Livro de Bordo da Rua José Cardoso Pires

Freguesia do Lumiar (Fotos: NT do DPC)

Alfacinha de coração, como a si próprio se definia, José Cardoso Pires, legou-nos 50 anos de atividade literária onde cresceram títulos como O Render dos HeróisCartilha do Marialva,  Dinossauro Excelentíssimo, Balada da Praia dos Cães, Alexandra Alpha ou De Profundis, Valsa Lenta, para além do Lisboa, Livro de Bordo sobre esta cidade capital do país – de que se assumia amante – e na qual vivia a sua boémia, sendo que desde o dia 18 de novembro de 2003 ficou no seu seio, a dar o seu nome a uma Rua da Freguesia do Lumiar – até aí identificada como Rua D da Malha 15 do Alto do Lumiar -, a ligar a Avenida Álvaro Cunhal à Avenida David Mourão-Ferreira.

José Cardoso Pires por João Abel Manta (1981)

De seu nome completo José Augusto Neves Cardoso Pires (Vila do Rei-aldeia de S. João do Peso/02.10.1925 – 08.07.1998/Lisboa), filho de Maria Sofia Cardoso Pires Neves  e de José António das Neves, foi um vulto das letras portuguesas que se distinguiu no jornalismo, na crónica, na dramaturgia, no romance e ensaio.

José Cardoso Pires veio morar para Lisboa com poucos meses de idade, para o n.º 7 da Rua Carlos José Barreiros, em Arroios,  e esta foi a sua cidade do coração, a quem dedicou inúmeras páginas e mesmo uma obra inteira – Lisboa, Livro de Bordo (1997)- para além de, em 1975, ter exercido as funções de Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa.

Aluno do Liceu Camões frequentou Matemáticas até ao 3º ano na Faculdade de Ciências mas partiu para a Marinha Mercante, cumpriu tropa e fez colaborações literárias esporádicas até em 1948 iniciar a sua carreira literária, com Caminheiros e outros contos,  a que se seguiu Histórias de Amor (1952) que foi apreendido pela PIDE. Somou 18 títulos de que destacamos a peça O Render dos Heróis (1960), o ensaio Cartilha do Marialva (1960), a novela O Hóspede de Job (1963) consagrada com o Prémio Camilo Castelo Branco, O Delfim (1968), Dinossauro Excelentíssimo (1972), Balada da Praia dos Cães (1982) que foi Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, Alexandra Alpha (1987) que obteve o Prémio Especial da Associação de Críticos de S. Paulo ou De Profundis, Valsa Lenta (1997). Em 2008 foi publicado, postumamente, o seu Lavagante.

Em 1949 também fundou com Victor Palla, a coleção de bolso «Os Livros das Três Abelhas» e cinco anos depois dirigiu as Edições Artísticas Fólio que revelaram em Portugal a obra de Samuel Beckett. Em paralelo, Cardoso Pires foi jornalista, nomeadamente no Diário Popular, Diário de Lisboa, O Jornal e nas revistas Eva, Almanaque ou &etc e legou-nos inúmeras páginas da sua boémia assumida, percorrida desde o Café Herminius à Cervejaria Portugália  e aos bilhares da Almirante Reis ou à casa de jogo clandestina do carvoeiro da Rua José Estêvão, até ao Café Chiado, o Monte Carlo, o Toni dos Bifes, a Pastelaria Joaninha junto ao Jardim Constantino ou o bar Procópio, na companhia de tantos como Abelaira, Alexandre O’Neil,  Carlos Oliveira, Cesariny, Eduardo Prado Coelho, Gastão da Cruz, Herberto Helder, José Gomes Ferreira, Luiz Pacheco,  Manuel da Fonseca, Pedro Oom ou Vespeira.

Democrata empenhado na luta contra a opressão, com Alçada Baptista, Miller Guerra, Lindley Cintra, Joel Serrão, José-Augusto França, Nuno Bragança e Nuno Teotónio Pereira, constituiu em 1966 o núcleo português da Association Internationale pour la Liberté de La Culture. De 1969 a 1971 exerceu com professor de Literatura Portuguesa e Brasileira no King’s College da Universidade de Londres, colaborando também na BBC.

Na sua vida pessoal, casou em 1954 com a enfermeira Maria Edite Pereira – a quem chamava Esquilo-  tendo tido duas filhas – Ana e Rita-, sendo a casa de família na Rua Bulhão Pato, em Alvalade.

José Cardoso foi ainda agraciado com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas (1991) e o Astrolábio de Ouro do Prémio Internacional Ultimo Novecento (1992), o Bordalo de Literatura da casa da Imprensa (em 1994  e em 1997), o Prémio D. Dinis da Fundação da Casa de Mateus e o Prémio Pessoa (ambos em 1997), o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores e o da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários (ambos em 1998), a Ordem da Liberdade (1985) e a Grande Cruz de Mérito Cultural (1989).

Está também presente na toponímia de Abrantes, Alcabideche, Alcochete, Almada, da Amadora, da Amora, de Aveiro, Azeitão, do Barreiro, de Beja, Borba, Camarate, da  Caparica, de Cascais, Castro Verde, da Covilhã, do Estoril, de Faro, do Forte da Casa, de Gondomar, Guimarães, Lagos, da Maia, de Mem Martins, Montemor-o-Novo, Odemira, Oliveira do Hospital, do Pinhal Novo, de Portimão, Porto Salvo, da Póvoa de Santa Iria, Quinta do Anjo, de Rio de Mouro, Rio Tinto, Santa Iria de Azóia, Santo António dos Cavaleiros, São Julião do Tojal, do Seixal, de Sesimbra, Setúbal, Tavira, da Trofa e de Vila Franca de Xira.

Freguesia do Lumiar
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

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