A «Presença» de Régio e as capas de Almada Negreiros e Sara Afonso

Sara Afonso e Almada Negreiros em óleo sobre tela de 1937, da autoria de Almada

Desde 1927 fundador e diretor da revista PresençaJosé Régio também se cruzou com dois dos artistas que elaboraram artigos sobre arte e capas para a publicação, que neste artigo juntamos por serem o casal Almada Negreiros e Sara Afonso, ambos topónimos de Ruas nas Freguesias dos Olivais e em Belém, respectivamente desde 1970 e 1988.

A estudar em Coimbra onde se licenciou em 1925, José Régio conheceu na Universidade Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões com os quais fundou e dirigiu a revista Presença – Folha de Arte e Crítica. O  primeiro número saiu em 10 de março de 1927 e esta publicação vai marcar  a história do modernismo em Portugal. Ao longo de 13 anos e 54 números, até encerrar em 1940, a Presença contou com inúmeras colaborações de nomes da cultura portuguesa como António Botto, António Navarro, Arlindo Vicente, Casais Monteiro, Delfim Santos, Diogo de Macedo, Edmundo de Bettencourt, Irene Lisboa, José Marinho, Luís de Montalvor, Maria Helena Vieira da Silva, Miguel Torga ou Saul Dias (pseudónimo usado pelo irmão de José Régio, Júlio Pereira), entre outros. A Presença foi ainda essencial para divulgar em Portugal autores estrangeiros como Apollinaire, Cecília Meireles, Ibsen, Dostoiesvky, Jorge Amado, Marcel Proust, Paul Valéry ou Pirandello.

Rua Sara Afonso na Freguesia de Belém

José Sobral de Almada Negreiros (S. Tomé e Príncipe – Roça da Saudade/07.04.1893 – 15.06.1970/Lisboa), artista multifacetado das artes plásticas e da literatura, que fez coreografia para bailado, caricatura, pintura a óleo, tapeçaria, gravura, pintura mural, mosaico, azulejo e vitral, deu o seu nome a uma rua dos Olivais praticamente um mês após o seu falecimento: faleceu a 15 de junho de 1970, no Hospital de S. Luís dos Franceses, mesmo ao cimo da Rua Luz Soriano, no mesmo quarto onde morrera o seu amigo Fernando Pessoa e a 11 de julho seguinte, um Edital municipal colocou o seu nome na artéria referenciada como  Rua E 2 da Célula E dos Olivais Sul, incluindo os Impasse EJ, 3D, 3D1, EU e EV e abrangendo os lotes 454 a 462, 470a 474, 487a 494 e 504 a 506.

Essencialmente autodidata, publicou em 1911 os primeiros desenhos e caricaturas e, no ano imediato, redigiu e ilustrou de forma integral o jornal manuscrito A Paródia, para em 1913 voltar a participar na Exposição dos Humoristas Portugueses, preparar o primeiro projeto de bailado (O sonho da rosa), desenhar o primeiro cartaz (Boxe) e, em 1914 ser diretor artístico no semanário monárquico Papagaio Real, para além de ter sido colaborador da revista Orpheu em 1915, veículo de introdução do modernismo em Portugal, onde conviveu de perto com Fernando Pessoa e,  publicou o «Manifesto Anti-Dantas e por extenso»,  por ocasião da estreia da peça de teatro Soror Mariana Alcoforado de Júlio Dantas, reagindo assim às críticas negativas deste à Orpheu segundo a «estética do soco» de Marinetti. Ainda nesse ano escreve a novela A engomadeira (publicada em 1917) e o poema A cena do Ódio (publicado parcialmente em 1923). Em 1917, publicou a novela K4 O Quadrado Azul, realizou a conferência Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX  e colaborou no único número de Portugal Futurista, revista apreendida pela polícia pela inclusão da novela Saltimbancos do próprio Almada , considerada obscena por mencionar cavalos a cobrirem éguas. De 1920 para a frente Almada colaborou em diversos jornais e revistas, publicando desenhos humorísticos, textos e ilustrações; realizou capas de livros e revistas; publicou Invenção do Dia Claro (1921) e escreveu o romance Nome de Guerra (em 1925 e publicado em 1938); produziu quadros para A Brasileira do Chiado (1925) e para o Bristol Club (1926); escreve a peça Deseja-se Mulher dedicada a Sarah Afonso; cria o cartaz político Votai a Nova Constituição (1933); colabora com Pardal Monteiro com os vitrais para a Igreja de Nossa Senhora de Fátima (1934) e a decoração do edifício do Diário de Notícias (1935); executou as pinturas murais da Gare Marítima de Alcântara (1945-1947) e da Rocha do Conde de Óbidos (1946- 1948); pintou o retrato de Fernando Pessoa (1954), realizou painéis decorativos para a Cidade Universitária (1957 – 1961) e o painel de pedra geométrico para o átrio do edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian (1968-1969), fazendo a sua derradeira intervenção pública no programa televisivo Zip-Zip, em julho de 1969.

Sarah Affonso que sobreviveu treze anos a Almada, só foi nome de rua dezoito anos depois de ele o ser, na artéria que antes era vulgarmente conhecida por Rua da Cooperativa de Caselas, pelo Edital municipal de 20 de abril de 1988 que atribuiu 12 topónimos em ruas, sendo 7 de mulheres, a saber:  a pintora Sara Afonso e 1ª mulher a frequentar as tertúlias de A Brasileira (Rua da Cooperativa de Caselas), a médica Carolina Ângelo e  1ª mulher a votar em Portugal (Rua 1), a republicana setecentista Leonor Pimentel (Rua 2), a pedagoga Alice Pestana (Rua 3),  Virgínia Quaresma a 1ª jornalista portuguesa (Rua 4), a 1ª notária portuguesa Aurora de Castro (Rua 6) e a escritora Olga Morais Sarmento (Rua 7).

Sarah Affonso (Lisboa/ 13.05.1899 – 14.12.1983/Lisboa) foi uma pintora e ilustradora que foi uma das últimas discípulas de Columbano na Escola de Belas Artes de Lisboa, a que somou duas estadias em Academias livres de Paris (1923-1924 e 1928-1929) e a frequência das tertúlias de A Brasileira, nos anos trinta do séc. XX, que até aí eram território masculino. Produziu um estilo oriundo do imaginário popular minhoto, zona onde viveu dos 4 aos 15 anos, a que aliou uma intensa temática de noivados, maternidades e famílias. Sara integrou a   segunda geração de pintores modernistas portugueses, com Bernardo Marques, Mário Eloy ou Carlos Botelho. Acabou  por  abandonar a pintura no final da década de quarenta, tendo ainda sido galardoada com o Prémio Amadeo de Sousa Cardoso (1944) do SNI. Na década seguinte regressou à ilustração, em obras de literatura infantil com A Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner Andresen, para além de na sua carreira ter colaborado no grafismo das revistas Presença e Eva. A sua obra pictórica está representada no Museu do Chiado, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, bem como nos Museus de Bragança e de Amarante, tendo sido agraciada com Ordem de Santiago de Espada (1981). Dá também nome à Escola Básica e Jardim de Infância sita na Rua Almada Negreiros, nos Olivais.

José de Almada Negreiros e Sarah Affonso casaram 1934, residiram  no nº 42 da Rua de São Filipe Nery, tendo tido dois filhos: José Afonso e Ana Paula.

Rua Almada Negreiros na Freguesia dos Olivais

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com o apoio de 

Rua Eduardo Bairrada

Rua Eduardo Bairrada, topónimo atribuído por Edital 29 de Fevereiro de 1988 a um arruamento da freguesia da Ajuda

Eduardo Martins Bairrada (1930 – 1987), arquitecto da Câmara Municipal de Lisboa, ilustrador, e olisipógrafo. Membro do Grupo de Amigos do Museu de Marinha, do qual foi secretário da direcção. Membro da Academia de Marinha e da Academia Nacional de Belas Artes, onde ocupou a cadeira nº 14, que já fora de Gustavo de Matos Sequeira. Foi director do Gabinete de Estudos Olisiponenses, quando este serviço ganhou autonomia do Museu da Cidade (hoje Museu de Lisboa). Dividiu a sua actividade profissional entre os projectos de arquitectura, e a ilustração. Como arquitecto da Câmara colaborou com diversos artistas, especialmente com os irmãos Leopoldo e Domingos Soares Branco, no enquadramento de várias esculturas, como, por exemplo, no Monumento a Gago Coutinho e Sacadura Cabral, junto à Torre de Belém, o monumento ao professor Santos Andrea, na praça com o mesmo nome, e no monumento a Sá Carneiro, na antiga praça do Areeiro. Fez o projecto arquitectónico do Pátio Alfacinha, na Ajuda. Desenhou a Medalha de Mérito da Academia Nacional de Belas Artes e colaborou na ilustração do livro de Beatriz Berrini Eça de Queiroz. Palavra e imagem. Nos anos 80 publicou diversos estudos: Arquitecto Rosendo Carvalheira; um filho adoptivo de Alexandre Herculano (1981); A Academia de Belas Artes no cinquentenário da sua fundação (1983); Antecedentes da Academia Nacional de Belas Artes no prémio Valmor de arquitectura da cidade de Lisboa (1984); Prémios Valmor: 1902-1952 (publicado em 1988), entre outros.

Mas o seu grande contributo para o estudo e conhecimento do património de Lisboa, seria a sua obra Empedrados Artísticos: a arte da calçada-mosaico, patrocinada pela Câmara Municipal, e editada em 1985. Observador atento, Bairrada dedicou anos a recolher informação sobre a calçada portuguesa, procurando colmatar o que ele considerou ser uma falha nos estudos patrimoniais. A obra, que é ainda hoje uma referência para o conhecimento desta arte portuguesa, apresenta um levantamento feito à época de quase todos os empedrados artísticos da cidade, através das fotografias de Karin Monteiro e de Manuel Cabral, e de desenhos do próprio Bairrada. Na primeira parte do livro faz a história do uso da pedra no pavimento de ruas desde D. Manuel I até ao século XIX, destacando a importância do tenente general Eusébio Pinheiro Furtado que pela primeira vez a utilizou no Castelo de S. Jorge. Traça um estudo sobre a arte e técnica de calcetar e um panorama da evolução do calcetamento artístico nas praças e largos da cidade, bem com a sua divulgação para os passeios e entradas de residências e negócios, estudando as diferenças da utilização da pedra no espaço interior e no exterior. Refere-se também aos custos associados a esta arte e às resistências encontradas na sua utilização. Pormenoriza ainda as questões de linguagem associadas ao trabalho de calceteiro e as assinaturas utilizadas por estes profissionais para a identificação da sua obra. O levantamento, propriamente dito está organizado através de 15 itinerários por ele traçados, e pacientemente percorridos, como ele próprio afirmou, nos seus percursos diários entre a casa e o trabalho. Este inventário, como já referido, é feito através de fotografia e de alguns desenhos, acompanhados de uma pequena legenda. No final da obra Bairrada organizou os índices por motivos decorativos (que ele desenha), glossário, moradas e freguesias, permitindo uma rápida localização de cada exemplar.

Não estamos, portanto, na presença de um olisipógrafo “generalista”, isto é, a sua obra não é dedicada a uma história da cidade mas a um aspecto do seu património o qual até então não tinha merecido a devida atenção quer por parte dos investigadores, quer por parte do público. A acção de Eduardo Martins Bairrada na defesa da calçada portuguesa fez-se sentir ainda na sua insistência na criação de uma Escola de Calceteiros, a qual viria de facto a ser planeada em 1985 e criada em 1986. Apesar de ter estado alguns anos encerrada, a Escola de Calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa, encontra-se ainda hoje em funcionamento formando novos profissionais desta arte, permitindo a sua preservação.

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Calderon Dinis da revista «Cine», num Largo do Parque das Nações

Freguesia do Parque das Nações
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Calderon Dinis, alfacinha nascido e criado em Lisboa, homem de múltiplos talentos, entre os quais o de ter sido editor da Revista Cine, está homenageado na toponímia da Freguesia do Parque das Nações, com a legenda «Jornalista/1902 – 1994».

O Largo Calderon Dinis nasceu no  impasse B do Casal dos Machados, junto à Rua Padre Abel Varzim, pela deliberação camarária de 21 de julho de 1999 e consequente Edital de dia 30 desse mês, quando este arruamento ainda era pertença da Freguesia de Santa Maria dos Olivais, escolhido mesmo por o homenageado ter vivido e falecido nessa freguesia.

Alberto Maria Calderón Dinis (Lisboa/22.12.1902 – 26.03.1994/Lisboa) foi sobretudo um homem dos jornais que também por aí começou a sua ligação ao cinema. No período de 1928 a 1930, ainda no tempo do cinema mudo, foi  editor da revista mensal Cine, com sede no nº 10 do Largo Trindade Coelho. Mais tarde, por volta de 1946, escreveu várias novelas de cinema sobre os filmes então em exibição e, em 1949, elaborou os diálogos do filme Sol e Touros (1949), dos Produtores Associados, com realização de José Buchs.

Calderon Dinis nasceu lisboeta em Santos embora ainda criança tenha ido morar para o Bairro Alto, onde frequentou a escola municipal. Prosseguiu para o Liceu Passos Manuel, altura em que também publicou textos e desenhos no jornal Careca, e quando concluiu o curso liceal, aos 17 anos, começou a trabalhar –  no dia 20 de julho de 1920 –  no Diário de Notícias, à época ainda sediado no Bairro Alto. Foi funcionário deste periódico durante 54 anos, tendo sido primeiro admitido na contabilidade, para escrever letra francesa com aparos de bicos cortados. Depois, o administrador, o Prof. Beirão da Veiga, colocou-o ao pé de si para o ajudar a organizar eventos diversos. Em 1926, começou a fazer banda desenhada para o suplemento Notícias Miudinho, tendo criado as personagens Zé do Coco, Tonecas, Trovão das Pistolas. Na edição de domingo do Diário de Notícias  publicava contos e crónicas de tom satírico, que também ilustrava. Entre 1953 e 1963, lançou, dirigiu e coordenou o Almanaque Diário de Notícias. Também a partir de 1953 dirigiu a Editorial Notícias, até à sua reforma em 1974, com um catálogo de autores nacionais e estrangeiros, obras de consagrados como Ferreira de Castro, Gaspar Simões, Rocha Martins e edições infantis e juvenis.

Trabalhou ainda para outros periódicos como o Diário Popular, o República, o Jornal de Notícias, o Arquivo Nacional e A Noite (em 1939) de Augusto de Castro.

Sob o pseudónimo de Mac Dennis foi também escritor de romances policias, como A herança do banqueiro, o nº 9 da coleção policial da Empresa Nacional de Publicidade. Também usou o pseudónimo Fiscal de Serviço e escreveu o livro intitulado O Quarto 233 (1975), uma escolha dos seus melhores contos antes publicados em jornais. Também escreveu 3 peças para o Teatro Nacional que desapareceram no incêndio de 1964 e redigiu monografias turísticas, também por si ilustradas, como Ribatejo (1964), Braga e seu Distrito (1965), ou Portalegre, Marvão e Castelo de Vide (1970). Também foi tradutor, como por exemplo de Sete anos de aventuras no Tibete de Heinrich Harrer.

Como desenhador e aguarelista, realizou exposições em Lisboa (1925) e no Salão dos Humoristas do Porto (1926). Em 1983, na Galeria do Diário de Notícias, expôs profissões antigas e tipos característicos de Lisboa e três anos depois, publicou na Dom Quixote Tipos e Factos da Lisboa do Meu Tempo, com a memória de acontecimentos e curiosidades da vida de Lisboa, que foi  Prémio Júlio de Castilho da CML. Em 1988, expôs no Palácio dos Coruchéus todos os desenhos e aguarelas desse livro, espólio que a edilidade lisboeta adquiriu para o Museu da Cidade.  Em 1993, a Editorial Notícias lançou uma 2ª edição da obra, com mais textos e desenhos, bem como uma nota introdutória da Drª Salete Salvado. A última exposição de Calderon Dinis em Lisboa, foi realizada postumamente, em 1995, na Casa da Imprensa, por iniciativa de um grupo de amigos.

Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua do Arquitecto-chefe da Exposição do Mundo Português e d’ A Canção de Lisboa, Cottinelli Telmo

Freguesia dos Olivais
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O Arquiteto-Chefe da Exposição do Mundo Português de 1940 e também realizador do filme A Canção de Lisboa tem o seu nome perpetuado desde o ano de 1971 numa Praça dos Olivais.

Os impasses A1 e A1 – 1 do Plano de Urbanização da Quinta do Morgado passaram a constituir um único arruamento com a denominação de Praça Cottinelli Telmo, pelo Edital municipal de 14 de agosto de 1971, a cerca de um mês de se completarem 23 anos do falecimento deste arquiteto-cineasta. Refira-se ainda que 5 meses antes, o Edital municipal de 15 de março de 1971 colocara em praças próximas os nomes dos também  arquitetos Carlos Ramos e Faria da Costa.

Cottinelli Telmo ficou conhecido por ser o realizador de A Canção de Lisboa, rodada em 1933 nos estúdios da Tóbis Portuguesa, na Quinta das Conchas, no Lumiar, contando com um elenco composto por Beatriz Costa, António Silva,  Manoel de Oliveira (o cineasta), Teresa Gomes ou Vasco Santana.  Este filme estreou no Teatro São Luiz, no dia 7 de novembro de 1933  e tornou-se um modelo para o humor do cinema português das décadas de 30 e 40 do século XX. Diga-se que ainda no decorrer do seu curso de arquitetura, já Cottinelli Telmo havia colaborado  com a Lusitânia-Film, em 1918, na produção dos filmes Malmequer e Mal de Espanha, ambos de Leitão de Barros, e mais tarde, em 1932, em parceria com A.P. Richard, construiu o estúdio da Tóbis Portuguesa.

Animatógrafo, 8 de maio de 1933

O homenageado nesta Praça dos Olivais, de seu nome completo José Ângelo Cottinelli Telmo (Lisboa/13.11.1897 – 18.09.1948/Cascais), formado em Arquitetura pela Escola de Belas Artes de Lisboa no ano de 1920, assinou entre outras obras, o Pavilhão de Honra da Exposição do Rio de Janeiro (com Carlos Ramos e Luís da Cunha em 1922) e o Pavilhão Português da Exposição de Sevilha (1929), a Estação Fluvial do Sul e Sueste (1929-1931), a Standard Eléctrica (1945-1948), o Liceu D. João de Castro (1939), o projeto de construção do Jazigo Roque Gameiro no Cemitério dos Prazeres (1936) e, em 1940, foi o Arquiteto-chefe da Exposição do Mundo Português, tendo delineado o plano da Praça do Império, a sua Fonte Monumental, o Monumento dos Descobrimentos e a Porta da Fundação.

Cottinelli Telmo trabalhara para os Caminhos-de-Ferro (entre 1923 e 1943) e por isso, fora da cidade de Lisboa, foi o responsável pelos edifício de passageiros de Tomar (1932-34) e do Carregado (1933), da Colónia de Férias da CP na Praia das Maçãs (1943) e do Sanatório Ferroviário das Penhas da Saúde (1945). Por solicitação do  ministro Duarte Pacheco, integrou a Comissão das Construções Prisionais e foi assim autor das Cadeias de Alijó, Castelo Branco e Alcoentre (1937-1944), para além de outras obras como o Liceu de Lamego (1931), a Cidade Universitária de Coimbra (1943-1948) e o Plano de urbanização de Fátima. Ainda nesta área  refira-se que dirigiu a revista Arquitectos, no período de 1938 a 1942, e mais tarde, presidiu  ao Sindicato dos Arquitetos (1945-1948), onde foi responsável pela organização do I Congresso da classe, no ano de 1947.

Embora menos conhecido por essas facetas, Cottinelli Telmo foi também bailarino, autor de banda desenhada  – foi o criador do Pirilau, um dos primeiros heróis infantis portugueses, publicado no ABC – , fotógrafo (em campanhas pelo país com Mário Novais) e ainda, ilustrador em jornais e revistas nacionais.

A título póstumo, Cottineli Telmo foi agraciado em 1961 com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa e o seu nome integra também a toponímia dos concelhos do Amadora, Cascais (Parede), Seixal (Fernão Ferro) e Sintra (Mem Martins).

Freguesia dos Olivais
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua do pintor de Lisboa, Carlos Botelho

Freguesia do Beato
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Carlos Botelho fez de Lisboa a protagonista central das suas telas  e no próprio ano em que faleceu a edilidade lisboeta colocou-o como topónimo de uma Rua da freguesia do Beato, que era identificada como arruamento D do Plano de Reconversão Urbana da Curraleira-Embrechados, através do Edital municipal de 16 de novembro de 1982. A artéria foi aumentada em 2008,  com a incorporação da Rua 8 à Rua Carlos Botelho, através do Edital municipal de 3 de julho.

Carlos Botelho em 1968
(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa, Casa Fotográfica Garcia Nunes)

Carlos António Teixeira Basto Nunes Botelho (Lisboa/18.09.1894 – 18.08.1982/Lisboa) foi um artista multifacetado que trabalhou em cerâmica, banda desenhada, pintura, ilustração, caricatura. Filho único de pais músicos, Carlos Botelho aprendeu a tocar violino. Estudou no Liceu Pedro Nunes onde em 1918 fez a sua primeira exposição individual e no ano seguinte inscreveu-se na Escola de Belas Artes de Lisboa, que abandonou cerca de um ano depois, avançando como autodidata tal como Bernardo Marques ou Mário Eloy, outros nomes da sua geração.

Em 1924 empregou-se numa fábrica de cerâmica mas alguns êxitos em concursos de cartazes, levou-o em 1926 a dedicar-se exclusivamente à banda desenhada, à caricatura e à ilustração. Entre 1926 e 1929 produziu com regularidade pranchas de banda desenhada para o semanário infantil ABC-zinho. Também a partir de 1928 e durante 22 anos fez a página humorística Ecos da Semana, no semanário Sempre Fixe.

Em 1929 Botelho partiu para Paris, para frequentar as Academias Livres Grande Chaumière e Colarossi e a partir daí optou pela pintura, sendo desse ano o seu primeiro quadro de Lisboa: Uma vista do Zimbório da Basílica da Estrela. Nos anos 30, passou a integrar a equipa de decoradores do Secretariado de Propaganda Nacional, com Bernardo Marques, José Rocha, Tom e Fred Kradolfer, trabalhando na participação portuguesa em grandes mostras internacionais, como Paris, Lyon, Nova Iorque e São Francisco.  O ano de 1930 foi também aquele em que instalou o seu atelier na Costa do Castelo, na casa a que a sua mulher – Beatriz Santos Botelho com quem casara em 1922 e de quem teve dois filhos – tinha direito pela função de professora do ensino primário, e onde viveu até 1949. Em 1933 foi assistente de realização de Cottinelli Telmo no filme A Canção de Lisboa e cinco anos depois, em 1938 foi galardoado com o Prémio Sousa-Cardoso na Exposição de Arte Moderna do SNI pelo retrato de Músico Carlos Botelho (ou Meu Pai) e no seguinte  o 1º Prémio na Exposição Internacional de Arte Contemporânea de S. Francisco, o que lhe permitiu construir a casa-atelier no Buzano (Parede) onde se instalará em 1949.

Em 1940 também esteve na equipa de decoradores da Exposição do Mundo Português e recebeu o Prémio Columbano, para além de  conceber cenários e figurinos para a Companhia de bailados portugueses Verde Gaio, sendo a partir desta década que a paisagem urbana passou a ter um lugar central na sua obra, com Lisboa como tema primordial, que na década de 50 comportará experiências abstratizantes e será quase o seu único tema nas décadas seguintes.

Em 1955 voltou a residir em Lisboa, no então novo bairro do Areeiro e recebeu uma Menção de Honra por ocasião da III Bienal de S. Paulo, repetindo o prémio de 1951, a que somou em 1961, o 1º Prémio de Pintura na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian.

A obra de Carlos Botelho está representado em inúmeras colecções públicas e privadas, como no Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian ou no Museu de Arte Moderna de São Paulo e a Câmara Municipal de Lisboa instituiu um prémio com o seu nome para a melhor pintura sobre a cidade de Lisboa.

Carlos Botelho é ainda topónimo de uma Avenida na Brandoa, de um Largo em Linda-a-Velha, de Pracetas em Cascais, Corroios e São João da Talha, bem como de Ruas na Charneca da Caparica,  em Famões, na Parede, em Rio de Mouro e em São Domingos de Rana.

Freguesia do Beato
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Alberto de Sousa junto do seu mestre Roque Gameiro

Freguesia das Avenidas Novas
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Por sugestão da Direção do Ensino Superior e das Belas Artes do então Ministério da Educação Nacional, em carta datada de 29 de outubro de 1962, foram consagrados no Bairro de Santos à Rua da Beneficência os nomes dos pintores Alberto de Sousa (Rua B) , Alfredo Roque Gameiro (Rua O) e Falcão Trigoso (Rua K).

Ilustração Portuguesa, 12 de abril de 1924

Alberto de Sousa (Lisboa/06.12.1880 – 01.12.1961/Lisboa), conhecido discípulo de Roque Gameiro, notabilizou-se como desenhador, aguarelista e ilustrador.

Estudou nas Escolas Industriais do Príncipe Real, de Rodrigues Sampaio e de Machado de Castro, bem como no Grémio Artístico, na Sociedade Nacional de Belas Artes e na Escola de Belas Artes de Lisboa. Começou a a trabalhar aos 16 anos, em 1897, no atelier de desenho industrial da Companhia Nacional Editora que mestre Roque Gameiro dirigia. Aí  também se tornou discípulo do mestre na aguarela, na interpretação da paisagem, na representação de monumentos e de figuras portuguesas e ainda com Roque Gameiro, trabalhou na Litografia de Portugal para impressão de desenhos e aguarelas, conhecendo assim a técnica de gravura mais difundida na segunda metade do séc. XIX.

Já no grafismo, ilustração e design dos jornais Alberto de Sousa foi um continuador da escola de Rafael Bordalo Pinheiro, tendo colaborado nas três publicações fundamentais de humor de crítica à Monarquia e de lançamento do programa da República: António Maria, Pontos nos ii  e A Paródia.

Como aguarelista expôs pela primeira vez em 1901,  na inauguração da Sociedade Nacional de Belas Artes, onde recebeu uma medalha de Honra, assim como no Grémio Artístico e dez anos depois, participou numa mostra em Madrid. A sua primeira exposição individual, aconteceu em 1913, na galeria do vespertino A Capital, na sua sede da Rua do Norte, jornal no qual também trabalhou e na década de vinte passou a expor regularmente. Também foi agraciado com o Prémio Roque Gameiro do SNI e o Grand-Prix de Paris. Este artista que residiu na Rua de São Bento tem a sua obra representada no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado.

Alberto Sousa também colaborou com desenhos para os periódicos Ilustração Portuguesa de Carlos Malheiros Dias (a partir de 1903), O Mundo de França Borges, Vanguarda de Magalhães Lima, Serões de Manuel José da Silva, AtlântidaNovidades, República, bem como para a francesa L’Illustration, com a reconstituição do atentado de 1908 que vitimou o rei D. Carlos e o príncipe Luís Filipe que foi também reproduzido nas páginas do The Illustrated London News. Também se dedicou à ilustração de livros como em muitos tomos da Enciclopédia da Imagem, obras de Júlio Dantas e Eça de Queirós, assim como escreveu e editou o Traje Popular em Portugal nos séculos XVIII e XIX (1924), Traje Popular em Portugal nos séculos XVI e XVII (1926), entre outros.

Acresce que a partir de 1914  também foi conservador artístico na Inspeção das Bibliotecas e Arquivos Nacionais.

Em 1951, a edilidade lisboeta promoveu no Palácio Galveias uma Exposição de Alberto de Sousa e o seu nome integra também a toponímia de Ericeira, Évora, Mem Martins, Viana do Castelo.

Freguesia das Avenidas Novas
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua da ilustradora e pintora Raquel Roque Gameiro

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

A ilustradora Raquel Roque Gameiro foi homenageada no 2º Impasse à Rua Padre Francisco Álvares, uma artéria paralela ao 1º Impasse à Rua Padre Francisco Álvares, onde ficou o seu cunhado Leitão de Barros, na freguesia de São Domingos de Benfica, ambos pela publicação do Edital municipal de 4 de novembro de 1970, por sugestão do próprio Presidente da edilidade de então, Engº Santos e Castro.

Ilustração Portuguesa, 27 de novembro de 1911

Raquel Roque Gameiro Ottolini (Lisboa/15.08.1889 – 01.10.1970/Lisboa) foi uma pintora e ilustradora, filha primogénita e discípula do mestre aguarelista Alfredo Roque Gameiro, com Maria da Assunção de Carvalho Forte. Viveu a infância e juventude na Amadora, na Venteira, na hoje Casa Roque Gameiro, como o seu irmão Manuel e as suas irmãs Helena e Maria Emília (conhecida por Màmia) e foi a autora de um cartaz sedutor, para a firma de vinho do Porto Ramos Pinto, em que Pã espreme uvas para uma ninfa.

Estreou-se na ilustração em 1903, na literatura infantil dos Contos para Crianças de Ana de Castro Osório, bem como nas aguarelas para as exposições da Sociedade Nacional de Belas Artes a partir de 1909 e até 1937. Em ambos os casos, Raquel usava cores vivas, figuras de pescadores e camponeses, tipos e costumes de saloios dos arredores de Lisboa ou interiores rústicos e pobres mas airosos com chitas de ramagens. Em 1917, desenhou O Livro do Bébé, com versos de Delfim Guimarães, onde os pais podiam registar os momentos mais marcantes da vida do filho, desde o nascimento até a primeira comunhão. Na década de vinte, ilustrou obras de Adolfo Portela, Agostinho de Campos, António Sérgio, Augusto de Santa-Rita, Emília de Sousa Costa, Rodrigues Lapa, Sara Beirão e Tomás Borba, bem como na década seguida, entre outros, ilustrou o Livro de Leitura para a 1.ª Classe (1932) e, com Martins Barata e Emérico Nunes,  A lição de Salazar (1938).

Participou em várias mostras no país e no estrangeiro, como a Exposição de Artistas Portugueses no Rio de Janeiro e o Salão Internacional de Aguarela Hispano-Português de Madrid (1945). Teve destaque na “Exposição da Obra Feminina, antiga e moderna de caráter literário, artístico e científico”, organizada pelo jornal O Século e por Maria Lamas, em 1930. Foi distinguida com uma 1ª Medalha de Honra da SNBA (1929) e o prémio Ex-Libris da Imprensa Nacional. Está representada no Museu do Chiado-Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Museu José Malhoa nas Caldas da Rainha e no Museu de Arte Contemporânea de Madrid.

Refira-se que além da ilustração de livros e manuais escolares, Raquel Roque Gameiro também colaborou, sobretudo na década de trinta,  com diversas publicações periódicas como o ABCzinhoComércio do Porto, Diário de Notícias, O Domingo IlustradoEvaIlustração PortuguesaJoaninhaJornal dos Pequeninos,  LusitasModas e BordadosO MosquitoMickeyPortugal Feminino, O Século, Serões, Sphinx e Tic-Tac.

Raquel Roque Gameiro foi também professora particular de Desenho, Aguarela e Pastel. Manteve grupos de alunos, primeiro no atelier da família na Rua Dom Pedro V e depois, na sua casa de Benfica. Com o pai, Raquel caricaturou várias personalidades da Amadora, do que resultou uma coleção de desenhos com forte sentido humorístico.

Na sua vida pessoal, casou com o 4º Conde de Ottolini, Jorge Gomes Ottolini e foi mãe da ilustradora Guida Ottolini e de mais duas filhas e um filho, vivendo primeiro na casa da família da Amadora e mudando-se depois para Benfica, em Lisboa.

O seu nome está também atribuído à Escola do 1.º Ciclo do Ensino Básico/Jardim de Infância Raquel Gameiro, na Freguesia da Venteira, na Amadora, bem como a uma Praceta de Odivelas.

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

 

Luciano Freire, o pintor-restaurador que dirigiu o Museu dos Coches, numa Rua do Rego

Freguesia das Avenidas Novas
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Esta artéria que em Lisboa guarda a memória de Luciano Freire, notável pintor-restaurador da geração de 1890 que dirigiu o Museu dos Coches, nasceu no Plano de arruamentos da Quinta do Lagar Novo ao Rego, através do Edital municipal de 17 de Abril de 1934, que ali colocou mais sete topónimos de pintores para além do próprio Luciano Freire, a saber, Praça Nuno Gonçalves, Rua Cristóvão de Figueiredo, Rua Frei Carlos, Rua Gregório Lopes, Rua Jorge Afonso, Rua José Malhoa (que nunca saiu do papel da planta) e Rua Sanches Coelho.

Freguesia das Avenidas Novas (Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Luciano Freire era a Rua G do Plano de arruamentos da Quinta do Lagar Novo ao Rego e hoje liga a Praça Nuno Gonçalves à  Rua Alfredo Roque Gameiro, e homenageia Luciano Martins Freire (Lisboa/11.06.1864 – 28.01.1934/Lisboa), nascido na então freguesia da Encarnação (hoje, da Misericórdia), filho de Domingos Martins e de Virgínia Gomes Freire.

Luciano concluiu o curso de Pintura Histórica na Academia Real de Belas Artes em 1886,  onde foi discípulo de Miguel Lupi, Ferreira Chaves, Silva Porto e Tomás da Anunciação.  Logo no ano seguinte expôs pela primeira vez, na Sociedade Promotora de Belas Artes, um D. Sebastião, que pertence à Câmara Municipal de Lisboa, fase em que também pintou temas históricos nos estuques do Museu Militar. No final dessa década dedicou-se antes ao retrato e  à pintura de género, de que são exemplos as suas telas Catraeiros (1894) – que lhe valeu o titulo de académico de mérito da Academia Real de Belas Artes de Lisboa e ficou perdido num naufrágio em 1901, no regresso da Exposição Universal de Paris de 1900 -, Bucólica (1896) ou Desolação (1900), de evocação simbolista como já surgia em Perfume dos Campos (1899) – um dos raros exemplos da estética arte nova na pintura portuguesa – e  Eterno Escravo. Luciano Freire esteve em Paris e Londres e conheceu os progressos técnicos e culturais, tanto nas fábricas como no cinema, ficando a saber como eram as últimas correntes estéticas simbolistas, pelo que também não será de estranhar que  tenha sido o autor de temas expressamente relacionados com o mundo fabril (Gasómetro e Fábrica de Gás Lisboa, em Belém) e ferroviário (Construção da Linha de Cascais).

A sua obra encontra-se no  Museu Nacional de Arte Contemporânea-Museu do Chiado e está também representado no Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha.

Luciano Freire foi também professor de Modelo Vivo na Escola de Belas Artes, até aos seus 69 anos, entre 1896 e 1933, para além de a partir de 1889, trabalhar também como ilustrador de O Occidente.

Luciano Freire fotografado em 28 de maio de 1924 por Eduardo Portugal
(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa)

Era ainda um reconhecido restaurador de pinturas antigas, até a  nível internacional, sobretudo da pintura quatrocentista e quinhentista, somando mais de 500 obras restauradas, de onde sobressaem os famosos Painéis de São Vicente (entre 1909 e 1910). Luciano Freire fez  um aturado estudo e investigação sobre técnicas de conservação e restauro de pintura. Com os historiadores e críticos de arte Ramalho Ortigão, José Pessanha e José de Figueiredo, organizou também a Comissão de Inventariação e Beneficiação da Pintura Antiga de Portugal, organismo instituído em abril de 1910 e no qual se salientou como restaurador. Entretanto, Luciano Freire aderiu ao movimento republicano e participou no inventário dos bens dos paços reais e das congregações religiosas, tendo sido em 1911 nomeado diretor do Museu Nacional dos Coches, aberto em 1905, mantendo uma colaboração empenhada nos processos de organização e funcionamento do Museu Nacional de Arte Antiga, tanto no programa de restauro da colecção de pintura como no papel de diretor substituto de José de Figueiredo. A política de aquisição e de ofertas pessoais , seguida por Luciano Freirena para o Museu dos Coches, este passou a dispor também de desenhos, gravuras e material gráfico com os estudos e projetos para viaturas.

Luciano Freire exerceu ainda as funções de  secretário da Academia de Belas Artes (1900-1910) e de vogal, vice-presidente e presidente do Conselho de Arte e Arqueologia da 1.ª Circunscrição Artística (1911 e 1932), um  organismo do Ministério da Instrução Pública com a responsabilidade da salvaguarda, classificação, conservação e restauro do património artístico, histórico e arquitetónico português, pelo que conviveu com Columbano Bordalo Pinheiro, Veloso Salgado, João Vaz, Ernesto Condeixa, José Malhoa e Carlos Reis.

Refira-se que existiu uma proposta do Ministro da Instrução Pública de 27 de março de 1933, para que Luciano Freire recebesse a condecoração de Grande Oficial da Ordem da Instrução Pública mas esta nunca chegou a ser atribuída.

Na toponímia, o artista está presente como Rua Luciano Freire em Paio Pires, como Travessa Luciano Freire na Aroeira (Almada) e como Rua Luciano Martins Freire em Barcarena.

Freguesia das Avenidas Novas – Placa Tipo II
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Fernando Bento, pioneiro da banda desenhada portuguesa, numa Rua do Bairro do Oriente

Freguesia do Parque das Nações
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Desde 1998 que Fernando Bento, pioneiro da banda desenhada portuguesa, de traço original e inconfundível, que serviu de modelo a Eduardo Teixeira Coelho e outros das gerações seguintes, está homenageado numa Rua do Bairro do Oriente, na freguesia do Parque das Nações.

A Rua Fernando Bento, que liga a Rua Padre Abel Varzim à Rua Carlos Daniel, foi o topónimo atribuído à  Rua F do Bairro dos Retornados pelo Edital municipal de 24 de junho de 1998. O antigo Bairro dos Retornados, como era popularmente conhecido, foi renomeado como Bairro do Oriente no dia 7 de maio de 1999 e as suas artérias, até aí denominadas por letras, passaram a ostentar nas suas placas toponímicas os nomes de vários artistas, como Fernando Bento, os cantores António Variações e Carlos Paião, os atores Mário Viegas e Carlos Daniel, o compositor Jaime Mendes e o Palhaço Luciano.

Fernando Trindade Carvalho Bento (Lisboa/26.10.1910 – 19.09.1996*/Lisboa) nasceu  na Praça das Flores 21 dias após a implantação da República em Portugal, filho de um pintor de cenários e de cartazes do Coliseu dos Recreios e tornou-se  a partir de 1938 um autor de banda desenhada portuguesa, modelo para os desenhadores das gerações seguintes, como Eduardo Teixeira Coelho. Refira-se ainda neste mês de junho que Fernando Bento foi também o primeiro a fazer uma biografia de Santo António em banda desenhada, em 1943, para o Diabrete nº 128.

Antes de se dedicar em força à  9ª Arte, Fernando Bento fizera apenas o curso de desenho por correspondência da escola de desenho ABC de Paris. A partir de 1935, trabalhou como figurinista e cenógrafo no Coliseu de Lisboa e, dois anos depois, com 27 anos de idade, fez a sua primeira exposição individual. Ainda na década de trinta do séc. XX, Fernando Bento teve uma fase em que publicava caricaturas na imprensa escrita, primeiro no Coliseu Os Sports, como depois no Diário de Lisboa. E como em Portugal nunca a profissão de artista de banda desenhada foi remunerada de forma a permitir ser a única ocupação, desde muito cedo que Fernando Bento era funcionário da British Petroleum, pelo que com o lançamento da revista BP foi convidado a participar nela e tornou-se até  seu diretor mais tarde. Quando se reformou da BP, abriu um gabinete de publicidade.

Filipim de Fernando Bento

Publicou as suas primeiras histórias aos quadradinhos em 1938, no suplemento infantil do jornal República, o Pim-Pam Pum versando geralmente temas desportivos como O Mais Importante Desafio de Futebol da Época ou A Volta A Portugal em Bicicleta. A partir de 1941 e de parceria com Mário Costa,  assegurou o grafismo do Pim-Pam Pum durante quase 20 anos,  até 1959, tendo aí também publicado 14 séries, onde  se destaca A Volta ao Mundo Por Pim Pam Pum (1941-1942) e As Férias de Pim Pam e Pum (1942) e mais 836 tiras e 49 pranchas de uma página de sua autoria. Em paralelo, trabalhou também na revista infantil Diabrete (1941 a 1951), onde foi maquetista, ilustrador de capas e autor das bandas desenhadas de adaptações de obras de Júlio Verne, Conan Doyle, Kipling ou  Mark Twain,  bem como de outras com argumento didático-histórico de Adolfo Simões Muller, para além das suas personagens cómicas  AnitaZé Quitolas ou Zuca. Da sua ligação a  Adolfo Simões Muller resultaram  também ilustrações para a literatura infantil deste. Em 1946, fez uma adaptação para banda desenhada do filme de Robert Vernay de 1942, Le Comte de Monte-Cristo, com um estilo aproximado da fotografia, para suporte de uma folha volante de publicidade e o seu enorme sucesso garantiu-lhe de seguida a passagem  das suas histórias para os manuais escolares de inglês e francês dessa época. A partir de 1952, Fernando Bento instalou-se na revista juvenil Cavaleiro Andante, para dar vida a inúmeras séries como Beau Geste – que foi editada na BélgicaO Anel da Rainha do Sabá ou Quintino Durward, que era a sua favorita. Até 1962 foi para esta revista que também produziu anúncios, capas,  37 séries e 175 histórias curtas. De igual modo, para o Pagem, o  suplemento infantil do Cavaleiro Andante, não faltaram as suas histórias cómicas do Zé Quitolas, da Anita e do Filipim.

Depois, só voltou a publicar em  1973, com um grafismo mais modernista, 16 pranchas inéditas intituladas Um Homem Chamado Joaquim Agostinho, impressas diariamente nas páginas de A Capital , entre 5 e 20 de agosto desse ano. Essa década foi também a das  reedições das suas obras para o suplemento Nau Catrineta do Diário de Notícias (1975), A Ilha do Tesouro (1977) e Serpa Pinto (1979) para o Templário Juvenil, bem como Luís de Camões e Alguns Passos de ‘Os Lusíadas’ para o Boletim do Serviço de Biblioteca Itinerantes da Fundação Gulbenkian, tendo assim continuado a acontecer nos anos 80 para as revistas Mundo de Aventuras Quadradinhos. Foram também reeditados os álbuns Beau Geste (1982), Com a Pena e com a Espada (1983), O Anel da Rainha do Sabá  e As mil e Uma Noites (ambos em 1988). No início da década de 90, Fernando Bento nos seus 80 anos de idade,  retomou a sua A Ilha do Tesoiro de 1947, desta feita com argumento de Jorge Magalhães e o titulo de Regresso à Ilha do Tesouro (1993), para além de ter sido reeditado no  Almada BD Fanzine (1990), nos Cadernos Sobreda-BD (1991 e 2002) e no fanzine Zero  da Póvoa do Varzim ( de 1990 a 1998).

Fernando Bento foi agraciado com o troféu O Mosquito (1983) pelo Clube Português de Banda Desenhada, assim como postumamente foi homenageado em 2010, no 1º centenário do seu nascimento, através de uma exposição  que esteve patente em Moura, Sobreda, Viseu e Beja, assim como por outra, exibida na Amadora, concelho que em 2016, também acolheu uma nova mostra, no Clube Português de Banda Desenhada.

A Câmara Municipal de Lisboa, através da Bedeteca, já o havia homenageado através da publicação de Fernando Bento – Uma Ilha de Tesouros ou  Diabruras da prima Zuca (ambos em 1998), mas no ano seguinte consagrou-o também na toponímia lisboeta. O seu nome consta também da toponímia da Sobreda, no concelho de Almada.

Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

a data de falecimento foi a indicada pelo filho de Fernando Bento, em 1999, para a elaboração da brochura publicada para a inauguração da Rua Fernando Bento

Os desenhadores, pintores e escultores de Lisboa

No mês das Festas de Lisboa, em que a cidade se enche de imagens e de colorido de arco e balão vamos avançar por aqueles que nascidos ou não em Lisboa contribuíram para o imaginário alfacinha pelo desenho, pela ilustração, pela pintura e pela escultura.

Já antes aqui publicámos artigos, ou brochuras, sobre os seguintes  desenhadores, caricaturistas, ilustradores, pintores e escultores:

  1.  Avenida Columbano Bordalo Pinheiro
  2.  Avenida José Malhoa
  3.  Jardim Amélia Carvalheira
  4. Largo Artur Bual
  5. Largo Francisco Smith
  6. Largo Júlio Pereira
  7. Largo Luís Dourdill
  8. Largo Rafael Bordalo Pinheiro
  9. Praça Cottinelli Telmo
  10. Praça José Queirós
  11. Praça Nuno Gonçalves
  12. Rua Alfredo Roque Gameiro
  13. Rua Almada Negreiros
  14. Rua Amadeu de Sousa Cardoso
  15. Rua Amarelhe
  16. Rua António Dacosta
  17. Rua António Duarte
  18. Rua Augusto Pina
  19. Rua Bernardo Marques
  20. Rua Carlos Reis
  21. Rua Cipriano Dourado
  22. Rua Domingos Rebelo
  23. Rua Domingos Sequeira
  24. Rua Eduarda Lapa
  25. Rua Eduardo Viana
  26. Rua Francisco Metrass
  27. Rua Frederico George
  28. Rua Hein Semke
  29. Rua João Anastácio Rosa
  30. Rua João Hogan
  31. Rua Jorge Barradas
  32. Rua Jorge Vieira
  33. Rua José Dias Coelho
  34. Rua José Escada
  35. Rua José Farinha
  36. Rua Josefa de Óbidos
  37. Rua Leandro Braga
  38. Rua Leitão de Barros
  39. Rua Maluda
  40. Rua Manuel Guimarães
  41. Rua Marciano Henriques da Silva
  42. Rua Mário Botas
  43. Rua Mário Cesariny
  44. Rua Mário Dionísio
  45. Rua Raul Carapinha
  46. Rua Sá Nogueira
  47. Rua Sara Afonso
  48. Rua Severo Portela
  49. Rua Simões de Almeida
  50. Rua Sousa Lopes
  51. Rua Sousa Pinto
  52. Rua Stuart Carvalhais
  53. Rua Teixeira Lopes
  54. Rua Tenente Espanca
  55. Rua Tomás da Anunciação
  56. Rua Veloso Salgado