Régio, «As Encruzilhadas de Deus» e a Alameda António Sérgio

Publicado em 1936
(Imagem: © CER)

José Régio publicou em 1936 As Encruzilhadas de Deus, com capa e desenhos do seu irmão Júlio, nas Edições Presença – Atlântida de Coimbra e enviou esta obra a António Sérgio que lhe retribuiu com o seu parecer, em carta datada de 21 de setembro de 1936, escrita na Pensão Colaço de Alcoentre, sendo sabido que os dois escritores se corresponderam entre 1933 e 1958.

Desde a estreia de Régio em 1926 com Poemas de Deus e do Diabo, que o poeta vilacondense terá delineado manter a temática religiosa e foi assim reunindo os poemas que produzia neste âmbito, para intitular «Novos Poemas de Deus e do Diabo» mas de que acabou por resultar cerca de dez anos o novo título de 1936, por muitos considerado uma obra-prima com a sua poesia torrencial, reflexiva, lírica e dramática. Também em 1926, de  23 a 26 de abril, realizaram-se na Lusa Atenas sessões de divulgação da Seara Nova, dinamizadas por António Sérgio, a que  José Régio assistiu tendo depois colaborado na revista até 1940, ano em que António Sérgio e Mário de Azevedo Gomes abandonaram a da revista embora António Sérgio tenha regressado em 1947 e Régio em 1949, no n° 1116, de 28 de maio de 1949. Nesse ano de 1949, José Régio escreveu o artigo «O recurso ao medo», anunciado pelo jornal República de 16 de Janeiro, acabando por ser publicado num pequeno volume de 64 páginas dos Serviços Centrais da Candidatura de Norton de Matos, com o título genérico de «Depoimento contra Depoimento», numa clara alusão ao discurso «O meu Depoimento», de Salazar, de 7 de janeiro de 1949, no Palácio da Bolsa do Porto.

(Foto: © CER)

António Sérgio, cujo cinquentenário da morte passa este ano, deu nome à Alameda António Sérgio na Freguesia de Santa Clara, onze anos após o seu falecimento, artéria que liga a Rua Jorge de Sena à Rua Vitorino Nemésio, atribuída através da publicação do Edital municipal de 23 de abril de 1980, na via identificada urbanisticamente como Impasse 1 e 2 da Quinta de Santa Clara à Ameixoeira.

António Sérgio de Sousa Júnior (Índia – Damão/03.09.1883 – 12.02.1969/Lisboa) foi um importante pensador do século XX, que em Portugal lançou a ideia do Cooperativismo, mas cuja vasta obra abarca também a teoria do conhecimento e a filosofia política, a pedagogia e a filosofia da educação, assim como a filosofia da história. Radicado em Lisboa desde 1893,  estudou no Colégio Militar, na Escola Politécnica e na Escola Naval, tendo sido oficial da Marinha Portuguesa até 1910.

A partir da implantação da República em 1910, António Sérgio dedicou-se ao mundo editorial, como colaborador da revista Águia (1910), onde conheceu Teixeira de Pascoais e Fernando Pessoa, para no ano seguinte ser o diretor da revista Serões. Em 1918-1919 ( durante o consulado sidonista), fundou e dirigiu a revista Pela Grei, para a qual convocou diversos especialistas para apresentar um programa de Fomento Nacional; a partir de 1923, colabora na revista Seara Nova, como membro da direção  com Raúl Proença e Jaime Cortesão, sendo assim convidado para ministro da Instrução no governo de Álvaro de Castro, onde se manteve apenas dois meses, tempo que lhe foi suficiente para criar o ensino para deficientes, o cinema educativo e o Instituto Português para o Estudo do Cancro (decreto de 29/12/1923).

Integrou também o grupo da Biblioteca Nacional a partir do qual  lançará em 1924 a revista Lusitânia (1924), sendo  mais tarde o diretor da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Depois, residiu na Travessa do Moinho de Vento, no Bairro da Lapa, de 1926 a 1969,  numa habitação traçada pelo Arqt.º Raúl Lino, com excepção do exílio parisiense de 1926 a 1933.

Por outro lado, António Sérgio para além de teórico de pedagogia foi também professor, quer ao ministrar lições particulares na residência de alunos durante o exílio parisiense – após a subida ao poder de António Oliveira Salazar e, de onde passou para Madrid, até ter sido abrangido por uma amnistia- quer em Portugal, como docente de português no Liceu  Pedro Nunes e da Universidade de Santiago de Compostela, em 1932.

Da sua vasta obra destaquem-se Notas sobre os Sonetos e as Tendências Gerais da Filosofia de Antero de Quental (1909), Educação Cívica (1915), Bosquejo da História de Portugal (1923), O Desejado (1924), O Seiscentismo (1926), História de Portugal (1926), Cartesianismo Ideal e Cartesianismo Real (1937), Introdução Actual ao Problema Cooperativista (1937), Antero de Quental e António Vieira (1948), Antologia Sociológica (1956), oito volumes de Ensaios (1920-1958) e Democracia (edição póstuma em 1974).

A título póstumo foi agraciado com a Ordem da Liberdade (Grande Oficial em 30 de junho de 1980) e a Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (Grande Oficial em 3 de agosto de 1983) e nessa mesma década, a sua casa da Lapa, passou a servir a Biblioteca do INSCOOP e a Biblioteca António Sérgio, para além do seu nome ser o de um Prémio Cooperação e Solidariedade que a CASES criou em 2012 para distinguir pessoas singulares ou coletivas na Economia Social.

Na sua vida pessoal, António Sérgio casado com Luísa Epifâneo da Silva que chegou a assinar escritos pedagógicos como Luísa Sérgio.

Carta de António Sérgio a José Régio (Foto: © CER)
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A Rua José Cardoso Pires e o italiano Peeta no 3º Festival de Arte Urbana de Lisboa – MURO’19

PEETA na Rua José Cardoso Pires
(Foto: © José Vicente, 2019 |DPC |DMC |CML )

A passagem que da Rua José Cardoso Pires dá acesso a um pátio que desemboca na Alameda da Música será o alvo da intervenção artística do italiano Peeta, no âmbito do MURO’19 – 3º Festival de Arte Urbana de Lisboa, mostrando a ilusão de tridimensionalidade que caracteriza a sua obra.

Radicado em Veneza, Peeta é o nome artístico de Manuel Di Rita, pintor e escultor que desde 1993 se dedica à Arte Urbana, usando figuras geométricas e letras para criar estruturas mais complexas num estilo de tridimensionalidade ilusória, revelando a ilusão da percepção humana, a falácia de pontos de vista estreitos, sendo de destacar os trabalhos que já realizou em Itália -Agropoli, Bolonha, Gemona, Milão ou Turim -, Vancouver (Canadá), na Catalunha, em Chicago, Atenas, Bristol (Reino Unido) ou Borås (Suécia). Na escultura, usa o pvc através de um software profissional de design 3D, a fibra de vidro e o bronze como materiais. Na pintura, executa telas em acrílico e óleo, quer com pincéis quer com aerógrafo.

Freguesia do Lumiar – Placa Tipo IV

Desde a publicação do Edital de 18 de novembro de 2003 que José Cardoso Pires, que a si se definia como alfacinha de coração, ficou a ser o topónimo da Rua D da Malha 15 do Alto do Lumiar, a ligar a Avenida Álvaro Cunhal à Avenida David Mourão-Ferreira.

José Augusto Neves Cardoso Pires (Vila do Rei-aldeia de S. João do Peso/02.10.1925 – 08.07.1998/Lisboa), filho de Maria Sofia Cardoso Pires Neves  e de José António das Neves, distinguiu-se nas letras portuguesas quer no jornalismo, quer na dramaturgia, no romance ou no ensaio. Em 50 anos de atividade literária iniciada em 1948 com Caminheiros e outros contos, sobressaem títulos como Histórias de Amor (1952) que foi apreendido pela PIDE, a peça O Render dos Heróis (1960), o ensaio Cartilha do Marialva (1960), a novela O Hóspede de Job (1963) consagrada com o Prémio Camilo Castelo Branco, O Delfim (1968), Dinossauro Excelentíssimo (1972), Balada da Praia dos Cães (1982) que foi Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores,  Alexandra Alpha (1987) que obteve o Prémio Especial da Associação de Críticos de S. Paulo, ou De Profundis, Valsa Lenta (1997) ou o seu póstumo Lavagante (2008).

Cardoso Pires veio morar para Lisboa com poucos meses de idade, para o n.º 7 da Rua Carlos José Barreiros, em Arroios,  e esta foi a sua cidade do coração, a quem dedicou inúmeras páginas e mesmo uma obra inteira – Lisboa, Livro de Bordo (1997)- para além de ter exercido as funções de Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, em 1975. Estudou no Liceu Camões e na Faculdade de Ciências; fundou com Victor Palla a coleção de bolso «Os Livros das Três Abelhas» (1949) bem como dirigiu as Edições Artísticas Fólio (1954); foi professor de Literatura Portuguesa e Brasileira no King’s College da Universidade de Londres (1969 a 1971); foi jornalista no Diário PopularDiário de LisboaO Jornal e nas revistas Eva, Almanaque ou &etc. Viveu Lisboa desde o Café Herminius à Cervejaria Portugália, dos bilhares da Almirante Reis  à casa de jogo clandestina do carvoeiro da Rua José Estêvão, do Café Chiado ao Monte Carlo, do Toni dos Bifes à Pastelaria Joaninha (junto ao Jardim Constantino) ou o bar Procópio, na companhia de tantos como Abelaira, Alexandre O’Neil,  Carlos de Oliveira, CesarinyEduardo Prado Coelho, Gastão da Cruz, Herberto Helder, José Gomes FerreiraLuiz Pacheco,  Manuel da Fonseca, Pedro Oom ou Vespeira.

Democrata empenhado na luta contra a opressão, com Alçada Baptista, Miller Guerra, Lindley Cintra, Joel Serrão, José-Augusto França, Nuno Bragança e Nuno Teotónio Pereira, constituiu em 1966 o núcleo português da Association Internationale pour la Liberté de La Culture e em 1985 foi agraciado com a Ordem da Liberdade, assim como em 1989 com  a Grande Cruz de Mérito Cultural. Na sua vida pessoal, casou em 1954 com a enfermeira Maria Edite Pereira – a quem chamava Esquilo-  de quem teve duas filhas, a Ana e a Rita.

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Shegundo Galarza e a Sons da Lusofonia no Muro’19

O compositor basco Shegundo Galarza e a Sons da Lusofonia vão partilhar o espaço do Muro’19, 3ª edição do Festival de Arte Urbana de Lisboa, desta feita com a inspiração da música que a toponímia local evoca –  com a Alameda da Música, as fadistas Maria Alice, Maria do Carmo Torres e Maria José da Guia ou nomes da  música clássica como Arminda Correia ou Tomás del Negro-, fazendo a ligação da arte urbana a sonoridades, na vontade expressa da Galeria de Arte Urbana de Lisboa|GAU de apostar na divulgação de abordagens artísticas experimentais e inovadoras.

Criada em 1996, a Associação Sons da Lusofonia partiu do saxofonista português Carlos Martins e da sua experiência musical, com o intuito de juntar artistas de diversas origens- em especial, africanos, brasileiros e portugueses – em vários agrupamentos dos quais se destaca a Orquestra Sons da Lusofonia. A Associação procura ainda aliar a intervenção social e a educação global à música, assim como à relação entre comunidades, pessoas e artes,  numa ampla área de intervenção de  Criação de Projetos Culturais, Festivais, Cooperação cultural e técnica, Educação Global através da música, Criação e produção de suportes de comunicação, Investigação em Etnomusicologia e Promoção de espetáculos.

A Associação Sons da Lusofonia tem marcado o seu percurso através de cruzamentos interdisciplinares e pessoas de diferentes geoculturalidades e neste âmbito produz anualmente a Festa do Jazz, a OPA- Oficina Portátil de Artes, a Lisboa Mistura, assim como desenvolveu o Portugal em Jazz, para além de editar discos e livros. Em 2007, realizou ainda para televisão o programa Lisboa Mistura TV, da autoria de Carlos Martins.

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Shegundo Ramón Galarza Arace (Espanha – Guipuzcoa/07.09.1924 – 04.01.2003/Lisboa), maestro e compositor de origem basca, filho único de um comerciante, começou a residir em Lisboa a partir de 1948 e em mais de 50 anos de carreira deixou uma marca de qualidade na música ligeira portuguesa que justificam a sua presença desde a publicação do Edital municipal de 15 de dezembro de 2003 como topónimo no núcleo dedicado à toponímia musical, no arruamento formado pela junção da Rua B com a  Rua 7.1 do Alto do Lumiar, pelo que hoje une a Avenida Álvaro Cunhal  à Rua Ferrer Trindade.

Com a sua orquestra de violinos, Shegundo Galarza esteve presente na televisão portuguesa desde o seu começo e celebrizou o restaurante Mónaco, de que era coproprietário com o empresário galego Manuel Outerelo Costa.

Shegundo Galarza concluiu o conservatório de Bilbau,  ganhou um prémio de piano e aos 18 anos começou a percorrer a Europa em concertos. Chegou a Portugal com 24 anos de idade e a partir de 25 de novembro de 1948 passou a atuar diariamente no Casino Estoril, situação que manteve até maio de 1950. Na década de cinquenta também tocou em diversos restaurantes portugueses, nos de Luanda e da então Lourenço Marques (hoje Maputo), bem como de Joanesburgo (1952 -1954), até se estabelecer  junto à Marginal, no Restaurante Mónaco (de novembro de 1956 a 1974), local que introduziu o jantar dançante em Portugal.

Em paralelo, Shegundo Galarza integrou prestigiadas orquestras ligeiras portuguesas e teve a sua, para além de um conjunto em nome próprio. Por via do maestro José Atalaya, logo em 1956 foi convidado pela RTP a protagonizar um programa semanal, com a sua orquestra de violinos, que atingiu 100 emissões. Ao longo da sua carreira colaborou com a RTP quer em programas de música quer em arranjos musicais de várias longas metragens e de centenas de documentários.

Gravou os seus três primeiros discos para a editora Melodia (1951) com temas de Frederico Valério e seus; mais seis para a editora Decca  (1952 -1954) e assinou a gravação de quatro com a editora Estoril, para além de ter gravado  Fado Rossio para a Fonomat, de Lisboa,  em 1959. Como solista ou com a sua orquestra de violinos, gravou cerca de 50 discos em Portugal e Espanha, para editoras como a Alvorada, BelterEstoril, Marfer, Orfeu, RCA, Roda e Voz do Dono. Em 1996, Shegundo Galarza gravou um disco em que interpretava, ao piano, temas como Lisboa AntigaMadeiraAçoresMoçambique, Aldeia da Roupa Branca e em 2001 editou Sorrisos do Tempo.

Como orquestrador,  Shegundo Galarza trabalhou para o Festival Eurovisão da Canção ou da OTI – tendo dirigido a orquestra da Eurovisão para Playback de Carlos Paião (1981) – e trabalhado com outros inúmeros artistas como AmáliaCândida Branca FlorManuel João Vieira, Frei Hermano da Câmara, Herman José, Jorge Fontes, José Cid, Lara Li, Madalena Iglésias, Marco Paulo, Maria da Fé, Maria de Lurdes Resende, Max, Natália de Andrade, Paulo de Carvalho, Quim Barreiros, TonichaTony de Matos ou Tozé Brito.

Na sua vida pessoal, foi pai da enfermeira Teresa Galarza (1952) e do também músico Ramón Galarza (1957).

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Calderon Dinis da revista «Cine», num Largo do Parque das Nações

Freguesia do Parque das Nações
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Calderon Dinis, alfacinha nascido e criado em Lisboa, homem de múltiplos talentos, entre os quais o de ter sido editor da Revista Cine, está homenageado na toponímia da Freguesia do Parque das Nações, com a legenda «Jornalista/1902 – 1994».

O Largo Calderon Dinis nasceu no  impasse B do Casal dos Machados, junto à Rua Padre Abel Varzim, pela deliberação camarária de 21 de julho de 1999 e consequente Edital de dia 30 desse mês, quando este arruamento ainda era pertença da Freguesia de Santa Maria dos Olivais, escolhido mesmo por o homenageado ter vivido e falecido nessa freguesia.

Alberto Maria Calderón Dinis (Lisboa/22.12.1902 – 26.03.1994/Lisboa) foi sobretudo um homem dos jornais que também por aí começou a sua ligação ao cinema. No período de 1928 a 1930, ainda no tempo do cinema mudo, foi  editor da revista mensal Cine, com sede no nº 10 do Largo Trindade Coelho. Mais tarde, por volta de 1946, escreveu várias novelas de cinema sobre os filmes então em exibição e, em 1949, elaborou os diálogos do filme Sol e Touros (1949), dos Produtores Associados, com realização de José Buchs.

Calderon Dinis nasceu lisboeta em Santos embora ainda criança tenha ido morar para o Bairro Alto, onde frequentou a escola municipal. Prosseguiu para o Liceu Passos Manuel, altura em que também publicou textos e desenhos no jornal Careca, e quando concluiu o curso liceal, aos 17 anos, começou a trabalhar –  no dia 20 de julho de 1920 –  no Diário de Notícias, à época ainda sediado no Bairro Alto. Foi funcionário deste periódico durante 54 anos, tendo sido primeiro admitido na contabilidade, para escrever letra francesa com aparos de bicos cortados. Depois, o administrador, o Prof. Beirão da Veiga, colocou-o ao pé de si para o ajudar a organizar eventos diversos. Em 1926, começou a fazer banda desenhada para o suplemento Notícias Miudinho, tendo criado as personagens Zé do Coco, Tonecas, Trovão das Pistolas. Na edição de domingo do Diário de Notícias  publicava contos e crónicas de tom satírico, que também ilustrava. Entre 1953 e 1963, lançou, dirigiu e coordenou o Almanaque Diário de Notícias. Também a partir de 1953 dirigiu a Editorial Notícias, até à sua reforma em 1974, com um catálogo de autores nacionais e estrangeiros, obras de consagrados como Ferreira de Castro, Gaspar Simões, Rocha Martins e edições infantis e juvenis.

Trabalhou ainda para outros periódicos como o Diário Popular, o República, o Jornal de Notícias, o Arquivo Nacional e A Noite (em 1939) de Augusto de Castro.

Sob o pseudónimo de Mac Dennis foi também escritor de romances policias, como A herança do banqueiro, o nº 9 da coleção policial da Empresa Nacional de Publicidade. Também usou o pseudónimo Fiscal de Serviço e escreveu o livro intitulado O Quarto 233 (1975), uma escolha dos seus melhores contos antes publicados em jornais. Também escreveu 3 peças para o Teatro Nacional que desapareceram no incêndio de 1964 e redigiu monografias turísticas, também por si ilustradas, como Ribatejo (1964), Braga e seu Distrito (1965), ou Portalegre, Marvão e Castelo de Vide (1970). Também foi tradutor, como por exemplo de Sete anos de aventuras no Tibete de Heinrich Harrer.

Como desenhador e aguarelista, realizou exposições em Lisboa (1925) e no Salão dos Humoristas do Porto (1926). Em 1983, na Galeria do Diário de Notícias, expôs profissões antigas e tipos característicos de Lisboa e três anos depois, publicou na Dom Quixote Tipos e Factos da Lisboa do Meu Tempo, com a memória de acontecimentos e curiosidades da vida de Lisboa, que foi  Prémio Júlio de Castilho da CML. Em 1988, expôs no Palácio dos Coruchéus todos os desenhos e aguarelas desse livro, espólio que a edilidade lisboeta adquiriu para o Museu da Cidade.  Em 1993, a Editorial Notícias lançou uma 2ª edição da obra, com mais textos e desenhos, bem como uma nota introdutória da Drª Salete Salvado. A última exposição de Calderon Dinis em Lisboa, foi realizada postumamente, em 1995, na Casa da Imprensa, por iniciativa de um grupo de amigos.

Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua António Alçada Baptista de «Os Nós e os Laços»

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

António Alçada Baptista, autor do romance  Os Nós e os Laços e escritor que se definiu pelas palavras liberdade e afeto, é topónimo de uma Rua da Urbanização Benfica Stadium,  na freguesia de São Domingos de Benfica, desde a publicação do Edital municipal de 30 de abril de 2014, com a legenda «Escritor/1927 – 2008».

Alçada Baptista fixou-se como topónimo na Urbanização Benfica Stadium pelo Edital nº 33/2014 e pelo nº 34/2014, do mesmo dia 30 de abril de 2014, ficaram também no mesmo bairro a poetisa Natércia Freire e a investigadora de literatura portuguesa Luciana Stegagno Picchio, tendo aliás a inauguração oficial dos três topónimos ocorrido em simultâneo, no dia 29 de janeiro de 2016.

António Alfredo da Fonseca Tavares Alçada Baptista (Covilhã/29.01.1927 – 07.12.2008/Lisboa) foi um dos grandes divulgadores da cultura portuguesa, tendo também contribuído para ela como escritor, editor e militante do Centro Nacional de Cultura desde o  início dos anos 50 à primeira década do século XXI. Enquanto escritor, foi sobretudo romancista mas também ensaísta. Da sua relevante obra literária, destacam-se os seus dois tomos de O Tempo nas PalavrasPeregrinação Interior (1971 e 1982), Conversas com Marcello Caetano (1973), O Anjo e a Esperança (1982), a sua estreia como romancista em Os Nós e os Laços (1983), que recebeu o Prémio Literário Município de Lisboa (1985) e o Prémio P.E.N. Clube Português de Novelística (1986), bem como Catarina ou o Sabor da Maçã (1988) ou Tia Suzana, Meu Amor (1989), assim como O Riso de Deus (1994), a obra de memórias A Pesca à Linha (1998), O Tecido do Outono (1999) ou A Cor dos Dias (2003).

Como editor, apostou na aventura editorial da sua «casa de reflexão e poesia», a Moraes Editora, que dirigiu de 1957 a 1972, tendo contribuído para a revelação ou divulgação de autores portugueses, como Vitorino Nemésio, Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge de Sena, Alexandre O’Neill, Pedro Tamen, Ruy Belo, António Ramos Rosa, e estrangeiros, como Emmanuel Mounier ou Jean-Marie Domenach. Também a partir desta editora publicava a  revista Concilium, dirigida por Helena Vaz da Silva. Acresce que os livros que a Moraes publicava eram frequentemente apreendidos, causando elevados prejuízos à editora, que acabaria por falir em 1980.

Como jornalista, fundou e dirigiu a revista O Tempo e o Modo, de 1963 a 1969, cujo corpo redatorial era maioritariamente constituído por católicos contestatários da relação entre a Igreja e o Estado Novo, mas também por democratas de outras áreas de esquerda, de que se recordam Pedro Tamen, Nuno Bragança, João Bénard da Costa ou Mário Soares, Salgado Zenha ou Jorge Sampaio.  Entre fevereiro de 1977 e abril de 1978, foi director do jornal diário Dia, sucedendo a Vitorino Nemésio e, entre 1992 e 2006, escreveu crónicas para a revista Máxima. Antes de dirigir O Dia, foi colaborador regular de A Capital, conforme recorda Appio Sottomayor que ainda acrescenta que «Era aliás frequente a sua presença na redacção, então situada na Travessa do Poço da Cidade. Entregava os originais, conversava e, regra geral, almoçava com alguns jornalistas.»

Licenciado pela Faculdade de Direito de Lisboa, onde ingressara em 1945, esteve desde jovem ligado aos chamados católicos progressistas. Advogado de formação foi advogado de defesa de presos políticos nos Tribunais Plenários. Em março de 1957, foi um dos 72 advogados de Lisboa e do Porto que assinaram uma representação ao ministro da Presidência pedindo um «inquérito à PIDE». Em 1958, apoiou a candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República. Em 1959 assinou, com outros oposicionistas, um documento em que se pedia a Salazar que por ocasião da sua última lição em Coimbra, «se verifique também o seu afastamento da vida política». Em 1961, foi candidato em Castelo Branco na lista da Oposição tal como em 1969, na lista da CDE. Entre 1971 e 1974, foi assessor para a Cultura do então ministro da Educação Nacional, Veiga Simão.

Na Secretaria de Estado da Cultura, onde entrou em 1980, chefiou os trabalhos de criação do Instituto Português do Livro, de que foi presidente até 1986, desenvolvendo as relações culturais com os países lusófonos, designadamente Cabo Verde, Moçambique e Brasil, bem como a estimulação da Rede Nacional de Biblioteca Públicas, o patrocínio da reedição de clássicos da literatura portuguesa e a organização do Dicionário Cronológicos dos Autores Portugueses. Foi presidente das Comemorações do Cinquentenário da Morte de Fernando Pessoa (1985) e da Comissão de Avaliação do Mérito Cultural, administrador e consultor da Fundação Oriente ( a partir de 1996), presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, de 1988 a 1998. A sua dedicação à cultura da língua portuguesa valeu-lhe a indigitação para adido cultural de Portugal no Brasil.

Na sua vida pessoal, casou em 1950 com Maria José de Magalhães Coutinho Guedes de quem teve sete filhos e residiu em Lisboa na Rua de São Marçal.

Foi sócio da Academia das Ciências de Lisboa e membro correspondente da Academia Brasileira de Letras, bem como agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (1983) e a Grã-Cruz da Ordem do Infante (1995), Medalha de Mérito Municipal da Covilhã (1999) e, postumamente, com a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores (2009) e a criação do Prémio António Alçada Baptista de Literatura Memorialista e Autobiográfica, a que acresce que, para além de Lisboa, também em Almada, na Urbanização da Quinta do Gil da Charneca da Caparica é topónimo de uma Rua.

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Delfim de Brito Guimarães, o escritor e editor da Guimarães Editores

Freguesia de Campolide
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O escritor e editor Delfim de Brito Guimarães está como topónimo de uma rua Campolide desde 1995, passados 62 anos sobre a sua morte, tendo a edilidade seguido a proposta da Casa do Concelho de Ponte Lima, já que o homenageado se afirmava limiano de afeição.

A Casa do Concelho de Ponte Lima solicitou que o nome de Delfim Guimarães, filho de um limiano e que muito tempo viveu nela, fosse atribuído a um arruamento de Campolide, nas imediações da sua sede, proposta com que a Câmara Municipal de Lisboa concordou e assim atribuiu a Rua Delfim de Brito Guimarães ao troço da Rua A à Avenida José Malhoa, compreendido entre a Rua Basílio Teles e a Avenida José Malhoa, pelo Edital municipal de 17 de fevereiro de 1995.

Na Ilustração Portuguesa de 17 de janeiro de 1910

Delfim de Brito Monteiro Guimarães (Porto/04.08.1872 – 06.07.1933/Amadora), nascido na Rua do Bonjardim nº 184 como terceiro dos seis filhos do limiano, comerciante e jornalista Delfim José Monteiro Guimarães Júnior e de Maria Júlia Moreira de Brito Barreiros, foi um poeta, novelista, dramaturgo, crítico, tradutor,  investigador literário, e o fundador com Libânio da Silva, em 1899, da Livraria-Editora Guimarães Editores na Rua da Misericórdia, que assim começou por designar-se Guimarães, Libânio e C.ª.

Com dezoito anos, em 1890, veio para Lisboa, acompanhando a mudança da família, e começou a trabalhar como guarda-livros – hoje diríamos contabilista-,  n’ O Século e aí se manteve dez anos mas foi obrigado a retirar-se por à Administração desagradar a sua atividade literária. Fundou então a Guimarães Editores que grande serviço prestou à cultura portuguesa, nomeadamente pelos autores estrangeiros que trouxe aos portugueses em cuidadas traduções, construindo uma chancela que ainda hoje existe integrada no grupo Babel.

Lançou-se como escritor em 1893, com poemas em Alma Dorida, Poemas em Prosa dedicado à sua mãe, bem como com Lisboa Negra, versos que dedicou à Capital e à sua difícil adaptação a ela. No ano seguinte, por morte do pai, heróico soldado liberal, jornalista e editor de Alberto Pimentel, administrou e reorganizou a revista Mala da Europa, para mais tarde ter a sua Arquivo Literário, de 1922 a 1928.

Publicou ainda, entre outros, a poesia de Confidências (1894) e Evangelho (1895), Sonho Garrettiano” (1899), o poema inspirado em ambientes medievais e de cariz romântico intitulado A Virgem do Castelo (1901), a peça escrita com D. João da Câmara Aldeia na Corte (1901), a comédia Juramento Sagrado (1902), bem como Outonais  (1903), o romance O Rosquedo: scenas da vida da província – Ponte do Lima – Minho (1904),  o livro de contos Ares do Minho (1908), A Alma  Portuguesa (1913), O Livro do Bebé (1917) ilustrado por Raquel Roque Gameiro, Aos Soldados Sem Nome (1921), Asas de Portugal (1922), A Paixão de  Soror Mariana (1926) ou a peça em um ato em verso Sol da nossa terra (1932).

Chegou a usar o pseudónimo Castro Monteiro para as publicações literárias e como investigador e crítico literário, foi inovador e polémico. Desde «A Viagem por Terra do Sr. João Penha» (1892), passando por  Saudades: história de menina e moça (1905), até quando escreveu sobre os poetas limianos Diogo Bernardes e Agostinho Pimenta, tendo-se confrontado com o seu amigo João Gomes d’Abreu sobre o primeiro ou quando publicou Trovas de Crisfal, de Bernardim Ribeiro (1908) que o fez entrar em polémica com Teófilo Braga.  Também evocou os os poetas limianos da sua eleição, sobretudo Diogo Bernardes, Frei Agostinho da Cruz e António Feijó em Ponte de Lima – Minha Avozinha.

Como tradutor produziu Flores do mal: interpretação em verso de poesias de Carlos Baudelaire (1909), parte da  Graziella de Lamartine, A Dama das Camélias de Alexandre Dumas Filho e o Romance duma rapariga russa de Henry Gréville.

Politicamente, Delfim Guimarães era de filiação republicana e maçónica, tendo participado no debate das cores e dos símbolos da bandeira nacional. No início do século XX, foi Administrador do Concelho de Ponte de Lima e depois de se fixar na Amadora foi um dos principais impulsionadores da Liga dos Melhoramentos da Amadora.

Na sua vida particular, casou em 1895,  aos 23 anos, com Rosina Vieira da Cruz e foi pai de oito filhos, tendo sepultou uma sua filha, precocemente falecida, no cemitério de Ponte de Lima.

Foi feito Cavaleiro (1908) e Comendador (1919) da Ordem de Santiago da Espada  e retratado em carvões de Carlos Reis e de Veloso Salgado, aguarelas de Alfredo Morais e de Roque Gameiro, e ainda em caricaturas de Francisco Valença e de Sebastião Sanhudo. Para além de Lisboa, Delfim de Brito Guimarães está também na toponímia da Amadora ( Parque Delfim Guimarães, atribuído em 1937), no Porto e em Ponte de Lima.

Freguesia de Campolide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Livro de Bordo da Rua José Cardoso Pires

Freguesia do Lumiar (Fotos: NT do DPC)

Alfacinha de coração, como a si próprio se definia, José Cardoso Pires, legou-nos 50 anos de atividade literária onde cresceram títulos como O Render dos HeróisCartilha do Marialva,  Dinossauro Excelentíssimo, Balada da Praia dos Cães, Alexandra Alpha ou De Profundis, Valsa Lenta, para além do Lisboa, Livro de Bordo sobre esta cidade capital do país – de que se assumia amante – e na qual vivia a sua boémia, sendo que desde o dia 18 de novembro de 2003 ficou no seu seio, a dar o seu nome a uma Rua da Freguesia do Lumiar – até aí identificada como Rua D da Malha 15 do Alto do Lumiar -, a ligar a Avenida Álvaro Cunhal à Avenida David Mourão-Ferreira.

José Cardoso Pires por João Abel Manta (1981)

De seu nome completo José Augusto Neves Cardoso Pires (Vila do Rei-aldeia de S. João do Peso/02.10.1925 – 08.07.1998/Lisboa), filho de Maria Sofia Cardoso Pires Neves  e de José António das Neves, foi um vulto das letras portuguesas que se distinguiu no jornalismo, na crónica, na dramaturgia, no romance e ensaio.

José Cardoso Pires veio morar para Lisboa com poucos meses de idade, para o n.º 7 da Rua Carlos José Barreiros, em Arroios,  e esta foi a sua cidade do coração, a quem dedicou inúmeras páginas e mesmo uma obra inteira – Lisboa, Livro de Bordo (1997)- para além de, em 1975, ter exercido as funções de Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa.

Aluno do Liceu Camões frequentou Matemáticas até ao 3º ano na Faculdade de Ciências mas partiu para a Marinha Mercante, cumpriu tropa e fez colaborações literárias esporádicas até em 1948 iniciar a sua carreira literária, com Caminheiros e outros contos,  a que se seguiu Histórias de Amor (1952) que foi apreendido pela PIDE. Somou 18 títulos de que destacamos a peça O Render dos Heróis (1960), o ensaio Cartilha do Marialva (1960), a novela O Hóspede de Job (1963) consagrada com o Prémio Camilo Castelo Branco, O Delfim (1968), Dinossauro Excelentíssimo (1972), Balada da Praia dos Cães (1982) que foi Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, Alexandra Alpha (1987) que obteve o Prémio Especial da Associação de Críticos de S. Paulo ou De Profundis, Valsa Lenta (1997). Em 2008 foi publicado, postumamente, o seu Lavagante.

Em 1949 também fundou com Victor Palla, a coleção de bolso «Os Livros das Três Abelhas» e cinco anos depois dirigiu as Edições Artísticas Fólio que revelaram em Portugal a obra de Samuel Beckett. Em paralelo, Cardoso Pires foi jornalista, nomeadamente no Diário Popular, Diário de Lisboa, O Jornal e nas revistas Eva, Almanaque ou &etc e legou-nos inúmeras páginas da sua boémia assumida, percorrida desde o Café Herminius à Cervejaria Portugália  e aos bilhares da Almirante Reis ou à casa de jogo clandestina do carvoeiro da Rua José Estêvão, até ao Café Chiado, o Monte Carlo, o Toni dos Bifes, a Pastelaria Joaninha junto ao Jardim Constantino ou o bar Procópio, na companhia de tantos como Abelaira, Alexandre O’Neil,  Carlos Oliveira, Cesariny, Eduardo Prado Coelho, Gastão da Cruz, Herberto Helder, José Gomes Ferreira, Luiz Pacheco,  Manuel da Fonseca, Pedro Oom ou Vespeira.

Democrata empenhado na luta contra a opressão, com Alçada Baptista, Miller Guerra, Lindley Cintra, Joel Serrão, José-Augusto França, Nuno Bragança e Nuno Teotónio Pereira, constituiu em 1966 o núcleo português da Association Internationale pour la Liberté de La Culture. De 1969 a 1971 exerceu com professor de Literatura Portuguesa e Brasileira no King’s College da Universidade de Londres, colaborando também na BBC.

Na sua vida pessoal, casou em 1954 com a enfermeira Maria Edite Pereira – a quem chamava Esquilo-  tendo tido duas filhas – Ana e Rita-, sendo a casa de família na Rua Bulhão Pato, em Alvalade.

José Cardoso foi ainda agraciado com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas (1991) e o Astrolábio de Ouro do Prémio Internacional Ultimo Novecento (1992), o Bordalo de Literatura da casa da Imprensa (em 1994  e em 1997), o Prémio D. Dinis da Fundação da Casa de Mateus e o Prémio Pessoa (ambos em 1997), o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores e o da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários (ambos em 1998), a Ordem da Liberdade (1985) e a Grande Cruz de Mérito Cultural (1989).

Está também presente na toponímia de Abrantes, Alcabideche, Alcochete, Almada, da Amadora, da Amora, de Aveiro, Azeitão, do Barreiro, de Beja, Borba, Camarate, da  Caparica, de Cascais, Castro Verde, da Covilhã, do Estoril, de Faro, do Forte da Casa, de Gondomar, Guimarães, Lagos, da Maia, de Mem Martins, Montemor-o-Novo, Odemira, Oliveira do Hospital, do Pinhal Novo, de Portimão, Porto Salvo, da Póvoa de Santa Iria, Quinta do Anjo, de Rio de Mouro, Rio Tinto, Santa Iria de Azóia, Santo António dos Cavaleiros, São Julião do Tojal, do Seixal, de Sesimbra, Setúbal, Tavira, da Trofa e de Vila Franca de Xira.

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

O Largo de Lambertini, o homem dos 7 ofícios musicais

Freguesia do Lumiar
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

O Largo Michel’Angelo Lambertini homenageia na freguesia do Lumiar o homem dos 7 ofícios na arte musical – pianista, maestro e compositor, musicólogo e organizador de eventos, professor de canto, editor e comerciante de instrumentos musicais -,  assim existindo desde a publicação do Edital municipal de 17 de março de 2017 no largo interior formado entre a Alameda das Linhas de Torres, a Rua Luís de Freitas Branco e a Rua Virgínia Vitorino, a partir de uma sugestão de Miguel Lambertini Gouveia à Autarquia lisboeta.

O Occidente, 20 de novembro de 1907

Michel’Angelo Lambertini (Porto/14.04.1862 – 21.12.1920/Lisboa) foi um pianista, maestro e compositor, musicógrafo e organizador de eventos, professor de canto coral, além de editor da revista A Arte Musical e ainda, comerciante lisboeta de fabrico e revenda de instrumentos musicais.

Neto do compositor e construtor de pianos Luiz Joaquin Lambertini  – que veio para Lisboa em 1864 e montou a sua 1ª fábrica no Palacete do então Largo de São Roque [hoje Largo Trindade Coelho] à esquina da Travessa da Queimada – começou a estudar piano aos 6 anos no Conservatório. Concluiu os cursos de Piano (1879) e de Harmonia e Contraponto (1881) no Real Conservatório de Lisboa, bem como o Instituto Comercial e o Liceu.

O seu grande sonho foi criar um Museu Instrumental em Lisboa. Recomendado por vultos da I República como José Relvas,  foi incumbido por portaria de 22/12/1911  da recolha e ordenação dos instrumentos musicais que encontrasse em edifícios públicos ou religiosos, sem quaisquer custos para o Estado e desempenhou essa missão até à sua morte. Dos contributos recebidos ia dando notícia no seu quinzenário A Arte Musical.  A partir de janeiro de 1912, as peças eram colocadas em exíguas salas do Palácio das Necessidades e sobre essa experiência publicou O Museu Instrumental e as minhas relações com o Estado (1913). O seu sonho não esmoreceu e publica Primeiro nucleo de um museu instrumental em Lisboa : catalogo summario (1914) para no ano seguinte, o Decreto nº 1681, de 28 de junho, o instituir no Conservatório e nomeando Lambertini conservador mas que ficou sem execução prática. Assim, num andar do Palácio Quintela da Rua do Alecrim, instalou e dirigiu o Museu Instrumental Português, com cerca de cinco centenas de peças. A partir de 1929 o espólio do Museu Instrumental foi sendo adquirido pelo Conservatório Nacional e é deste modo que a herança de Lambertini , através de inúmeras vicissitudes, passa a ser uma parte considerável do atual acervo do Museu Nacional da Música, na Estação do Metropolitano dos Altos do Moinhos, em Lisboa.

Na cultura portuguesa de finais do século XIX, princípios do século XX, Michel’Angelo Lambertini foi relevante como organizador e animador de eventos musicais e literários, a ponto de Margarida Rebocho Ferreira o classificar como «benemérito  na cultura da música do Portugal dos inícios de novecentos». Foi o promotor da representação Portuguesa à Exposição Musical de Milão de 1881 – tendo conseguido reunir 121 obras-, o fundador da Sociedade de Música de Câmara em 1899 bem como da Grande Orquestra Portuguesa em 1907, para além de ter sido o responsável pela primeira apresentação em Portugal da Filarmónica de Berlim, em 1901.

Lambertini foi o autor do 1ª grande síntese da história musical portuguesa, publicado em 1915, na Encyclopédie de la Musique Et Dictionnaire du Conservatoire, dirigida por Lavignac. No mesmo ano publicou Pela Índia, sobre a música desse país. Já em 1900, editara os 2 volumes do Diccionario Biograhico de Músicos Portuguezes de Ernesto Vieira e  editou e dirigiu a sua revista A Arte Musical fazendo-a publicar de 15 de janeiro 1889 a 31 de dezembro de 1915, sendo que já nos seus 15 anos  havia sido redator da revista musical A Chitara – revista de musica e theatros, sedeada na Rua do Benformoso nº 266.

Em dezembro de 1887, com a morte do seu tio Ermete Lambertini, assumiu com seu pai a gerência da Casa Lambertini & Irmão, então sediada na Praça dos Restauradores nº 43 a 49, detentora do exclusivo da venda de pianos Bechstein para Portugal e fornecedores da Casa Real, desde o alvará de 2 de novembro de 1868. Neste âmbito publicou Annuario musical da Casa Lambertini (1900), As collecções de instrumentos musicos (1913), Indústria instrumental portuguesa (1914).

Michel’angelo Lambertini  foi também professor de canto coral das escolas  municipais centrais nºs 14 e 15, desde 1883 e redigiu o relatório da Comissão para Melhorar o Ensino da Música em Portugal, presidida por Viana da Mota. Foi ainda fundador da Caixa de Socorro a Músicos Pobres e sócio da Academia Marcos de Portugal.

Em Lisboa, vivia no Palacete Lambertini na Avenida da Liberdade, da autoria de Nicola Bigaglia, que foi Menção Honrosa no Prémio Valmor de 1904.

Lambertini foi condecorado como Cavaleiro da Real Ordem Militar de Cristo (1888) e da Coroa de Itália (1896), bem como Comendador da Ordem Militar de Nª Srª da Conceição de Vila Viçosa (1898) e da Ordem de Santiago de Espada (1908) e no 140º aniversário do seu nascimento o Museu Nacional da Música inaugurou uma exposição em sua homenagem.

A Rua do autor e empresário teatral Sousa Bastos

Freguesia de Marvila
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Sousa Bastos, autor, encenador e empresário teatral, em Portugal e no Brasil, na transição do séc. XIX para o séc. XX, passou a dar nome a uma artéria lisboeta 84 anos após o seu falecimento, na freguesia de Marvila.

Para responder a um pedido dos CTT que solicitava topónimos para os arruamentos do Bairro do Alfenim, na área envolvente da Azinhaga do Vale Fundão, a edilidade alfacinha resolveu aí criar pela toponímia um Bairro de Autores Teatrais, através do Edital municipal de 20 de março de 1995, com a Rua Sousa Bastos, o Largo Álvaro de Andrade, a Rua Bento Mântua, a Rua Ernesto Rodrigues, a Rua Lino Ferreira, o Largo Vitoriano Braga e a Rua Xavier de Magalhães. A Rua Sousa Bastos, com a legenda «Empresário e Autor Teatral/1844 – 1911 »,  ficou no arruamento compreendido entre a Azinhaga do Vale Fundão e o Lote B do Bairro do Alfenim.

O Grande Elias, 8 de setembro de 1904

António de Sousa Bastos (Lisboa/13.03.1844 – 02.07.1911/Lisboa), filho do nobre napolitano D. Francisco de Judicibus e da lisboeta D. Joana Maria da Salvação de Sousa Bastos,  segundo o assento de batismo da Paroquial de Santa Isabel nascido no nº 87 do Largo do Patrocínio (seria provavelmente, o Largo do Monteiro) e batizado como António Rodrigo Francisco João Valeriano Bernardino Peregrino Ângelo André Carlos Nicolau Vicente José Augusto Máximo Magalhães de Sousa Bastos de Judicibus, tendo como padrinhos Rodrigo da Fonseca Magalhães e Maria Gertrudes Guimarães.

Concluída a instrução primária em Lisboa e o Liceu em Santarém, regressou a Lisboa para seguir o Curso de Agronomia no Instituto Agrícola que abandonou por se ter casado aos 21 anos e assim teve de avançar para sucessivos  empregos. Começou como jornalista no Álbum Literário  e seguiu depois para o Comércio de LisboaDiário ComercialGazeta SetubalenseGazeta do Dia, entre outros. Mesmo depois de se dedicar ao teatro ainda escrevia regularmente crónicas sobre teatro para o Diário de Notícias e colaborava com outros periódicos como o Espectador Imparcial, A Arte Dramática e a revista Ribaltas e Gambiarras.

Sousa Bastos notabilizou-se como autor, encenador e empresário teatral, em Portugal e no Brasil, dirigindo vários teatros, tanto em Lisboa como no Rio de Janeiro, São Paulo, Pará e Pernambuco, para além de ter sido o empresário de diversas companhias teatrais. Foi ele que em 1881 levou as primeiras digressões da revista à portuguesa pelo Brasil. Em Lisboa, foi o empresário e ensaiador dos Teatros da Rua dos Condes, do Príncipe Real (depois, denominado Teatro Apolo), da Trindade, do Avenida, entre outros.

Como autor dramático, somou mais de uma centena de obras, entre  revistas, operetas, comédias e dramas originais, para além de ter traduzido e adaptado outras peças. A primeira das mais de vinte revistas que escreveu subiu à cena em 1869 e intitulava-se Coisas e Loisas, enquanto as duas últimas revistas foram  Talvez Te Escreva (1901) e A Nove (1909). Na nota necrológica do jornal O Occidente afirma-se que «Essa popularidade veio-lhe sobre tudo das revistas que compoz e mais calaram no gosto publico, como as intituladas “Sal e Pimenta”, “Tim Tim por Tim Tim” e “Fim de Seculo”, além de muitas outras que fez, pois foi o primeiro, ou dos primeiros autores a compôr este género de peças». A popularidade das suas produções também se deveu à aposta em cenografias mais elaboradas, números musicais,  vedetas femininas e coristas.

Paralelamente, com o tipógrafo João António de Matos, Sousa Bastos fundou em 1877 a Empresa Literária de Lisboa que editou uma História de Portugal em 6 volumes, da autoria de António Enes, Bernardino Pinheiro, Eduardo Vidal, Gervásio Lobato, Luciano Cordeiro e Pinheiro Chagas, e uma História Universal traduzida. Ele próprio escreveu  Carteira do Artista (1898), com biografias de autores dramáticos, artistas, pontos, cenógrafos e anedotas do meio teatral português e brasileiro, num total de 866 páginas  impressas pela Antiga Casa Bertrand, assim como lançou um Dicionário do Teatro Português (1908) de 380 páginas, sobre  técnicas teatrais, autores dramáticos, atores e atrizes, empresários da área, publicadas pela Imprensa Libanio da Silva, para além de Lisboa velha: sessenta anos de recordações, 1850 a 1910.

Na sua vida pessoal, António de Sousa Bastos casou com Leopoldina Rosa Vieira Martins (1847 – 1879) em 24 de agosto de 1865, de quem teve vários filhos e depois de enviuvar voltou a casar, em 1 de julho de 1894, com a atriz Palmira Bastos, de quem teve duas filhas. Sousa Bastos sucumbiu à diabetes, aos 67 anos de idade,  tendo sido sepultado em jazigo particular no Cemitério dos Prazeres.

De entre as várias homenagens de que Sousa Bastos foi alvo destacamos o Teatro Sousa Bastos inaugurado em Coimbra no dia 15 de junho de 1914, uma Exposição comemorativa do seu centenário do nascimento em  1944 no Museu Rafael Bordalo Pinheiro seguida em 1947 da publicação pela edilidade lisboeta do seu livro Lisboa Velha.  Tem ainda ruas com o seu nome em Linda-a-Velha e em Odivelas.

Freguesia de Marvila
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

#EuropeForCulture

A Avenida de Mitterrand que em 1981 aboliu a pena de morte em França

Freguesia de Marvila

François Mitterrand que conseguiu no seu 1º mandato presidencial abolir a pena de morte em França, no ano de 1981, tem em Lisboa o seu nome numa Avenida de Marvila, com a legenda «Presidente da República Francesa/1916 – 1996», desde a publicação do Edital de 24 de setembro de 1996, a ligar a Avenida Carlos Pinhão à Avenida Vergílio Ferreira, dando uma nova memória à Rua M 5 do Bairro do Armador.

François Maurice Adrien Marie Miterrand (França – Jarnac/26-10-1916 – 08.01.1996/Paris – França), foi um conhecido opositor da pena de morte, licenciado em Sociologia e Literatura Francesa, bacharel em Direito, diplomado em Direito Público e doutorado em Ciências Políticas, que se tornou o  1º presidente socialista da 5ª República Francesa, durante 2 mandatos consecutivos de 7 anos, entre 1981 e 1995, tendo logo no primeiro abolido a pena de morte em França, em 9 de outubro de 1981.

Em termos de direitos humanos, durante os seus mandatos presidenciais são também relevantes  as reformas sociais que instituiu em benefício da classe trabalhadora logo em 1981, como a semana de 39 horas, o aumento do salário mínimo e uma semana adicional de férias pagas; as garantias de direitos de residência que estabeleceu para muitos imigrantes ilegais  (1981); a sua declaração favorável à criação de um Estado palestiniano (1982); a evocação do caso Sakharov em pleno Kremlin (1984);  a nomeação da primeira mulher primeiro-ministro em França, Edith Cresson (1991) e a suspensão dos testes nucleares em França em 8 de abril de 1992.

François Mitterrand foi feito prisioneiro no decorrer da II Guerra Mundial – no dia em que Paris foi ocupada – e transferido para um campo na Alemanha do qual se conseguiu evadir em dezembro de 1941. Foi trabalhar como alto funcionário do governo de Vichy e em 1943 juntou-se à Resistência com o pseudónimo de Morland, assim fundando uma rede de resistência dos prisioneiros e evadidos, sendo em 1944 o presidente do Movimento Nacional dos Prisioneiros de Guerra e Deportados. Após o Dia D ( 6 de junho de 1944) foi nomeado secretário-geral dos Prisioneiros de Guerra pelo General De Gaulle, qualidade na qual participou no primeiro Conselho da França Libertada.

A partir daqui Mitterrand dirigiu o jornal Libres bem como  uma editora, aderiu à União Democrática e Socialista da Resistência (UDSR) e construiu uma longa carreira política, em que foi deputado durante 35 anos (1946 – 1981); ministro de 11 governos (1947 – 1958) passando pelas pastas dos Ex-Combatentes, de Estado, da França do Ultramar, do Interior e da Justiça; Presidente da UDSR (1953); Presidente da Câmara Municipal de Chateau-Chinon (1959); candidato à presidência da República contra de Gaulle (1965) e fundador da Federação da Esquerda Democrática e Socialista que liderou (1970); 1º Secretário do Partido Socialista Francês (1971-1981) e Vice- Presidente da Internacional Socialista (1972) no mesmo ano em que assinou o Programa Comum da Esquerda com o Partido Comunista Francês e que constituiu o seu programa de candidatura para as presidenciais de 1974 contra Giscard d’Estaing, que perdeu por 49,5% contra 50,5%.

Em 10 de maio de 1981 foi eleito o 1º presidente socialista da 5ª República, derrotando Giscard d’Estaing por 51,75% contra 48,24%. No decorrer de dois mandatos, tomou várias medidas como a nacionalização de bancos e grandes indústrias; descentralizou o poder através da atribuição de mais competências a nível local e regional; decretou e permitiu a criação de rádios locais e televisões privadas. Em 1982 e 1983, para fazer face a problemas económicos congelou salários, aumentou taxas nos serviços de saúde e fez cortes na despesa pública. Empenhou-se também na construção europeia comum estreitando relações com a Alemanha de Helmut Kohl e procurando a concretização do Tratado de Maastricht pelo que esteve em Lisboa no Conselho Europeu de Encerramento da Presidência Portuguesa na Comunidade Europeia (1992). François Mitterrand terminou o seu mandato a 17 de maio de 1995, após ter manifestado no ano anterior  a sua vontade de não se recandidatar, revelada que estava a doença que o conduziria à morte em 1996, aos 79 anos.

Freguesia de Marvila
(Planta: Sérgio Dias | NT do DPC )