Desde 1927 fundador e diretor da revista Presença, José Régio também se cruzou com dois dos artistas que elaboraram artigos sobre arte e capas para a publicação, que neste artigo juntamos por serem o casal Almada Negreiros e Sara Afonso, ambos topónimos de Ruas nas Freguesias dos Olivais e em Belém, respectivamente desde 1970 e 1988.
A estudar em Coimbra onde se licenciou em 1925, José Régio conheceu na Universidade Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões com os quais fundou e dirigiu a revista Presença – Folha de Arte e Crítica. O primeiro número saiu em 10 de março de 1927 e esta publicação vai marcar a história do modernismo em Portugal. Ao longo de 13 anos e 54 números, até encerrar em 1940, a Presença contou com inúmeras colaborações de nomes da cultura portuguesa como António Botto, António Navarro, Arlindo Vicente, Casais Monteiro, Delfim Santos, Diogo de Macedo, Edmundo de Bettencourt, Irene Lisboa, José Marinho, Luís de Montalvor, Maria Helena Vieira da Silva, Miguel Torga ou Saul Dias (pseudónimo usado pelo irmão de José Régio, Júlio Pereira), entre outros. A Presença foi ainda essencial para divulgar em Portugal autores estrangeiros como Apollinaire, Cecília Meireles, Ibsen, Dostoiesvky, Jorge Amado, Marcel Proust, Paul Valéry ou Pirandello.
José Sobral de Almada Negreiros (S. Tomé e Príncipe – Roça da Saudade/07.04.1893 – 15.06.1970/Lisboa), artista multifacetado das artes plásticas e da literatura, que fez coreografia para bailado, caricatura, pintura a óleo, tapeçaria, gravura, pintura mural, mosaico, azulejo e vitral, deu o seu nome a uma rua dos Olivais praticamente um mês após o seu falecimento: faleceu a 15 de junho de 1970, no Hospital de S. Luís dos Franceses, mesmo ao cimo da Rua Luz Soriano, no mesmo quarto onde morrera o seu amigo Fernando Pessoa e a 11 de julho seguinte, um Edital municipal colocou o seu nome na artéria referenciada como Rua E 2 da Célula E dos Olivais Sul, incluindo os Impasse EJ, 3D, 3D1, EU e EV e abrangendo os lotes 454 a 462, 470a 474, 487a 494 e 504 a 506.
Essencialmente autodidata, publicou em 1911 os primeiros desenhos e caricaturas e, no ano imediato, redigiu e ilustrou de forma integral o jornal manuscrito A Paródia, para em 1913 voltar a participar na Exposição dos Humoristas Portugueses, preparar o primeiro projeto de bailado (O sonho da rosa), desenhar o primeiro cartaz (Boxe) e, em 1914 ser diretor artístico no semanário monárquico Papagaio Real, para além de ter sido colaborador da revista Orpheu em 1915, veículo de introdução do modernismo em Portugal, onde conviveu de perto com Fernando Pessoa e, publicou o «Manifesto Anti-Dantas e por extenso», por ocasião da estreia da peça de teatro Soror Mariana Alcoforado de Júlio Dantas, reagindo assim às críticas negativas deste à Orpheu segundo a «estética do soco» de Marinetti. Ainda nesse ano escreve a novela A engomadeira (publicada em 1917) e o poema A cena do Ódio (publicado parcialmente em 1923). Em 1917, publicou a novela K4 O Quadrado Azul, realizou a conferência Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX e colaborou no único número de Portugal Futurista, revista apreendida pela polícia pela inclusão da novela Saltimbancos do próprio Almada , considerada obscena por mencionar cavalos a cobrirem éguas. De 1920 para a frente Almada colaborou em diversos jornais e revistas, publicando desenhos humorísticos, textos e ilustrações; realizou capas de livros e revistas; publicou Invenção do Dia Claro (1921) e escreveu o romance Nome de Guerra (em 1925 e publicado em 1938); produziu quadros para A Brasileira do Chiado (1925) e para o Bristol Club (1926); escreve a peça Deseja-se Mulher dedicada a Sarah Afonso; cria o cartaz político Votai a Nova Constituição (1933); colabora com Pardal Monteiro com os vitrais para a Igreja de Nossa Senhora de Fátima (1934) e a decoração do edifício do Diário de Notícias (1935); executou as pinturas murais da Gare Marítima de Alcântara (1945-1947) e da Rocha do Conde de Óbidos (1946- 1948); pintou o retrato de Fernando Pessoa (1954), realizou painéis decorativos para a Cidade Universitária (1957 – 1961) e o painel de pedra geométrico para o átrio do edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian (1968-1969), fazendo a sua derradeira intervenção pública no programa televisivo Zip-Zip, em julho de 1969.
Sarah Affonso que sobreviveu treze anos a Almada, só foi nome de rua dezoito anos depois de ele o ser, na artéria que antes era vulgarmente conhecida por Rua da Cooperativa de Caselas, pelo Edital municipal de 20 de abril de 1988 que atribuiu 12 topónimos em ruas, sendo 7 de mulheres, a saber: a pintora Sara Afonso e 1ª mulher a frequentar as tertúlias de A Brasileira (Rua da Cooperativa de Caselas), a médica Carolina Ângelo e 1ª mulher a votar em Portugal (Rua 1), a republicana setecentista Leonor Pimentel (Rua 2), a pedagoga Alice Pestana (Rua 3), Virgínia Quaresma a 1ª jornalista portuguesa (Rua 4), a 1ª notária portuguesa Aurora de Castro (Rua 6) e a escritora Olga Morais Sarmento (Rua 7).
Sarah Affonso (Lisboa/ 13.05.1899 – 14.12.1983/Lisboa) foi uma pintora e ilustradora que foi uma das últimas discípulas de Columbano na Escola de Belas Artes de Lisboa, a que somou duas estadias em Academias livres de Paris (1923-1924 e 1928-1929) e a frequência das tertúlias de A Brasileira, nos anos trinta do séc. XX, que até aí eram território masculino. Produziu um estilo oriundo do imaginário popular minhoto, zona onde viveu dos 4 aos 15 anos, a que aliou uma intensa temática de noivados, maternidades e famílias. Sara integrou a segunda geração de pintores modernistas portugueses, com Bernardo Marques, Mário Eloy ou Carlos Botelho. Acabou por abandonar a pintura no final da década de quarenta, tendo ainda sido galardoada com o Prémio Amadeo de Sousa Cardoso (1944) do SNI. Na década seguinte regressou à ilustração, em obras de literatura infantil com A Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner Andresen, para além de na sua carreira ter colaborado no grafismo das revistas Presença e Eva. A sua obra pictórica está representada no Museu do Chiado, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, bem como nos Museus de Bragança e de Amarante, tendo sido agraciada com Ordem de Santiago de Espada (1981). Dá também nome à Escola Básica e Jardim de Infância sita na Rua Almada Negreiros, nos Olivais.
José de Almada Negreiros e Sarah Affonso casaram 1934, residiram no nº 42 da Rua de São Filipe Nery, tendo tido dois filhos: José Afonso e Ana Paula.
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