A Rua José Rodrigues Miguéis de Saudades para a Dona Genciana

Freguesia de Benfica
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

José Rodrigues Miguéis, autor do conto «Saudades para a Dona Genciana», desde o ano seguinte ao seu falecimento tem o seu nome inscrito na toponímia de Lisboa, numa artéria da freguesia de Benfica, a unir a Estrada de Benfica à Rua Prof. José Sebastião e Silva.

A Rua José Rodrigues Miguéis ficou na Rua C à Estrada de Benfica através do Edital municipal de 1 de junho de 1981, em resultado da Proposta nº 198/80, subscrita pelos vereadores do Partido Socialista, aprovada por unanimidade na reunião camarária de 5 de novembro de 1980.

José Claudino Rodrigues Miguéis (Lisboa/09.12.1901 – 28.10.1980/Nova Iorque – E.U.A. ), nascido no nº 13 da Rua da Saudade, filho de uma beirã e de um galego republicano, formou-se em Direito pela  pela Universidade de Lisboa em 1924 e exerceu a advocacia, foi delegado do Ministério Público e professor do ensino secundário oficial e particular. Em 1933 licenciou-se em Ciências Pedagógicas na Universidade Livre de Bruxelas após o que, com Raúl Brandão, dirigiu um conjunto inacabado de Leituras Primárias, obra que nunca viria a ser aprovada pelo governo. Impedido de ser docente em Portugal, expatriou-se em 1935 para os Estados Unidos da América, voltando esporadicamente a Portugal e em 1942 adquiriu a nacionalidade americana. A partir desse ano e durante cerca de dez anos, exerceu funções de Assistant Editor das Seleções do Reader’s Digest, para além de colaborar regularmente na imprensa de Lisboa e se dedicar à tradução de obras de Stendhal, Carson McCullers, Erskine Caldwell ou F.Scott Fitzgerald.

Como escritor, a sua obra configura sínteses originais do presencismo e do neorrealismo, com mestria no uso da ironia e do humor. As suas novelas e contos fizeram de Rodrigues Miguéis uma referência obrigatória e um dos melhores no género: Páscoa Feliz (1932) – Prémio da Casa da Imprensa – retrato da desagregação mental do sujeito até ao limite da loucura e do crime; Onde a Noite se Acaba (1946), sobre a dissolução do sujeito associada a elementos fantásticos;  Léah e Outras Histórias (1958) – o primeiro Prémio Camilo Castelo Branco – onde se inclui  «Saudades para a Dona Genciana», considerada a obra-prima da ficção migueisiana, em que Dona Genciana representa o espaço humano da Avenida (Almirante Reis) e esta é a cidade de Lisboa; Um Homem Sorri à Morte – Com Meia Cara (1959), experiência autobiográfica; Gente da Terceira Classe (1962), sobre a condição do imigrante. Foi ainda publicado Pass(ç)os Confusos (1982), uma reedição do livro de contos Comércio com o Inimigo (1973), com um conjunto de narrativas antes publicadas na imprensa.

Publicou também 6 romances:  Uma Aventura Inquietante (1958), policial que denuncia as arbitrariedades da Justiça, antes publicado – entre 1934 e 1936- no jornal O Diabo, sob o pseudónimo de Ch. Vander Bosh; A Escola do Paraíso (1960), centrada na infância do herói entre o fim da Monarquia e os alvores da República; Nikalai! Nikalai! (1971), sobre uma comunidade de russos brancos em Bruxelas que pretende repor no trono o czar Nikalai; O Milagre segundo Salomé (1975), fresco da sociedade lisboeta com a degradação dos sonhos republicanos que culminaria no 28 de maio de 1926; O Pão Não Cai do Céu (1981), antes saído como folhetim no Diário Popular, focado no cigano como herói e símbolo unificador da luta pela terra e pela liberdade na planície alentejana; Idealista no Mundo Real (1986) que problematiza as contradições de um jovem magistrado colaborador da Seara Nova em busca da sua identidade ideológica e social.

A crónica surgiu em É Proibido Apontar – Reflexões de um Burguês I (1964), O Espelho Poliédrico (1973), As Harmonias do Canelão – Reflexões de um Burguês II (1974) e, postumamente,  Aforismos & Desaforismos de Aparício (1996) que reuniu textos publicados no Diário Popular sob o título de Tablóides. As suas obras foram traduzidas em alemão, checo, francês, inglês, italiano, polaco e russo.

Desde os anos vinte do séc. XX que colaborou na imprensa portuguesa. Com Bento de Jesus Caraça dirigiu O Globo, semanário que viria a ser proibido pela censura em 1933 e ao longo da vida foi colaborador da Seara Nova, da Revista de Portugal e dos jornais Alma Nova, O Diabo, Diário Popular, Diário de Lisboa e República.

Foi também membro eleito da Hispanic Society of America (1961) e académico correspondente da Academia das Ciências de Lisboa (1976), tendo sido agraciado como Grande-Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada (1979) e, em 1998, Diana Andringa conseguiu finalmente realizar o documentário «José Rodrigues Miguéis — Um homem do povo na história da República» para a RTP, que esteve previsto para 1980.

José Rodrigues Miguéis é também topónimo nos concelhos de Almada, Amadora, Entroncamento, Gondomar, Montijo, Odivelas, Ovar, Póvoa de Varzim, Seixal, Sesimbra e Sintra.

Freguesia de Benfica
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua António Alçada Baptista de «Os Nós e os Laços»

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

António Alçada Baptista, autor do romance  Os Nós e os Laços e escritor que se definiu pelas palavras liberdade e afeto, é topónimo de uma Rua da Urbanização Benfica Stadium,  na freguesia de São Domingos de Benfica, desde a publicação do Edital municipal de 30 de abril de 2014, com a legenda «Escritor/1927 – 2008».

Alçada Baptista fixou-se como topónimo na Urbanização Benfica Stadium pelo Edital nº 33/2014 e pelo nº 34/2014, do mesmo dia 30 de abril de 2014, ficaram também no mesmo bairro a poetisa Natércia Freire e a investigadora de literatura portuguesa Luciana Stegagno Picchio, tendo aliás a inauguração oficial dos três topónimos ocorrido em simultâneo, no dia 29 de janeiro de 2016.

António Alfredo da Fonseca Tavares Alçada Baptista (Covilhã/29.01.1927 – 07.12.2008/Lisboa) foi um dos grandes divulgadores da cultura portuguesa, tendo também contribuído para ela como escritor, editor e militante do Centro Nacional de Cultura desde o  início dos anos 50 à primeira década do século XXI. Enquanto escritor, foi sobretudo romancista mas também ensaísta. Da sua relevante obra literária, destacam-se os seus dois tomos de O Tempo nas PalavrasPeregrinação Interior (1971 e 1982), Conversas com Marcello Caetano (1973), O Anjo e a Esperança (1982), a sua estreia como romancista em Os Nós e os Laços (1983), que recebeu o Prémio Literário Município de Lisboa (1985) e o Prémio P.E.N. Clube Português de Novelística (1986), bem como Catarina ou o Sabor da Maçã (1988) ou Tia Suzana, Meu Amor (1989), assim como O Riso de Deus (1994), a obra de memórias A Pesca à Linha (1998), O Tecido do Outono (1999) ou A Cor dos Dias (2003).

Como editor, apostou na aventura editorial da sua «casa de reflexão e poesia», a Moraes Editora, que dirigiu de 1957 a 1972, tendo contribuído para a revelação ou divulgação de autores portugueses, como Vitorino Nemésio, Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge de Sena, Alexandre O’Neill, Pedro Tamen, Ruy Belo, António Ramos Rosa, e estrangeiros, como Emmanuel Mounier ou Jean-Marie Domenach. Também a partir desta editora publicava a  revista Concilium, dirigida por Helena Vaz da Silva. Acresce que os livros que a Moraes publicava eram frequentemente apreendidos, causando elevados prejuízos à editora, que acabaria por falir em 1980.

Como jornalista, fundou e dirigiu a revista O Tempo e o Modo, de 1963 a 1969, cujo corpo redatorial era maioritariamente constituído por católicos contestatários da relação entre a Igreja e o Estado Novo, mas também por democratas de outras áreas de esquerda, de que se recordam Pedro Tamen, Nuno Bragança, João Bénard da Costa ou Mário Soares, Salgado Zenha ou Jorge Sampaio.  Entre fevereiro de 1977 e abril de 1978, foi director do jornal diário Dia, sucedendo a Vitorino Nemésio e, entre 1992 e 2006, escreveu crónicas para a revista Máxima. Antes de dirigir O Dia, foi colaborador regular de A Capital, conforme recorda Appio Sottomayor que ainda acrescenta que «Era aliás frequente a sua presença na redacção, então situada na Travessa do Poço da Cidade. Entregava os originais, conversava e, regra geral, almoçava com alguns jornalistas.»

Licenciado pela Faculdade de Direito de Lisboa, onde ingressara em 1945, esteve desde jovem ligado aos chamados católicos progressistas. Advogado de formação foi advogado de defesa de presos políticos nos Tribunais Plenários. Em março de 1957, foi um dos 72 advogados de Lisboa e do Porto que assinaram uma representação ao ministro da Presidência pedindo um «inquérito à PIDE». Em 1958, apoiou a candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República. Em 1959 assinou, com outros oposicionistas, um documento em que se pedia a Salazar que por ocasião da sua última lição em Coimbra, «se verifique também o seu afastamento da vida política». Em 1961, foi candidato em Castelo Branco na lista da Oposição tal como em 1969, na lista da CDE. Entre 1971 e 1974, foi assessor para a Cultura do então ministro da Educação Nacional, Veiga Simão.

Na Secretaria de Estado da Cultura, onde entrou em 1980, chefiou os trabalhos de criação do Instituto Português do Livro, de que foi presidente até 1986, desenvolvendo as relações culturais com os países lusófonos, designadamente Cabo Verde, Moçambique e Brasil, bem como a estimulação da Rede Nacional de Biblioteca Públicas, o patrocínio da reedição de clássicos da literatura portuguesa e a organização do Dicionário Cronológicos dos Autores Portugueses. Foi presidente das Comemorações do Cinquentenário da Morte de Fernando Pessoa (1985) e da Comissão de Avaliação do Mérito Cultural, administrador e consultor da Fundação Oriente ( a partir de 1996), presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, de 1988 a 1998. A sua dedicação à cultura da língua portuguesa valeu-lhe a indigitação para adido cultural de Portugal no Brasil.

Na sua vida pessoal, casou em 1950 com Maria José de Magalhães Coutinho Guedes de quem teve sete filhos e residiu em Lisboa na Rua de São Marçal.

Foi sócio da Academia das Ciências de Lisboa e membro correspondente da Academia Brasileira de Letras, bem como agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (1983) e a Grã-Cruz da Ordem do Infante (1995), Medalha de Mérito Municipal da Covilhã (1999) e, postumamente, com a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores (2009) e a criação do Prémio António Alçada Baptista de Literatura Memorialista e Autobiográfica, a que acresce que, para além de Lisboa, também em Almada, na Urbanização da Quinta do Gil da Charneca da Caparica é topónimo de uma Rua.

Freguesia de São Domingos de Benfica
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

Rua Matilde Rosa Araújo

Freguesia da Penha de França
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Desde há dois anos que a escritora Matilde Rosa Araújo, autora de mais de 40 títulos para adultos, jovens e crianças, dá nome ao arruamento onde está sediada a Escola Patrício Prazeres,  unindo a Avenida Mouzinho de Albuquerque ao Alto do Varejão, na Freguesia da Penha de França,  passados que eram seis do seu falecimento.

Em 2010, no ano da morte da escritora, o voto de pesar da Assembleia Municipal de Lisboa, aprovado por unanimidade, solicitava que o seu nome fosse dado a uma artéria lisboeta, a que se somou no mesmo ano um pedido no mesmo sentido da  direção e conselho de administração da SPA- Sociedade Portuguesa de Autores, sendo pelo Edital municipal de 10 de novembro de 2016 que a Quinta das Comendadeiras passou a denominar-se Rua Matilde Rosa Araújo, com a legenda «Escritora/1921 – 2010».

Matilde Rosa Araújo (Lisboa/20.06.1921 – 06.07.2010/Lisboa) notabilizou-se como escritora de ficção e poesia, mais conhecida pela literatura infantil, embora se tenha estreado em 1943, ao vencer o  concurso «Procura-se um Novelista» do jornal O Século, sendo Aquilino Ribeiro um dos membros do júri, com A Garrana, uma história sobre a eutanásia. Para o público adulto escreveu, entre outros, Estrada Sem Nome (1947) – obra galardoada num concurso de contos da Faculdade de Letras de Lisboa-, A Escola do Rio Verde (1950), Praia Nova (1962),  a poesia de Voz Nua (1982), A Estrada Fascinante (1988) e O Chão e as Estrelas (1997).

Contudo, ficou mais conhecida pela literatura infantil e juvenil que só produziu a partir de 1957, com O Livro da Tila, escrito nas viagens de comboio entre Lisboa e Portalegre, para ir dar aulas, e cujos poemas foram musicados por Fernando Lopes Graça.  Seguiram-se, entre outros,  O Palhaço Verde (1960) considerado o melhor livro estrangeiro pela associação Paulista de Críticos de Arte de São Paulo (em 1991), História de um Rapaz (1963), os poemas O Cantar da Tila (1967), O Sol e o Menino dos Pés Frios (1972), O Reino das Sete Pontas (1974),  O Gato Dourado (1977), Camões Poeta, Mancebo e Pobre (1978), Mistérios (1980), A Velha do Bosque (1983), O Passarinho de Maio (1990), As Fadas Verdes (1994), Capuchinho cinzento ( 2005) ou História de uma flor (2008). Recebeu da Fundação Calouste Gulbenkian o Grande Prémio de Literatura para Crianças (1980) e o Prémio do Melhor Livro Infantil (1996).

Nascida em Benfica, numa quinta dos avós, Matilde estudou em casa com professores particulares até ter entrado para a Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa,  onde se licenciou em Filologia Românica, em 1945, com uma tese sobre jornalismo, tendo sido aluna de Jacinto  do Prado Coelho e Vitorino Nemésio, assim como colega de Sebastião da Gama, Luísa Dacosta, David Mourão-Ferreira e Urbano Tavares Rodrigues.

Exerceu como professora do ensino técnico profissional em várias cidades do país, como em Portalegre ou no Porto, tendo em Lisboa sido docente da Escola Industrial Fonseca de Benevides. Foi também formadora de professores na Escola do Magistério Primário de Lisboa, nomeadamente do primeiro Curso de Literatura para a Infância.

Matilde Rosa Araújo também colaborou na imprensa nacional e regional, em A Capital, O Comércio do Porto, Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Jornal do Fundão ou República, bem como nas revistas Árvore, Colóquio/Letras, GraalMundo Literário, Seara NovaTávola Redonda e Vértice.

Preocupada com os direitos das crianças, tornou-se sócia fundadora do Comité Português da UNICEF e do Instituto de Apoio à Criança, bem como participou em iniciativas da Câmara alfacinha na área da Educação. Também integrava a direção da Sociedade Portuguesa de Escritores em 1965, quando esta instituição premiou o angolano José Luandino Vieira, então preso no Tarrafal, e viu as suas instalações  invadidas pela PIDE e a direção demitida compulsivamente.

Matilde Rosa Araújo foi agraciada com o Grande Oficialato da Ordem do Infante D. Henrique (2003) e, em maio de 2004, foi distinguida com o Prémio Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores, assim como no ano seguinte com a Medalha de Honra. Em 1994, também foi nomeada pela secção portuguesa do IBBY (Internacional Board on Books for Young People) para o Prémio Andersen, considerado o Nobel da Literatura para a Infância e em 1998 passou a dar nome a um prémio revelação na literatura infantil e juvenil da Câmara Municipal de Cascais. O nome de Matilde Rosa Araújo dá ainda nome a artérias dos concelhos de Almada, Amadora e Trofa.

Freguesia da Penha de França
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Aquilino Ribeiro

Freguesia de Marvila - Placa Tipo IV (Foto: Sérgio Dias)

Freguesia de Marvila – Placa Tipo IV
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Aquilino Ribeiro, autor de Quando os Lobos Uivam ou O Romance da Raposa, está como topónimo de uma Rua da freguesia de Marvila desde 1970, sete anos após a morte deste homem de cultura.

Foi pelo Edital municipal de 4 de Novembro de 1970  que duas artérias da Malha I de Chelas passaram a homenagear os republicanos Manuel Teixeira Gomes (nas Ruas I – 2 e I – 6) e Aquilino Ribeiro (na Rua I – 9). Já em 25 de janeiro de 1965 surgira a proposta para apreciação na Comissão Municipal de Toponímia, por via de sugestão publicada no jornal República em 19/11/1964, que se repetiu na reunião de 16 de maio de 1969 e em 15 de maio de 1970, até que um despacho do Presidente da edilidade em 21 de outubro de 1970, despoletou a atribuição.

Freguesia de Marvila
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Aquilino Ribeiro (Sernancelhe – Carregal de Tabosa/13.09.1885 – 27.05.1963/Lisboa) foi um notável escritor e defensor dos ideais republicanos. Aquilino frequentou os seminários de Lamego, Viseu e Beja mas em 1906 abandonou os estudos teológicos e fixou-se em Lisboa onde se dedicou à tradução e ao jornal republicano A Vanguarda. Em 1907, foi iniciado mação na Loja Montanha de Lisboa mas em novembro, na sequência de um acidente com explosivos no seu quarto na Rua do Carrião, que vitimou dois carbonários, foi preso. Conseguiu evadir-se em 12 de janeiro de 1908 e durante a clandestinidade em Lisboa manteve contatos com os regicidas, refugiado que estava na casa de Meira e Sousa, na Rua Nova do Almada, em frente do Tribunal da Boa Hora.

Em 1910, Aquilino Ribeiro partiu para Paris onde estudou na Faculdade de Letras da Sorbonne e conheceu a sua primeira mulher Grete Tiedemann, residindo na Alemanha e em Paris, com uma vinda a Portugal após a implantação da República. Em 1914, com a eclosão da 1ª Grande Guerra, regressou a Portugal e passou a ser docente no Liceu Camões (1915 – 1918), integrando também a partir de 1921 o grupo fundador e a primeira direcção da Seara Nova. A convite de Raúl Proença, trabalhou depois na Biblioteca Nacional, de 1919 a 1927, mas como defensor da justiça e da liberdade envolveu-se em conspirações contra a ditadura do Estado Novo, como a revolta de 7 de fevereiro de 1927 e a revolta de Pinhel de 1928, que lhe acartaram perseguições e prisão conduzindo-o a um novo exílio em Paris. Em 1929, já viúvo, casou com a filha de Bernardino Machado, Jerónima Dantas Machado, de quem tem no ano seguinte um filho, Aquilino Ribeiro Machado que será Presidente da CML entre 1977 e 1979 e já é também topónimo em Lisboa. Em 1931 vai viver para a Galiza e no ano seguinte volta a Portugal, embora clandestinamente, sendo depois amnistiado e passa a viver na Cruz Quebrada. Recebeu o Prémio Ricardo Malheiros em 1933, integrou a Academia das Ciências de Lisboa em 1935, foi um dos fundadores e e presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores em 1956 e, passados quatro anos foi proposto para Prémio Nobel da Literatura.

Escritor ímpar, com um vocabulário exuberante, original e pitoresco, foi autor de uma vasta e importante obra literária, de mais de 60 volumes, abrangendo ficção, crítica, biografia, evocação histórica, ensaio, teatro, etnografia e contos para crianças, de que destacamos o seu primeiro, o livro de contos Jardim das Tormentas (1913) bem como Terras do Demo (1919),O Malhadinhas (1920), Filhas da Babilónia (1920), Estrada de Santiago (1922), O Romance da Raposa (1924) para jovens, Andam Faunos pelo Bosque (1926), Batalha Sem Fim (1931), As Três Mulheres de Sansão (1932), Maria Benigna (1933), Volfrâmio (1944), Constantino de Bragança (1947), O Homem da Nave (1951),  Abóboras no Telhado (1955), A Casa Grande de Romarigães (1957) e Quando os Lobos Uivam (1958) que foi apreendido pela censura e lhe valeu um processo em tribunal ou ainda o infantil O Livro de Marianinha (1962).

No ano de 1963, em que faleceu, comemorava os cinquenta anos de vida literária e foram várias as cidades portuguesas que o homenagearam embora a Censura tenha ordenado aos jornais que não o noticiassem. Em 2007, a Assembleia da República determinou que os seus restos mortais integrassem o Panteão Nacional e o seu nome está também presente na toponímia dos concelhos de Sernancelhe, Aguiar da Beira, Albufeira, Almada, Amadora, Amarante, Aveiro, Azeitão, Barcelos, Barreiro, Barroselas, Beja, Benavente, Bragança, Carrazeda de Ansiães, Cascais, Chaves, Coimbra, Entroncamento, Évora, Fafe, Faro, Ferreira do Alentejo, Gondomar, Grândola, Guimarães, Lagos, Lamego, Loures, Maia, Mafra, Mangualde, Marinha Grande, Marvão, Matosinhos, Moimenta da Beira, Moita, Montemor-o-Novo, Odivelas, Oeiras, Olhão, Ovar, Palmela, Paredes de Coura, Penafiel, Pinhel, Pombal, Ponte de Lima, Ponte de Sor, Portimão, Porto, Santarém, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sintra, Tabuaço, Torredeita, Trancoso, Trofa, Valongo, Viana do Castelo, Vila Franca de Xira, Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Gaia, Vila Nova de Paiva, Viseu.

Freguesia de Marvila
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua do poeta neoclássico Filinto Elísio

Rua Filinto Elísio, algures entre os anos 50 e 60 do séc. XX
(Foto: Arquivo Municipal de Lisboa)

O sacerdote  Francisco Manuel do Nascimento que enquanto poeta neoclássico usou o pseudónimo de Filinto Elísio, é o topónimo de uma Rua da freguesia de Alcântara desde o final do séc. XIX.

A Rua Filinto Elísio nasceu na Rua nº 2 do Bairro Rolão pela deliberação camarária de 8 de julho de 1892, na presidência do Conde de Ottolini na edilidade lisboeta. E nessa mesma deliberação mais artérias do Bairro Rolão tiveram também topónimos de escritores atribuídos:  João de Barros ficou na Rua n.º 1, Soares dos Passos na Rua n.º 4, Bocage nas Ruas n.º 7 e 8 (que é a Rua Amadeu de Sousa Cardoso desde os anos oitenta do séc. XX, pelo Edital municipal de 29/02/1988), Gil Vicente na Rua n.º 9,  e o botânico Avelar Brotero ficou na Rua n.º 6 (que é a Rua Pedro Calmon desde os anos oitenta do séc. XX, pelo Edital municipal de 07/09/1987).

Na década de trinta do século XX a Rua Rua A, situada no prolongamento da Rua Filinto Elísio passou também a ser parte integrante da primeira, conforme Edital municipal em 20 de junho de 1938 e este arruamento dedicado ao poeta arcádico, com dimensão aumentada passou assim a ligar a Rua da Indústria à Rua Soares de Passos.

Na Ilustração Portuguesa em 1905

O homenageado Filinto Elísio é Francisco Manuel do Nascimento (Lisboa/23.12.1734 – 25.02.1819/Paris) de seu nome. Nasceu na freguesia de São Julião, como filho de um casal de Ílhavo, um fragateiro e uma peixeira,  que sempre viveram com João Manuel, um Mestre das Fragatas Reais e depois, Patrão-mor da Ribeira das Naus, que Filinto sempre considerou seu pai.

Francisco Manuel do Nascimento tornou-se sacerdote ordenado em 1754 e o Filinto Elísio poeta arcádico. Quando Leonor de Almeida Portugal, a futura Marquesa de Alorna, estava presa no Mosteiro de São Félix, em Chelas, com a sua irmã Maria, antes da Viradeira,  ele começou a ser visita do local e também como era moda na época começou a cortejar uma das reclusas, Maria, a quem deu  o nome árcade Daphne e à sua irmã, Leonor, o de Alcípe. Leonor retribuiu-lhe esse gesto dando-lhe o nome de Filinto Elísio, para substituir o pseudónimo de Niceno que usara até então no círculo poético do Grupo da Ribeira das Naus.

Este poeta neoclássico compôs odes, epístolas, epigramas e sátiras, tendo as suas poesias sido publicadas ainda em vida, em Paris, em 11 volumes, entre 1817 e 1819, mas só após a sua morte foram editadas em Lisboa as suas Obras Completas, num total de 22 tomos, entre 1836 e 1840, sendo a sua obra considerada precursora do Romantismo. Também os seus restos mortais foram transladados do Père Lachaise para o claustro da Sé de Lisboa em 1843, e mais tarde, para o cemitério do Alto de São João.

Refira-se que a partir de 1778 se refugiou em França, com Avelar Brotero, e foi lá que acabou por falecer, tendo nesses 41 anos conhecido o poeta Lamartine, que até lhe dedicou um poema. As suas ideias enciclopedistas e  liberais  levaram a que fosse denunciado à Inquisição em 22 de junho de 1778, por leituras heréticas proibidas e afirmações blasfemas, o que somado a uma forte amizade que o ligava a Félix da Silva de Avelar tornou-os a ambos suspeitos para o Santo Ofício, pelo que exilaram em Paris. E para sobreviver na capital francesa fez trabalhos de tradução: Os Mártires de Chateaubriand, As Fábulas de La Fontaine, Púnica de Sílio Itálico e o Elogio do Doutor António Nunes Ribeiro Sanches de M. Vicq-d’Azyr para português e verteu as Cartas de Mariana Alcoforado para francês como Lettres Portugaises de Mariana Alcoforado.

Filinto Elísio está também como topónimo nos concelhos de Ílhavo, Almada, Barreiro, Caldas da Rainha, Gondomar,  Odivelas, Oeiras, assim como Francisco Manuel do Nascimento surge em dois topónimos da Charneca da Caparica, no concelho de Almada.

Freguesia de Alcântara
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Ruy Cinatti, de Uma Sequência Timorense e dos Cadernos de Poesia

Freguesia de Santa Clara
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O autor de Uma Sequência Timorense e editor dos Cadernos de Poesia, Ruy Cinatti, que viveu 20 anos em Timor e nos últimos vinte da sua vida residiu em Lisboa, está desde 1997 perpetuado na toponímia do Bairro dos Sete Céus, com a legenda «Poeta/1915 – 1986», a unir a Rua dos Sete Céus à  Rua João Lourenço Rebelo.

Ruy Cinatti foi fixado no Impasse 1 do Bairro dos Sete Céus pelo Edital municipal de 30 de janeiro de 1987, o mesmo que colocou em outros arruamentos do Bairro os nomes do músico João Lourenço Rebelo, do fadista Joaquim Cordeiro, da cantora lírica Maria Júdice da Costa e dos poetas Vasco de Lima Couto e António Aleixo.

Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes  (Londres/08.03.1915 – 12.10.1986/Lisboa), estudou no Liceu Passos Manuel e formou-se como engenheiro agrónomo, tendo fixado-se  definitivamente em Lisboa a partir de 1963. Entre 1943 e 1945 desempenhara o cargo de meteorologista aeronáutico da Pan-American Airways e, de 1946 a 1948, exercera a função de chefe de gabinete do governador de Timor (que desde 2002 é a República Democrática de Timor-Leste ou  Timor Loro Sae ), mantendo-se depois no território como chefe dos serviços agronómicos e aí realizando também estudos de arqueologia, ecologia, fitogeografia e antropologia cultural, tendo mesmo feito um doutoramento em Antropologia Geral e Social, em Oxford, em 1958.

Como escritor e poeta estreou-se aos 21 anos, em 1936, com o conto Ossobó, seguindo-se a edição do seu primeiro livro de poesia Nós Não somos deste mundo (1941). São ainda de destacar entre muitas das suas obras,  Anoitecendo, a vida recomeça (1942), Poemas Escolhidos (1951), O Livro do Nómada, Meu Amigo (1958), Manhã Imensa (1967), Cancioneiro para Timor (1968), Sete Septetos (1968), Borda D’ Alma (1969), Uma Sequência Timorense (1970), Memória Descritiva (1971), Conversa de Rotina (1973), Paisagens Timorenses com Vultos (1974), Cravo Singular (1974), Import-Export (1976), 56 Poemas (1981). Em 1967, sob o pseudónimo de Júlio Celso Delgado também publicou Crónica Caboverdeana.

A partir de 1940 dirigiu a publicação Cadernos de Poesia – na 1ª série com Tomás Kim (pseudónimo de Joaquim Monteiro Grilo), João Cabral do Nascimento e José Blanc de Portugal e na 2ª série, com Jorge de Sena, José Blanc de Portugal e  José-Augusto França – com o objetivo de «arquivar a actividade da poesia actual sem dependências de escolas ou grupos literários, estéticas ou doutrinas, fórmulas ou programas». Ruy Cinatti também fundou e dirigiu a revista Aventura, cinco números publicados de 1942 a 1944.

Em 1950 também publicou estudos científicos relacionados com Timor: «Reconhecimento em Timor», «Esboço histórico do Sândalo no Timor Português», «Explorações Botânicas em Timor»e «Reconhecimento Preliminar das Formações Florestais no Timor Português».

Foi Prémio Antero de Quental 1958, Prémio Nacional de Poesia 1968, Prémio Camilo Pessanha 1971 e Prémio P.E.N. de Poesia 1982 e o seu nome está também presente na toponímia dos concelhos da Amadora, Oeiras, Seixal e Sintra.

Freguesia de Santa Clara
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Avenida Carlos Pinhão, entre Beato e Marvila

Freguesia de Marvila, Areeiro e Beato
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O jornalista desportivo, cronista de Lisboa e escritor, Carlos Pinhão nasceu no Beato e em criança circulou por essa freguesia e pela vizinha Marvila, pelo que depois da autarquia lisboeta ter decidido dar o seu nome a uma artéria lisboeta na reunião de câmara de 20 de janeiro de 1993, a Junta de Freguesia de Marvila propôs que fosse atribuído a uma das novas artérias em construção naquela Freguesia e, assim o  Edital municipal de 12 de abril de 1995 atribuiu à a Via Central de Chelas-Olaias o topónimo Avenida Carlos Pinhão.

A Bola, 16 de junho de 1993

Carlos Alberto da Silva Pinhão (Lisboa/04.05.1925 – 15.01.1993/Lisboa) nasceu na freguesia do Beato e chegou a frequentar o curso de Direito na Universidade de Lisboa até ao terceiro ano, mas abandonou quando corria o ano de 1944, para aceitar um lugar no jornal desportivo Os Sports, que viria a dar origem ao Mundo Desportivo. Onze anos depois, em 1955, tornou-se redator de A Bola e permaneceu na «Bíblia dos jornais portugueses» até morrer, mostrando a sua mestria na arte de escrever bem como um sorriso cúmplice com os leitores na sua prosa clara. Ficou célebre a sua rubrica «A duas colunas» e foi considerado o responsável pela introdução da crónica e do conto no jornalismo desportivo. Na notícia da morte de Carlos Pinhão, Vítor Serpa, diretor d’A Bola afirmou que «os textos do Pinhão eram peças notáveis de diálogos permanentes com o leitor».

Pinhão também colaborou com outros títulos nacionais como o Diário Popular, Século Ilustrado e Público, bem como na imprensa regional, para além de ter sido correspondente dos  jornais Marca (Espanha), France Soir (França) e Les Sports (Bélgica).

Carlos Pinhão foi também cronista, poeta e prosador, escolhendo o desporto e a cidade de Lisboa como os seus temas principais. Começou por publicar títulos com humor como Entrevistas sem Entrevistado – com prefácio de Raul Solnado -, O Meu Barbeiro (1968) ou Londres sem Tamisa Ou O Homem Que Dormia No Chão (1969). Na temática desportiva, publicou Os Magriços, (1966), Futebol de A a Z (1976), O Lançamento do Díscolo – Realidade e Alienação em Desporto (1980), assim como Carlos Lopes (1992) e Humberto Coelho: narrativa (1993), com desenhos de João Fazenda.

O seu primeiro livro publicado para crianças foi Bichos de Abril (1977), que teve êxito imediato. Depois deu a lume, entre muitos, Gaivotas Com Óculos (1979), O Professor do Pijama Azul (1981), uma alegoria divertida contra o racismo intitulada Era uma vez um Coelho Francês (1981), A Onda Grande e Boa (1982), O Coelho Atleta e a sua Escola de Desporto (1983), O Senhor que não Sabia Contar Histórias  e Vovô Bicho(ambos em 1984), Lua Não, Muito Obrigado (1986) ou Sete Setas (1987), somando mais de uma dezena de livros para crianças. O último foi Abril Futebol Clube (1991). Postumamente, em 1994, saiu ainda João Campeão. Carlos Pinhão havia sonhado em criar uma coleção para o desporto intitulada «Agora Que Sou Crescido» mas faleceu antes de a concretizar.

Refira-se que a também jornalista desportiva Leonor Pinhão é sua filha.

Carlos Pinhão foi agraciado com o Prémio Júlio César Machado pelas suas crónicas no Público sobre Lisboa e a título póstumo, com a Medalha de Mérito Desportivo do Ministério da Educação ( 2 de fevereiro de 1993), o Grau de Comendador da Ordem de Mérito  (9 de junho de 1993) e a Medalha de Ouro do Concelho de Oeiras (1 de junho de 1994). Pinhão foi também um dos a quem José do Carmo Francisco dedicou Os Guarda-Redes Morrem ao Domingo (2002) e o seu nome integra ainda a toponímia da Amadora, Azeitão (Setúbal),  Beja, Corroios (Seixal), Évora, Mem Martins e Queluz (ambos em Sintra), Samora Correia (Benavente), Vialonga (Vila Franca de Xira).

O Largo da escritora lisboeta Maria Judite de Carvalho no Parque das Nações

Freguesia do Parque das Nações
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

A escritora lisboeta Maria Judite de Carvalho está desde 1999, o ano seguinte ao seu falecimento, como topónimo de um Largo próximo da Rua Padre Joaquim Alves Correia, que antes se identificava como Impasse A ao Casal dos Machados,

A decisão foi tomada em reunião de Câmara de 21 de julho de 1999 tendo o consequente Edital de dia 30 desse mês atribuído, para além do Largo Maria Judite de Carvalho no Impasse A (Edital nº 61/1999), também o Largo Calderon Dinis no Impasse B (Edital nº 59/1999)e a Rua Vasco da Gama Rodrigues no Impasse C (Edital nº 58/1999), tendo todos o denominador comum de serem escritores.

Falecida há 20 anos, Maria Judite Carvalho ( Lisboa/18.09.1921- 18.01.1998 ) foi uma contista, novelista, romancista e cronista que ao longo de mais de 30 anos foi considerada pela crítica uma das mais notáveis personalidades da literatura moderna portuguesa, tendo confessado que o fez por insistência de Urbano Tavares Rodrigues, seu marido durante mais de 40 anos.

O seu primeiro livro de contos e novelas, Tanta Gente Mariana (1959) foi logo saudado pela crítica e anunciava já o que vai marcar toda a obra de Maria Judite Carvalho: a solidão e a incomunicabilidade, o silêncio, a perversão e a ironia, a intimidade a contrastar com a dimensão e o vazio da grande cidade, um maior número de protagonistas femininas. Escreveu assim, As Palavras Poupadas (1960) que recebeu o Prémio Camilo Castelo Branco, Paisagens sem Barcos (1963), o romance Os Armários Vazios (1966), O Seu Amor por Etel (1967), Flores ao Telefone (1968), Os Idólatras (1969), Tempo de Mercês (1973), A Janela Fingida (1975), as crónicas O Homem no Arame (1979), Além do Quadro (1983), Este Tempo (1991) e Seta Despedida (1995) que foi distinguida com o Prémio Máxima e o Prémio de Ficção do Pen Clube Português. Postumamente, foram ainda dados a lume, ainda no ano de 1998 o livro de poemas A Flor que Havia na Água Parada e a peça Havemos de Rir. Refira-se ainda como marca da sua escrita, particularmente nas crónicas, a crítica social que subjaz numa autoridade que se reverencia e numa cultura que se trucida.

Maria Judite de Carvalho recebeu também o Prémio do Conto da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Virgílio Ferreira (1998) da Universidade de Évora, atribuído ao conjunto da sua obra, para além da sua obra ter sido traduzida, sobretudo em França, país onde viveu de 1949 a 1955.

Note-se que Maria Judite de Carvalho desejava ter seguido Belas-Artes mas por influência das tias com quem vivia, licenciou-se em Filologia Germânica na Faculdade de Letras de Lisboa, onde conheceu  o também futuro escritor Urbano Tavares Rodrigues, com quem se casou em 1949. Ao regressar a Portugal, em 1955 , trabalhou como chefe de redação da revista Eva e colaborou com outros títulos como o Diário de Lisboa, o Diário de Notícias, o Diário Popular, O Século, o Jornal e o Jornal de Letras. Pertenceu também à direção da Sociedade Portuguesa de Escritores de 1965, aquela cujo júri presidido por Augusto Abelaira atribuiu o Prémio Camilo Castelo Branco a Luandino Vieira, então preso no Tarrafal, e que provocou o encerramento compulsivo do organismo.

Está igualmente presente na toponímia dos concelhos de Almada (Feijó), Amadora, Barreiro, Beja, Cascais, Matosinhos (Custóias), Seixal (Amora), Sintra (Rio de Mouro).

Freguesia do Parque das Nações
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Gervásio Lobato do humor de «Lisboa em Camisa»

Freguesia de Campo de Ourique
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

A memória do alfacinha autor de Lisboa em Camisa, célebre na cidade-capital oitocentista pelo riso que provocava, está desde 1932 numa artéria de  Campo de Ourique através da Rua Gervásio Lobato, que liga a Estrada dos Prazeres à Rua Freitas Gazul, vizinha do lado do arruamento de outro nome do humor em palco que é a Rua André Brun, ambos topónimos saídos do mesmo Edital municipal de 12 de março  de 1932, cabendo a Gervásio a Rua Particular nº 1 aos Prazeres  e a André a Rua Particular nº 2 aos Prazeres.

[carregar na imagem para ver maior]

De seu nome completo Gervásio Jorge Gonçalves Lobato (Lisboa/23.04.1850 – 26.05.1895) ficou muito conhecido no seu tempo, pelas plateias do Teatro Ginásio e pelo acontecimento que foi para a comédia oitocentista o seu Lisboa em Camisa, publicado  primeiro em folhetim de jornal – no jornal O Progresso (de 11 de novembro de 1880 a 1 de março de 1881) e depois, no jornal O Fígaro (de 5 de fevereiro a 28 de maio de 1882)- e só depois em livro, publicado em 1882 pela Empreza Litteraria de Lisboa, no qual fazia humor com os  ridículos e manias da pequena e média burguesia lisboeta do fim do século que circulava pelas ruas do Chiado e da Baixa.

Contudo, Gervásio Lobato também trabalhou com afinco como funcionário público, jornalista e professor de Declamação na Escola Dramática do Conservatório de Lisboa. Gervásio Lobato concluíra o Curso Superior de Letras e a cadeira de Direito Internacional na Escola Naval com o intuito de seguir a carreira diplomática mas a sua vocação era o jornalismo e permaneceu em Lisboa, tanto mais que  aos 15 anos já havia fundado com alguns condiscípulos um jornal literário, A Voz Académica. Garantia a base do seu sustento como segundo oficial da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino mas com Pinheiro Chagas fundou o Diário da Manhã – antes era A Discussão e foi depois Correio da Manhã-, onde se distinguiu como folhetinista, género muito em voga na época, tendo sido A Comédia de Lisboa o título do primeiro que publicou, em 1878, ainda com o pseudónimo Gilberto.

Ao longo da vida colaborou em inúmeros periódicos  como Braz TizanaCorreio da NoiteDiário IlustradoDiário de NotíciasGazeta de Portugal, Gazeta Literária, A Illustração PortuguesaRecreioRibaltas e GambiarrasO Século, A Semana de Lisboa, para além de ter dirigido a revista O Occidente, ou fundado com Teixeira de Vasconcelos e outros o Jornal da Noite, assim como O Contemporâneo com Salvador Marques e Sousa Bastos.

Como escritor,  Gervásio Lobato construiu-se como aquele que nas suas obras retratava a vida na capital portuguesa nessa época, destacando-se Lisboa em Camisa, que o realizador Herlander Peyroteo adaptou para uma série de televisão, com 15 episódios, em 1960. A sua fama cresceu por ser o dramaturgo de comédias que agradavam ao público do Teatro do Ginásio- o nascido  Theatro do Gymnasio, em 1846, na Rua Nova da Trindade-, no qual iam surgindo ano após ano, interpretadas por grandes valores como o ator Vale. Também foi um grande êxito O Comissário de Polícia em exibição em 1890, oferecendo o Teatro Ginásio ao público um cartaz da peça da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro e que foi adaptada ao cinema pela Invicta Films (em 1914) e por Constantino Esteves (em 1953). Foi até na representação de O Festim de Baltasar (1892), com fins caritativos, no São Carlos, que Gervásio Lobato foi agraciado pelo Rei com o oficialato da Ordem de Santiago.

A sua primeira comédia foi o O Rapto de um Noivo, em 1 acto, feita com Maximiliano de Azevedo, que subiu à cena no Teatro Dona Maria II. Seguiram-se em 1873, já para o Ginásio, Debaixo da Máscara e também No Campo. Depois, foram inúmeras peças originais suas, adaptações ou traduções que encheram os palcos portugueses do último quartel do séc. XIX, contabilizando Luiz Francisco Rebello 25 peças originais e 115 traduções e imitações, em pouco mais de 20 anos, como Sua Excelência (1884) ou As Noivas do Eneias (1892), para além de operetas como Cocó , Ranheta e Facada. Também publicou novelas e romances de que salientamos A Primeira Confessada (1881), Os Invisíveis de Lisboa (1886-1887) que teve êxito também no Brasil, Os Mistérios do Porto (1890-1891) ou O Grande Circo (1893).

Na sua vida particular, casou com Maria das Dores Pereira d’Eça Albuquerque, de quem teve filhas e residiu durante muitos anos na Travessa do Convento das Bernardas, na Madragoa, assim como na Travessa do Pombal, que em 29/12/1880 passou a ser a Rua da Imprensa Nacional. Faleceu aos 45 anos, na sua casa na Rua das Amoreiras, nº 102.

Gervásio Lobato está também presente na toponímia dos concelhos de Almada (Charneca da Caparica), Seixal (Arrentela)e Sintra (Massamá).

Freguesia de Campo de Ourique
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua Delfim de Brito Guimarães, o escritor e editor da Guimarães Editores

Freguesia de Campolide
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

O escritor e editor Delfim de Brito Guimarães está como topónimo de uma rua Campolide desde 1995, passados 62 anos sobre a sua morte, tendo a edilidade seguido a proposta da Casa do Concelho de Ponte Lima, já que o homenageado se afirmava limiano de afeição.

A Casa do Concelho de Ponte Lima solicitou que o nome de Delfim Guimarães, filho de um limiano e que muito tempo viveu nela, fosse atribuído a um arruamento de Campolide, nas imediações da sua sede, proposta com que a Câmara Municipal de Lisboa concordou e assim atribuiu a Rua Delfim de Brito Guimarães ao troço da Rua A à Avenida José Malhoa, compreendido entre a Rua Basílio Teles e a Avenida José Malhoa, pelo Edital municipal de 17 de fevereiro de 1995.

Na Ilustração Portuguesa de 17 de janeiro de 1910

Delfim de Brito Monteiro Guimarães (Porto/04.08.1872 – 06.07.1933/Amadora), nascido na Rua do Bonjardim nº 184 como terceiro dos seis filhos do limiano, comerciante e jornalista Delfim José Monteiro Guimarães Júnior e de Maria Júlia Moreira de Brito Barreiros, foi um poeta, novelista, dramaturgo, crítico, tradutor,  investigador literário, e o fundador com Libânio da Silva, em 1899, da Livraria-Editora Guimarães Editores na Rua da Misericórdia, que assim começou por designar-se Guimarães, Libânio e C.ª.

Com dezoito anos, em 1890, veio para Lisboa, acompanhando a mudança da família, e começou a trabalhar como guarda-livros – hoje diríamos contabilista-,  n’ O Século e aí se manteve dez anos mas foi obrigado a retirar-se por à Administração desagradar a sua atividade literária. Fundou então a Guimarães Editores que grande serviço prestou à cultura portuguesa, nomeadamente pelos autores estrangeiros que trouxe aos portugueses em cuidadas traduções, construindo uma chancela que ainda hoje existe integrada no grupo Babel.

Lançou-se como escritor em 1893, com poemas em Alma Dorida, Poemas em Prosa dedicado à sua mãe, bem como com Lisboa Negra, versos que dedicou à Capital e à sua difícil adaptação a ela. No ano seguinte, por morte do pai, heróico soldado liberal, jornalista e editor de Alberto Pimentel, administrou e reorganizou a revista Mala da Europa, para mais tarde ter a sua Arquivo Literário, de 1922 a 1928.

Publicou ainda, entre outros, a poesia de Confidências (1894) e Evangelho (1895), Sonho Garrettiano” (1899), o poema inspirado em ambientes medievais e de cariz romântico intitulado A Virgem do Castelo (1901), a peça escrita com D. João da Câmara Aldeia na Corte (1901), a comédia Juramento Sagrado (1902), bem como Outonais  (1903), o romance O Rosquedo: scenas da vida da província – Ponte do Lima – Minho (1904),  o livro de contos Ares do Minho (1908), A Alma  Portuguesa (1913), O Livro do Bebé (1917) ilustrado por Raquel Roque Gameiro, Aos Soldados Sem Nome (1921), Asas de Portugal (1922), A Paixão de  Soror Mariana (1926) ou a peça em um ato em verso Sol da nossa terra (1932).

Chegou a usar o pseudónimo Castro Monteiro para as publicações literárias e como investigador e crítico literário, foi inovador e polémico. Desde «A Viagem por Terra do Sr. João Penha» (1892), passando por  Saudades: história de menina e moça (1905), até quando escreveu sobre os poetas limianos Diogo Bernardes e Agostinho Pimenta, tendo-se confrontado com o seu amigo João Gomes d’Abreu sobre o primeiro ou quando publicou Trovas de Crisfal, de Bernardim Ribeiro (1908) que o fez entrar em polémica com Teófilo Braga.  Também evocou os os poetas limianos da sua eleição, sobretudo Diogo Bernardes, Frei Agostinho da Cruz e António Feijó em Ponte de Lima – Minha Avozinha.

Como tradutor produziu Flores do mal: interpretação em verso de poesias de Carlos Baudelaire (1909), parte da  Graziella de Lamartine, A Dama das Camélias de Alexandre Dumas Filho e o Romance duma rapariga russa de Henry Gréville.

Politicamente, Delfim Guimarães era de filiação republicana e maçónica, tendo participado no debate das cores e dos símbolos da bandeira nacional. No início do século XX, foi Administrador do Concelho de Ponte de Lima e depois de se fixar na Amadora foi um dos principais impulsionadores da Liga dos Melhoramentos da Amadora.

Na sua vida particular, casou em 1895,  aos 23 anos, com Rosina Vieira da Cruz e foi pai de oito filhos, tendo sepultou uma sua filha, precocemente falecida, no cemitério de Ponte de Lima.

Foi feito Cavaleiro (1908) e Comendador (1919) da Ordem de Santiago da Espada  e retratado em carvões de Carlos Reis e de Veloso Salgado, aguarelas de Alfredo Morais e de Roque Gameiro, e ainda em caricaturas de Francisco Valença e de Sebastião Sanhudo. Para além de Lisboa, Delfim de Brito Guimarães está também na toponímia da Amadora ( Parque Delfim Guimarães, atribuído em 1937), no Porto e em Ponte de Lima.

Freguesia de Campolide
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)