Isabel) e a Rua de D. Dinis – O Lavrador; a Rua Dona Maria Ana de Áustria e a Rua D. João V;  a Rua Maria Pia e a Rua Dom Luís I (também com uma Praça); a Avenida Rainha Dona Leonor e a Avenida D. João II (ou a Praça Príncipe Perfeito); e, a Avenida Rainha Dona Amélia e a Avenida Dom Carlos I (mais a Esplanada D. Carlos I ao Parque das Nações).

Finalmente, referimos mais 3 casais que a toponímia lisboeta já integrou mas que entretanto se desfizeram por desaparecimento da artéria ou do topónimo de um dos cônjuges: a recém-desaparecida Rua Maria Helena no Bairro da Cruz Vermelha, em 2006 e, a ainda existente Avenida Marechal António de Spínola ( 23/04/2004); a Rua Bela da Rainha – evocativa da Rainha D. Mariana Vitória –  que desde 5 de Novembro de 1910 se designa Rua da Prata e a Rua Augusta que se refere a D. José I; e, a Praça Rainha Dona Filipa ( 10/11/1966) no Lumiar e a Avenida D. João I que apesar de atribuída em Edital de 1932 nunca teve execução.

Freguesia do Parque das Nações

Freguesia do Parque das Nações