Os lugares e a geração de Ramalho Ortigão na Toponímia de Lisboa

António Maria, 03.07.1879

António Maria, 03.07.1879

Neste mês em que passa o centenário da morte de Ramalho Ortigão, dedicamos-lhe o nosso tema mensal  – Os lugares e a geração de Ramalho Ortigão na Toponímia de Lisboa – , abordando as pessoas com quem mais privou e as artérias alfacinhas que sabemos que percorreu em alguma parte da sua vida.

Quase 17 anos após o seu falecimento foi Ramalho Ortigão inscrito na Rua D do projecto aprovado em sessão de 15/05/1930, através do Edital municipal de 12 de março de 1932, como Rua de Ramalho Ortigão, tendo sido a partícula «de» retirada posteriormente, por parecer da Comissão Municipal de Toponímia ( homologado em 16 de abril de 1951).

Placa Tipo IV - Freguesias das Avenidas Novas e de Campolide (Foto: Sérgio Dias)

Placa Tipo IV – Freguesias das Avenidas Novas e de Campolide
(Foto: Sérgio Dias)

Este arruamento perpetua na memória de Lisboa a figura de José Duarte Ramalho Ortigão (Porto/24.10.1836 – 27.09.1915/Lisboa), jornalista e escritor que em 1865 interveio na Questão Coimbrã em defesa de Castilho e contra Antero – chegando ao ponto de concretizarem um duelo de espada -,  e que a partir de 1870 se ligou a Eça de Queirós – de quem aliás tinha sido professor de Francês no Colégio da Lapa que dirigiu – e ao Grupo das Conferências do Casino, publicando ambos O Mistério da Estrada de Sintra (1870), que marca o aparecimento do romance policial em Portugal. Ainda em parceria com Eça de Queirós, vieram a lume em 1871 os primeiros folhetos de As Farpas, dos quais resultarão a compilação de dois volumes sob o título Uma Campanha Alegre. Quando no ano seguinte Eça partiu para Havana, para o seu primeiro cargo consular no estrangeiro, Ramalho Ortigão passou a redigir As Farpas sozinho.

Como membro da Geração de 70 Ramalho Ortigão procurou numa primeira fase aproximar Portugal das sociedades modernas europeias, cosmopolitas e anticlericais, mas numa segunda fase voltaram-se para as raízes de Portugal e aí nasceu o grupo Os Vencidos da Vida, do qual fizeram parte o Conde de Sabugosa, o Conde de Ficalho, o Marquês de Soveral, o Conde de Arnoso, Antero de Quental, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro, Carlos Lobo de Ávila, Carlos de Lima Mayer e António Cândido, para além do rei D. Carlos I ter sido eleito por unanimidade «confrade suplente do grupo».

No jornalismo Ramalho iniciou-se no Jornal do Porto e ao longo da sua vida colaborou em inúmeras publicações como Gazeta Literária do Porto; O Ocidente; RenascençaO António MariaGaleria Republicana;  Revistas de Estudos Livres; A Imprensa; A semana de Lisboa: suplemento do Jornal do Comércio; Branco e Negro; Brasil-Portugal; Serões; O ThalassaContemporânea; Acção realista.

A partir de 1867 radicou-se em Lisboa, tendo morado nas águas furtadas do nº 6 da Rua João Pereira Rosa, e trabalhou como Secretário da Academia das Ciências de Lisboa e, com Teófilo Braga, organizou as comemorações do centenário de Camões e foi bibliotecário da Real Biblioteca da Ajuda, cargo de que se demitiu após a implantação da República e, na sequência do assassínio do Rei, em 1908, em que publicou D. Carlos o Martirizado. Exilou-se voluntariamente em Paris, onde começou escrever as Últimas Farpas (1911-1914), contra o regime republicano. Na sua obra escrita refiram-se também Banhos de Caldas e Águas Minerais (1875), As Praias de Portugal (1876) e Teófilo Braga: Esboço Biográfico (1879).

Ramalho Ortigão somou ao longo da vida os cargos de Secretário da Academia das Ciências, Bibliotecário na Real Biblioteca da Ajuda, Vogal do Conselho dos Monumentos Nacionais, membro da Sociedade Portuguesa de Geografia, da Academia das Belas-Artes de Lisboa, da Sociedade Portuguesa de Geografia, do Grémio Literário, do Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro e da Sociedade de Concertos Clássicos do Rio de Janeiro.

Regressou do exílio parisiense em 1912 e vítima de cancro, recolheu-se na casa de saúde do Dr. Henrique de Barros, na então Praça do Rio de Janeiro (hoje do Príncipe Real), onde faleceu em setembro de 1915.

Freguesia das Avenidas Novas (Foto: Sérgio Dias)

Freguesias das Avenidas Novas e de Campolide
(Foto: Sérgio Dias)