Brotero

Gravura de Félix de Avelar Brotero
(Foto: Eduardo Portugal © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

Félix de Avelar Brotero, médico que preferiu dedicar-se à botânica e assim dirigiu o Jardim Botânico da Ajuda, começou por ter Rua em Lisboa na freguesia de Alcântara no final do séc. XIX e em 1916, também passou a dar nome a uma artéria da Ajuda e depois, foi também o nome do Jardim do Alto de Santo Amaro em Alcântara.

Por deliberação camarária de 8 de julho de 1892 passou a existir em Alcântara, na Rua 6 do Bairro Rolão ou de Santo Amaro, a Rua Avelar Brotero. Já no séc. XX, o Edital municipal de 26 de setembro de 1916, alterou o topónimo Rua da Paz para Rua Brotero, considerando a localização desta entre o Largo da Paz e o Jardim Botânico que Brotero dirigira. Nos anos 80 do séc. XX, perante a manifesta escassez de novos arruamentos na cidade, a edilidade alterou pelo Edital de 7 de setembro de 1987 a Rua Avelar Brotero para Rua Pedro Calmon, passando a existir apenas uma rua dedica a Brotero em Lisboa, a da Ajuda, à qual em 1992 foi aditada a legenda «Félix de Avelar Brotero / Médico e Botânico/1744 – 1828», a partir da sugestão de um munícipe para se identificar convenientemente o antropónimo.

Ainda em Alcântara, no início do séc. XX, o Jardim do Alto de Santo Amaro, sito na Rua Filinto Elísio- que antes de 8 de julho de 1892 era a Rua 2 do Bairro Rolão ou de Santo Amaro-, foi denominado Jardim Avelar Brotero mas tal resolução nunca tornou oficial o topónimo do Jardim. A CML aumentou o número de bancos deste espaço verde nos anos 50, a pedido dos moradores da zona e a última remodelação do Jardim aconteceu no ano passado.

Nascido Félix da Silva de Avelar (Loures – Santo Antão do Tojal/25.11.1744 – 04.08.1828/Lisboa), pela forte amizade que o ligava a Filinto Elísio (Francisco Manuel do Nascimento) e pelo ardor com que se dedicava à ciência tornou-se suspeito para o Santo Ofício e para fugir à polícia de Pina Manique, emigrou para Paris em 1778, com Filinto Elísio. Durante os 12 anos de permanência em Paris, fez os principais estudos de história natural e doutorou-se na Escola de Medicina de Reims, assim como adotou o apelido de Brotero, que significa amante dos mortais (pela junção do grego brothos com eros). Publicou o Compêndio Botânico (Compendio de Botanica ou Noçoens Elementares desta Sciencia, segundo os melhores Escritores modernos, expostas na língua Portugueza) em 1788, em Paris.

Regressou a Lisboa no ano de 1790, tendo sido logo nomeado lente de Botânica e Agricultura na Universidade de Coimbra, em 1791 e que manteve até 1807, acumulando com a direção do Jardim Botânico da Universidade e publicou Flora Lusitanica (1804). As invasões francesas alcançaram Coimbra em 1807 e Brotero veio refugiar-se em Lisboa e só lá voltou para ser jubiliado, o que sucedeu por Carta Régia de 27 de abril e Decreto de 16 de agosto de 1811. Passou então a dirigir o Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda (o primeiro jardim botânico português e o 15.º da Europa, desenhado em 1768 por Domingos Vandelli por ordem de D. José I), reabilitando o Jardim Botânico e elaborando o seu catálogo. Da sua investigação, resultaram também as suas obras Phytographia Lusitaniae selectior – em 2 tomos- 1816 e 1827 – e a História Natural dos Pinheiros, Larices, e Abetos (1827).

Em 1821, Félix Avelar Brotero foi eleito deputado às Cortes Constituintes pela Estremadura, tendo participado na discussão da lei dos cereais, onde exortou os agricultores a cultivarem centeio e trigo, para que fosse possível produzir pão para toda a população e a um preço acessível à bolsa de todos mas 4 meses depois pediu dispensa, pela idade avançada (77 anos) e foi-lhe concedida. Faleceu aos 83 anos de idade na sua casa, na Calçada do Galvão, em Alcolena, em Belém.

Brotero foi homenageado com a atribuição do seu nome a várias plantas, como é o caso da Brotera ovata e da Brotera trinervata e está também na toponímia de Coimbra, do seu concelho natal – em Loures, Santo António dos Cavaleiros e Santo Antão do Tojal-, da Amadora, do Barreiro, Carnaxide, Custóias, Mafra, Matosinhos, Montijo, Odivelas (em Ramada e em Caneças), do Porto, Santa Maria da Feira, Seixal e Setúbal.

Também os seus pares, perpetuando a sua memória e sua importância decisiva para o desenvolvimento da Botânica em Portugal fundaram em Coimbra, em 1880, a agremiação científica “Sociedade Broteriana”. O seu prestígio internacional de Brotero é confirmado pelas várias Sociedades e Academias a que pertenceu, entre outras, a Sociedade de Horticultura e a de Linnean, ambas de Londres, a Academia de História Natural e Filomática de Paris, a Sociedade Fisiográfica de Lunden na Suécia, a Sociedade de História Natural de Rostock e a Academia Cesarea de Bona (Alemanha). Em Portugal, pertenceu à Academia Real das Ciências de Lisboa.

O sucesso dos seus trabalhos de registo, inventariação e compilação de espécies botânicas, traduz na prática o enquadramento do novo espírito científico e filocientífico de oitocentos, bem como o prestígio crescente das ciências naturais que decorreu dos novos paradigmas do pensamento Iluminista.

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Franklin

Benjamin Franklin
(Imagem de domínio público)

A Rua Franklim estava identificada como Rua nº 1 do Bairro América, urbanização então de construção recente na Quinta das Marcelinas à Rua do Vale de Santo António, quando a deliberação camarária em 25 de novembro de 1918 decidiu atribuir-lhe um topónimo referente a uma personalidade americana e ficando a ligar a Rua Fernão de Magalhães à Rua dos Cortes Reais, embora o Edital só tenha sido publicado 6 anos depois, em 17 de outubro de 1924.

Bairro América passou a conter os seguintes topónimos: «Que se denomine Bairro America, o bairro em construção na Quinta das Marcelinas na rua do Vale de Santo Antonio e que os respectivos arruamentos tenham as designações seguintes: o nº 1, rua Franklin; o nº 2, rua Washington [o primeiro presidente dos Estados Unidos da América]; o nº3, rua Ruy Barbosa [político e jornalista brasileiro que defendia o princípio da igualdade das nações]; o nº 4, rua Bolivar [Simon Bolívar que combateu o domínio espanhol na América do Sul, comandando as revoluções que promoveram a independência da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia]; a nº 5, rua do Costa Reais [refere-se à Rua dos Cortes Reais, família de navegadores portugueses que empreenderam navegações para o continente americano]; o nº 6, rua Fernão de Magalhães  [o primeiro navegador a fazer uma viagem de circum-navegação], e o nº7, rua Alvaro Fagundes [navegador português do século XVI que explorou a costa austral da Terra Nova]. Deliberação camararia de 25 de Novembro de 1918». Acrescente-se que os arruamentos Rua Bolivar e Rua Álvaro Fagundes nunca tiveram execução prática, embora, em 1971, o nome de Álvaro Fagundes tenha regressado para a toponímia lisboeta para dar nome à Rua C, à Rua General Justiniano Padrel.

Estadista, cientista e escritor norte-americano Benjamim Franklin (Boston/17.01.1706 – 17.04.1790/Filadélfia), lutou contra a escravatura e fez mesmo o Memorial para a sua abolição enquanto Presidente da Sociedade Pensilvaniana para além do seu papel preponderante na independência dos Estados Unidos da América. Franklin foi o porta-voz dos colonos junto dos ingleses; integrou a Comissão redatorial da Declaração da Independência; foi membro da Convenção para redigir a Constituição Nacional (1787); e assinou com a Grã-Bretanha o Tratado de Versalhes que reconhecia a independência das 13 colónias norte-americanas.

Benjamim Franklin foi ainda um cientista: demonstrou a identidade do raio e da electricidade e inventou o «para-raios», para além de ter sido compositor gráfico, publicado jornais (The New-England Courant), ter sido escritor (Poor Richard’s Almanac)  e o 1º representante do realismo norte-americano (O Sermão do pai Abraão).

Através da observação sistemática e da experimentação, após ter escrito sobre terramotos (1737), Franklin deu particular impulso às áreas da eletricidade e da meteorologia. No âmbito da primeira alcançou várias descobertas, nomeadamente, a existência de cargas positiva e negativa, demonstrou que os raios são um fenómeno de natureza elétrica, inventou o «para-raios», pesquisou sobre eletricidade estática, sendo também responsável pela criação de termos técnicos que são ainda utilizados, como «bateria» e «condensador». No domínio da meteorologia, abriu caminho a grandes avanços posteriores ao contribuir, através da observação, para a interpretação do desenvolvimento dos diferentes fenómenos atmosféricos no planeta terra, defendendo a teoria de que o movimento do tempo atmosférico depende das diferenças de pressão, facto que é considerado por muitos como a base da moderna meteorologia.

A sua intensa atividade em todos estes domínios foi influenciada pelo pensamento liberal e humanista e pelos debates científicos e políticos que então decorriam na Europa, para onde viajava com frequência, já anunciadores do princípio do primado da razão defendida pelo Iluminismo desde os finais do século XVII. Assim, B. Franklin, tal como Thomas Jefferson (1743-1826), estão entre as personalidades mais influentes e decisivas para o surgimento e afirmação do Iluminismo americano.

 

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Bartolomeu de Gusmão

Bartolomeu de Gusmão apresenta os seus inventos à Corte de D. João V
(Imagem de domínio público)

A Rua de São Bartolomeu passou pelo Edital municipal de 13 de dezembro de 1911 a denominar-se Rua Bartolomeu de Gusmão, com a legenda «Inventor dos Aeróstatos/1675 – 1724», em homenagem ao criador da Passarola Voadora, embora mais de 40 anos depois a legenda tenha passado a «Precursor da Aeronáutica/1685 – 1724» de acordo com o parecer da Comissão Municipal de Toponímia de 24 de julho de 1958.

Este arruamento da antiga Freguesia de Santiago (hoje, Santa Maria Maior), com início na Rua do Milagre de Santo António e fim na Rua do Chão da Feira,  que segundo Norberto de Araújo  corresponde «sensivelmente à setecentista Rua Direita das Portas de Alfofa», veio com a vereação republicana a perpetuar Bartolomeu Lourenço de Gusmão (Brasil- Santos/1685 – 18.11.1724/Toledo -Espanha), filho do português Francisco Lourenço Rodrigues e da brasileira Maria Álvares, que  aos 24 anos inventou um aeróstato – um balão de ar aquecido capaz de voar – e mostrou as suas experiências  a D. João V e à sua corte, em 1709. Por tal feito foi cognominado pelos seus contemporâneos como Padre Voador e o seu invento ficou conhecido como Passarola Voadora. Durante a segunda metade do século XVIII difundiu-se a ideia de que o próprio Bartolomeu de Gusmão teria voado entre o Castelo de São Jorge e o Terreiro do Paço, num aeróstato por ele construído, mas que só se pode entender como uma lenda enquanto não se encontrarem documentos que registem esse acontecimento.

Este padre jesuíta estudou no Seminário de Belém, na Baía, com especial empenho em Matemática e Ciências Físicas e aí foi ordenado. Logo aos 15 anos, para resolver o problema de falta de água do Seminário concretizou o seu primeiro invento: uma máquina de elevar água até ao cume do monte onde se encontrava instalada a instituição. Também aí teve importância o reitor do Seminário e seu preceptor, Alexandre de Gusmão,  que aliás era um dos seus 11 irmãos e que se tornou um importante diplomata de D. João V, fazendo com que Bartolomeu em 1718 escolhesse «de Gusmão» como apelido  e o acrescentasse ao seu nome original.

O padre Bartolomeu viveu em Lisboa, de 1701 a 1705, alojado na casa do 3º Marquês de Fontes e regressou em 1708 para ficar até 1724, com algumas interrupções. Houve um interregno entre 1713 e 1715 quando residiu na Holanda, e talvez também em Inglaterra e França. Em 1710 inventou «vários modos de esgotar sem gente as naus que fazem água»; em 1721 foi a vez do «carvão de lama»  e em 1724, da «máquina para aumentar o rendimento dos moinhos hidráulicos». Para desenvolver este trabalho arrendou umas casas em Santa Apolónia, que eram do senhor de Pancas, onde construiu um moinho de vento e fazia observações astronómicas. Sabe-se também que vivia no Vale de Santo António, perto da Bica do Sapato.

Em 1720, Bartolomeu de Gusmão tornou-se bacharel, licenciado e doutor em Cânones pela Universidade de Coimbra e foi nomeado académico da Academia Real de História, também com a incumbência de redigir a História Eclesiástica do Bispado do Porto. O rei D. João V colocou-o em Lisboa, na Secretaria de Estado, para decifrar mensagens interceptadas aos diplomatas estrangeiros, tanto mais que como poliglota que era, também executou traduções de francês, italiano, flamengo, inglês, grego, latim e hebraico. Em 1722, foi nomeado fidalgo-capelão da casa real.

No entanto, em setembro de 1724 fugiu de Portugal,  por ter sido acusado de bruxaria e judaísmo, fruto da denúncia do padre Luiz Gonzaga à Inquisição. Na viagem de fuga adoeceu e foi internado no Hospital da Misericórdia de Toledo, onde acabou por falecer, com 38 anos de idade, mas ao longo dos séculos seguintes foi recebendo inúmeras homenagens.

Em 1912, houve uma cerimónia de colocação de uma lápide, na esplanada do Castelo de São Jorge, a comemorar a primeira elevação do Aeróstato do Padre Bartolomeu de Gusmão, promovida pelo Aero Club de Portugal, onde estiveram presentes o Tenente Coronel Hermano de Oliveira e o Dr. Veloso Rebelo, encarregado dos negócios do Brasil. Setenta anos depois, o  Memorial do Convento (1982) de José Saramago, colocou Bartolomeu de Gusmão como uma das personagens centrais do romance. E sete anos mais tarde, em 25 de outubro de 1989, foi inaugurada na Alameda das Comunidades Portuguesas, via de acesso ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, uma estátua de pedra sua, da autoria do escultor Mestre Martins Correia, executada no início da década de setenta, quando já dava o seu nome a um Aeroporto da Força Aérea Brasileira. Na década de noventa do séc. XX, a Escola Básica do 2º ciclo sita na Rua da Bela Vista à Lapa nº 43 deixou de ser a Escola Paula Vicente para ter como Patrono Bartolomeu de Gusmão.

Para além disto, Bartolomeu de Gusmão teve honras de retrato em selos de Portugal, Brasil, Paraguai e Vaticano, assim como o seu nome passou a topónimo em inúmeras artérias portuguesas como em Chaves, Damaia, Fernão Ferro, Murtosa, Oeiras, Ovar, Parede, Rio de Mouro e Tires, assim como no Brasil, em Anápolis, Aparecida, Baía, Belo Horizonte, Foz do Iguaçu, Mangueira, Minas Gerais, Pernambuco, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Salvador, Santa Catarina, Santos e São Paulo, entre outras.

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Newton

Busto de Newton na Academia das Ciências de Lisboa
(Foto: António da Silva Fernandes Duarte © CML | DPC | Arquivo Municipal de Lisboa)

 

A Rua Newton, proposta na reunião de Câmara de 17 de agosto de 1916 como Rua Lord Byron, no Edital de 24 do mesmo mês, passou antes a homenagear Newton, ficando assim perpetuada no Bairro de Inglaterra uma personalidade inglesa incontornável na área das ciências e do pensamento científico.

Isaac Newton (Woolsthorpe/25.12.1642 ou 04.01.1643 – 20.03.1726 ou 31.03.1727/Kensington), descobriu a Lei da Gravidade, a fórmula do Binómio, a lei da viscosidade e a natureza corpuscular da luz. Foi um cientista reconhecido como físico, matemático, astrónomo, alquimista, filósofo e teólogo, considerado por muitos como o pai da ciência moderna pelas suas descobertas notáveis.

Ao estudar no Trinity College de Cambridge, onde concluiu a sua formação em 1665, contactou com obras de Euclides, Descartes, J. Kepler, G. Galilei, entre outros, autores que se viriam a revelar decisivos, tendo mesmo dado continuidade aos trabalhos iniciados por Galilei, nomeadamente através do método experimental e desenvolvendo a teoria heliocêntrica. A interrupção forçada do seu percurso académico devido à peste negra que assolou Inglaterra e levou ao encerramento da universidade entre 1665 e 1667, revelou-se profícua para Newton pois corresponde ao período mais produtivo em termos das suas descobertas: o teorema binominal, o cálculo, a lei da gravidade (que ficará para sempre associada à descrição da suposta maçã que lhe caiu sobre a cabeça, facto que despertou a sua curiosidade para a sua compreensão) e, ainda, a natureza das cores.

Por ser um homem reservado e sem grande empatia social, as suas descobertas e trabalhos foram divulgados e conhecidos pela comunidade científica através do seu professor Isaac Barrow, o que chamou a atenção da Royal Society que na época era a instituição mais importante neste domínio.

Foi em 1668 que Newton inventou o telescópio refletor e não refrator como os existentes até então, que ficou conhecido como o “telescópio newtoniano”. Três anos depois publica a sua primeira obra intitulada Métodos das Fluxões. Foi, porém, o livro seguinte, publicado em 1687 em 3 volumes, que foi reconhecido e considerado um dos mais importantes na área científica – Principia (Philosophiae Naturalis Principia Matematica) – onde descreveu a lei da gravitação universal e as suas três Leis (Lei da Inércia, Lei Fundamental da Dinâmica, Lei da Ação-Reação) que fundamentam a mecânica clássica. Os seus estudos em torno da luz e da ótica foram o tema de um outro livro, Optica (1704), que foi escrito numa linguagem mais acessível alcançando assim um maior número de leitores. Também as suas pesquisas no domínio da matemática, em 1707, foram alvo de publicação – Aritmética Universal.

Newton também foi Professor em Cambridge, a partir de 1667; um dos dois membros da Universidade no Parlamento, em janeiro de 1689; presidente da Royal Society a partir de 1703 e reeleito ano após ano até falecer; e, o primeiro cientista a receber a honra de ser armado cavaleiro (Sir) pela rainha Ana, em 1705. Precursor do culto da razão e do espírito crítico e sustentando o seu conhecimento na experimentação, características indissociáveis do Iluminismo, o impacto do trabalho realizado por Isaac Newton foi muito para além do seu próprio tempo, alcançando grande impacto na história da ciência.

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Galileu Galilei

Galileu Galilei, considerado o pai da ciência moderna, desde 2008 que tem o seu nome perpetuado em Lisboa, na que era a Rua Sul (Centro Comercial Colombo). Pelo mesmo Edital de 3 de julho de 2008 a edilidade lisboeta evocou nas proximidades mais dois cientistas, com a Rua Albert Einstein (na Rua Norte) e a Rua Aurélio Quintanilha (na Rua Poente).

Galileu Galilei (Itália-Pisa/15.02.1564 — 08.01.1642/Florença-Itália) foi um catedrático de matemática, físico, astrónomo e filósofo italiano que deu início ao método científico como hoje o conhecemos, sem se basear já na metodologia aristotélica. As suas invenções e descobertas, desenvolvidas entre os séculos XVI e XVII, vieram alterar o conhecimento e a relação do homem com o mundo.

Galileu melhorou significativamente o telescópio refrator e com ele descobriu as manchas solares, as montanhas da Lua, as fases de Vénus, quatro dos satélites de Júpiter, os anéis de Saturno e as estrelas da Via Láctea, e como resultado destas observações publicou em 1610 Siderius Nuncius (Mensageiro das Estrelas). Estas descobertas contribuíram decisivamente para defender que era a Terra que girava à volta do Sol e não o contrário, sistema que já o astrónomo polaco Copérnico havia defendido. Em 1616, a Inquisição pronunciou-se contra a ideia do Sol ser o centro do Universo e considerou herética a teoria heliocêntrica, pelo que Galileu foi proibido falar do heliocentrismo como realidade física e foi convocado ao Tribunal do Santo Ofício, que concluiu que não existiam provas suficientes para concluir afirmar que a Terra se movia em volta do Sol e admoestou Galileu a abandonar a defesa da sua teoria heliocêntrica. Inconformado, Galileu Galilei publicou em 1632 o livro Dialogo di Galileo Galilei sopra i due Massimi Sistemi del Mondo Tolemaico e Copernicano (“Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo – o ptolemaico e o copernicano”), a defender o heliocentrismo, escrito originalmente em italiano e não em latim como era habitual à época tornando-o assim acessível a um universo mais vasto de leitores, para além dos seus pares, alguns dos quais viam com desconfiança as suas teorias. Esta obra foi incluída no Index (lista dos livros proibidos pela Igreja), pelo que foi julgado e condenado a prisão e a abjurar as suas ideias, tendo passado os seus últimos anos de vida em prisão domiciliária.

Galileu desenvolveu também os primeiros estudos sistemáticos do movimento uniformemente acelerado e do movimento do pêndulo, descobriu a lei dos corpos e, enunciou o princípio da inércia e o conceito de referencial inercial, ideias precursoras da mecânica de Newton, assim como inventou novos instrumentos como a balança hidrostática, um tipo de compasso geométrico que permitia medir ângulos e áreas, um termómetro que ficou conhecido pelo seu nome e, foi o precursor do relógio de pêndulo.

A atividade de Galileu Galileu permitiu avanços irreversíveis e foi ponto de partida para novos progressos científicos, sobretudo a partir do recurso ao método da experimentação sistemática cruzando teorias e práticas de vários domínios do saber.

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Jardim Ferreira de Mira, o médico do Instituto Rocha Cabral

Freguesia de Benfica
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Médico fisiologista da Faculdade de Medicina de Lisboa e historiador da medicina portuguesa, que a partir de 1922 fundou e dirigiu o Instituto Rocha Cabral, Ferreira de Mira dá o seu nome a um jardim lisboeta de Benfica, próximo do Hospital da Luz, 63 anos após o seu falecimento, através da deliberação camarária de 26 de outubro de 2016 e consequente Edital de 10 de novembro, a partir da sugestão do Prof. José Pedro Sousa Dias enquanto membro da Comissão Municipal de Toponímia em representação da Universidade de Lisboa.

Em 1926 na Ilustração Portuguesa

Mathias Boleto Ferreira de Mira (Montijo – Canha/21.02.1875 – 07.03.1953/Lisboa), formado na  Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1898 e discípulo de Mark Athias, foi um médico e professor universitário que também fundou e dirigiu o Instituto Bento da Rocha Cabral a partir de 1922. Começou por exercer medicina no Hospital da Misericórdia da vila de Canha, mas veio viver para Lisboa em 1910 e dois anos depois era já  professor de Fisiologia, na então nova Faculdade de Medicina de Lisboa, a que mais tarde somou a regência da cadeira de Química.

Como investigador científico, Ferreira de Mira teve a oportunidade de fundar e dirigir a partir de 1922 um Instituto de Investigação na área das Ciências Biológicas, com o nome de um transmontano que no Brasil ficou multimilionário –  Bento da Rocha Cabral (1847-1921)- e que  no seu testamento deixou as verbas necessárias para o efeito com a indicação de quem o devia dirigir. O Instituto de Investigação Científica de Bento da Rocha Cabral ficou instalado na casa adquirida e reconstruída em 1902 pelo benemérito e que até aí lhe servira de morada em Lisboa, no nº 14 da Calçada Bento Rocha Cabral – assim denominada desde 1924 já que antes era a Calçada da Fábrica da Louça – e começou a realizar investigação a partir de 1925 com quatro investigadores: o próprio Matias Boleto Ferreira de Mira, o seu filho Manuel Ferreira de Mira (falecido em 1929), Luís Simões Raposo – na toponímia da freguesia do Lumiar desde 25/10/1989- e Fausto Lopo de Carvalho- na toponímia da freguesia de Marvila desde  04/11/1970-, que na década seguinte conseguiu dominar a tuberculose em Portugal. Foi este Instituto que acolheu as primeiras investigações com animais que permitiram a Egas Moniz a descoberta da angiografia e o desenvolvimento da angiopneumografia em conjunto com Almeida Lima e Lopo de Carvalho. Também aqui trabalho como investigadora a  primeira portuguesa doutorada em ciências biológicas, a fitopatologista Matilde Bensaúde.

Matias Ferreira de Mira foi também um membro dirigente da Sociedade Portuguesa de Biologia e, sobretudo nos jornais e revistas Luta de Brito Camacho, Diário de Notícias e Seara Nova, escreveu dezenas de artigos de vulgarização científica, na área da biologia e de outras ciências, assim como redigiu livros didáticos como Lições de Químico-Fisiologia elementar, Exercícios de Química Fisiológica (com Mark Athias) ou Manual de Química Fisiológica. Também deu dezenas de conferências sobre temas científicos e foi o autor da  História da Medicina Portuguesa (1947) e de biografias como a de Brito Camacho (1942), com Aquilino Ribeiro.

Ferreira de Mira foi também um cidadão empenhado na política tendo sido vereador da Câmara Municipal de Lisboa, com o pelouro da Instrução Primária, a partir de 1912, assim como foi  deputado da Primeira República, de 1922 a 1925, por Santarém, eleito com António Tavares Ferreira, Ginestal Machado e João Teixeira de Queiroz Vaz Guedes.

Matias Ferreira de Mira está também presente na toponímia da Charneca da Caparica.

Freguesia de Benfica
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Brotero do jardim Botânico da Ajuda, várias vezes na toponímia de Lisboa

Freguesia da Ajuda
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Félix de Avelar Brotero, médico que preferiu dedicar-se à botânica e assim dirigiu o Jardim Botânico da Ajuda, começou por ter Rua em Lisboa na freguesia de Alcântara no final do séc. XIX e em 1916, também passou a dar nome a uma artéria da Ajuda e depois, foi também o nome do Jardim do Alto de Santo Amaro em Alcântara.

Por deliberação camarária de 8 de julho de 1892 passou a existir em Alcântara,  na Rua 6 do Bairro Rolão ou de Santo Amaro, a Rua Avelar Brotero. Já no séc. XX, o Edital municipal de 26 de setembro de 1916, alterou o topónimo Rua da Paz para Rua Brotero, considerando a localização desta entre o Largo da Paz e o Jardim Botânico que Brotero dirigira. Nos anos 80 do séc. XX, perante a manifesta escassez de novos arruamentos na cidade, a edilidade alterou pelo Edital de 7 de setembro de 1987 a Rua Avelar Brotero para Rua Pedro Calmon, passando a existir apenas uma rua dedica a Brotero em Lisboa, a da Ajuda, à qual em 1992 foi aditada a legenda «Félix de Avelar Brotero / Médico e Botânico/1744 – 1828», a partir da sugestão de um munícipe para se identificar  convenientemente o antropónimo.

Ainda em Alcântara, no início do séc. XX, o Jardim do Alto de Santo Amaro, sito na Rua Filinto Elísio- que antes de 8 de julho de 1892 era a Rua 2 do Bairro Rolão ou de Santo Amaro-, foi denominado Jardim Avelar Brotero mas tal resolução nunca tornou oficial o topónimo do Jardim. A CML aumentou o número de bancos deste espaço verde nos anos 50, a pedido dos moradores da zona e a última remodelação do Jardim aconteceu no ano passado.

Freguesia da Ajuda – Placa Tipo II
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Nascido Félix da Silva de Avelar (Loures – Santo Antão do Tojal/25.11.1744 – 04.08.1828/Lisboa), pela forte amizade que o ligava a Filinto Elísio (Francisco Manuel do Nascimento) e pelo ardor com que se dedicava à ciência tornou-se suspeito para o Santo Ofício e para fugir à polícia de Pina Manique, emigrou para Paris em 1778, com Filinto Elísio. Durante os 12 anos de permanência em Paris, fez os principais estudos de história natural e doutorou-se na Escola de Medicina de Reims, assim como adotou o apelido de Brotero, que significa amante dos mortais (pela junção do grego brothos com eros). Publicou o Compêndio Botânico em 1788, em Paris.

Regressou a Lisboa no ano de 1790, tendo sido logo nomeado lente de Botânica e Agricultura na Universidade de Coimbra, em 1791 e que manteve até 1807, acumulando com a direção do Jardim Botânico da Universidade e publicou Flora Lusitanica (1804). As invasões francesas alcançaram Coimbra em 1807 e Brotero veio refugiar-se em Lisboa e só lá voltou para ser jubiliado, o que sucedeu por Carta Régia de 27 de abril e Decreto de 16 de agosto de 1811. Passou então a dirigir o Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda, reabilitando o Jardim Botânico e elaborando o seu catálogo. Da sua investigação, resultaram também as suas obras Phytographia Lusitaniae selectior – em 2 tomos- 1816 e 1827 – e a História Natural dos Pinheiros, Larices, e Abetos (1827).

Em 1821, Félix Avelar Brotero foi eleito deputado às Cortes Constituintes pela Estremadura, tendo participado  na discussão da lei dos cereais, onde exortou os agricultores a cultivarem centeio e trigo, para que fosse possível produzir pão para toda a população e a um preço acessível à bolsa de todos mas 4 meses depois pediu dispensa, pela idade avançada (77 anos) e foi-lhe concedida. Faleceu aos 83 anos de idade na sua casa, na Calçada do Galvão, em Alcolena, em Belém.

Brotero foi homenageado com a atribuição do seu nome a várias plantas, como é o caso da Brotera ovata e da Brotera trinervata e está também na toponímia de Coimbra, do seu concelho natal – em Loures, Santo António dos Cavaleiros e Santo Antão do Tojal-, da Amadora, do Barreiro, Carnaxide, Custóias, Mafra, Matosinhos, Montijo, Odivelas (em Ramada e em Caneças), do Porto, Santa Maria da Feira, Seixal e Setúbal.

Freguesia da Ajuda
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

A Rua da primeira catedrática de Química, Branca Edmée Marques

Freguesias de Alvalade
(Foto: Sérgio Dias| NT do DPC)

Branca Edmée Marques  foi a primeira catedrática de Química do nosso país, em 1966, pelo que dá nome a uma artéria da Cidade  Universitária, na freguesia de Alvalade, desde 2009.

O topónimo nasceu a  partir de uma proposta do Professor José Pedro Sousa Dias, membro da Comissão Municipal de Toponímia em representação da Universidade de Lisboa e a Comissão escolheu a Rua Interior da Alameda da Universidade entre a Avenida Prof. Aníbal Bettencourt e a Avenida Gama Pinto, que a deliberação de câmara de 02/09/2009 aprovou e assim foi a Rua Branca Edmée Marques fixada pelo Edital municipal de 16/09/2009. Pelo mesmo Edital mais 3 arruamentos da zona da Universidade Clássica de Lisboa ganharam nomes de investigadores, a saber, os do matemático António Aniceto Monteiro, do geólogo Paul Choffat e da pedagoga Teresa Ambrósio.

Branca Edmée Marques (Lisboa/14.04.1899 – 19.07.1986/Lisboa), filha de Berta Rosa Marques e de Alexandre Théodor Roux, licenciada em Ciências Físico-Químicas pela Faculdade de Ciências de Lisboa no ano de 1925, começou nesse mesmo ano a ser professora dessa Faculdade, onde regeu vários cursos teóricos, entre os quais os de Químicas Orgânica e Análise Química, embora só tenha chegado a Catedrática em 1966, e foi a 1ª mulher em Portugal a atingir essa categoria na área da Química.

Ainda antes de concluir a sua licenciatura, no ano letivo de 1923-24, a convite de Aquiles Machado, estagiou no Laboratório de Química Analítica no Instituto Superior Técnico sob orientação de Charles Lepierre.   Depois, com uma bolsa atribuída pela Junta de Educação Nacional, de 1931 a 1935 fez trabalho de investigação em física nuclear no Laboratoire Curie do Instituto do Rádio, primeiro sob a orientação de Marie Curie e depois da morte desta, em 1934, sob a de André Debierne, doutorando-se em 1935 na Faculdade de Ciências de Paris, com a tese intitulada «Nouvelles Recherches sur le Fractionnement des Sels de Baryum Radifère».

Em 1936, já de volta a Portugal, foi-lhe reconhecida a equiparação do seu Doctorat d’État ao grau de Doutor em Ciências Físico-Químicas das Universidades Portuguesas em 13 de Junho de 1936, tendo criado o Laboratório de Radioquímica, que dirigiu que até à sua jubilação, o qual originaria o Centro de Estudos de Radioquímica  da Comissão de Estudos de Energia Nuclear (em 1953), o 1º centro de investigação em Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, hoje extinto.

Branca Edmée Marques publicou 6 trabalhos nos Comptes Rendus de l’Académie des Sciences de Paris, quatro dos quais ainda antes do seu doutoramento e em 1936 publicou 3 artigos no Journal de Chimie Physique, todos na área dos seus estudos sobre o bário radífero. Refira-se ainda que escreveu uma breve biografia de Marie Curie para a revista Ciência, e outra de Jean Perrin, a convite do Instituto Francês em Portugal, no primeiro aniversário da morte do grande cientista.

No centésimo aniversário do nascimento de Madame Curie, Branca Edmée Marques foi convidada pelo Instituto de Rádio de Paris para as cerimónias de homenagem que se realizaram na Universidade de Paris, em outubro de 1967, na qualidade de antiga colaboradora da nobelizada Maria Sklodowska Curie.

Branca Edmée Marques foi casada com o naturalista, geólogo e professor da Faculdade de Ciências António da Silva e Sousa Torres (1876-1958).

Freguesias de Alvalade
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)

O inventor da pasteurização na Praça Pasteur, no Areeiro

Freguesia do Areeiro
(Foto: Sérgio Dias | NT do DPC )

Louis Pasteur, o cientista francês que inventou a pasteurização em 1864, para responder a um pedido de vinicultores e cervejeiros franceses, está desde 1948 na toponímia do Areeiro, através da Praça Pasteur,  junto à Avenida de Paris.

Após a Exposição do Mundo Português em Belém, em 1940, Lisboa procurou continuar a afirmar-se como grande cidade para o resto do país e como cidade cosmopolita para o resto do mundo. Recorde-se que Portugal apresentara a sua candidatura a membro de pleno direito da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1946 e foi logo recusada, situação que se repetiu todos os anos até 1955. Em 1948, o Edital municipal de 29 de julho  foi uma tentativa de tornar a capital mais portuguesa mais cosmopolita, através da atribuição na novel urbanização do Areeiro de doze topónimos, todos ligados a personalidades de cariz internacional ou a cidades europeias e brasileiras, com os nomes dos cientistas europeus Pasteur e Marconi, do inventor americano Edison, dos escritores Cervantes e  Vítor HugoAfrânio Peixoto e João do Rio (um espanhol, um francês e dois brasileiros), a que somou Avenidas para MadridParis e Rio de Janeiro, uma praça para Londres, para além da Avenida João XXI que homenageia o único Papa português.

Os nomes dos franceses Pasteur e Vítor Hugo  foram sugeridos à edilidade por  carta de um munícipe datada de 8 de abril desse ano de 1948.

(Foto: Félix Nadar)

Louis Pasteur (Dôle/27.12.1822 – 28.09.1895/St. Cloud) foi um cientista químico francês que se tornou universal por  ter inventado em 1864 o processo de pasteurização quando começou a investigar a razão pela qual azedavam os vinhos e a cerveja, a pedido dos vinicultores e cervejeiros locais.

Este avanço científico permitiu que diversos produtos, como  o leite, pudessem ser transportados sem sofrerem decomposição, conservando a sua qualidade. A invenção deste método de conservação, revelou-se também uma medida higiénica fundamental para preservar a saúde dos consumidores. Pasteur foi também considerado o  pai da microbiologia,   já que também desenvolveu as bases da assepsia e antissepsia em medicina e cirurgia. Em 1865, em Inglaterra, o cirurgião Joseph Lister aplicou os conhecimentos de Pasteur para eliminar os micro-organismos vivos em feridas e incisões cirúrgicas. Em 1871, o próprio Pasteur obrigou os médicos dos hospitais militares a ferver os instrumentos que seriam utilizados nos procedimentos médicos.

São ainda de destacar do percurso de cientista de Pasteur a descoberta de uma nova classe de substâncias isómeras e do estabelecimento da teoria dos genes (1848); a descoberta da doença dos bichos da seda que permitiu salvar esta indústria (1865); um estudo sobre a fermentação que revolucionou a produção das substâncias alcoólicas (1872); os estudos do carbúnculo dos gados (1877) e da cólera aviária (1880); a descoberta da vacina contra a raiva (1885) que permitiu reduzir a mortalidade e a fundação do Instituto Pasteur em 1888,  em Paris, um dos mais famosos centros de investigação até aos nossos dias e  sob o qual está enterrado.

Exerceu ainda o cargo de professor de química em Dijon e Estraburgo tendo sido em 1854 nomeado decano da Faculdade de Ciências da Universidade de Lille.

Freguesia do Areeiro
(Planta: Sérgio Dias | NT do DPC )

 

A Avenida Doutor Alfredo Bensaúde que poderia ter sido Avenida 25 de Abril

Freguesia dos Olivais
(Foto: Sérgio Dias)

A Avenida Doutor Alfredo Bensaúde poderia ter sido Avenida 25 de Abril caso tivesse sido aceite a sugestão Almerindo Martins da Cruz, endereçada por carta à edilidade.

Esta proposta foi analisada na reunião da Comissão Municipal de Toponímia de 20 de dezembro de 1974 e também incluía o pedido de mudança da Avenida 28 de Maio para Avenida 28 de Setembro e da Avenida dos Combatentes para Avenida das Forças Armadas. O primeiro Edital municipal relativo a toponímia, publicado após o 25 de Abril, de 30 de dezembro de 1974, concretizou a mudança da Avenida 28 de Maio para Avenida das Forças Armadas. Sobre a mudança de topónimo da Avenida Doutor Alfredo Bensaúde a Comissão deliberou que «será futuramente considerada, quando se julgar pertinente». O 25 de Abril acabou por ser topónimo lisboeta por ocasião do aniversário do 25º aniversário do 25 de Abril, como Praça 25 de Abril, atribuída pelo Edital municipal de 22/04/1999, na freguesia de Marvila.

Na sequência de solicitações de J. Sequeira bem como de António Emídio, a Avenida Doutor Alfredo Bensaúde havia sido atribuída à Rua I Circular, no troço compreendido entre a Praça de Acesso à Auto-Estrada do Norte e Moscavide,  por Edital municipal de 21/08/1968, com a legenda «Professor e homem de ciência/1856-1941», estendendo-se hoje entre a Praça José Queirós e a Avenida Cidade do Porto.

Alfredo Bensaúde ( Ponta Delgada/04.03.1858 – 02.01.1941/Ponta Delgada), formado na Escola Técnica Superior de Hanover, na Escola de Minas de Clausthal  onde se fez engenheiro de minas em 1878, e na Universidade de Gottingen onde se doutorou em Mineralogia em 1881, tornou-se a partir de 1884 e até 1910, professor de Mineralogia e Geologia no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa e introduziu os métodos laboratoriais no ensino, revolucionando a forma de ensino dessas disciplinas. A ele se deve também a introdução em Portugal do ensino da Cristalografia e das técnicas de Petrografia. A convite de Brito Camacho, que era então Ministro do Fomento, foi o primeiro diretor do Instituto Superior Técnico,  de 1911 a 1922, exercendo também como docente, tendo tido assim a oportunidade de renovar os métodos de ensino da Engenharia no nosso país. A partir de 1924 foi nomeado Diretor Honorário. Das suas diversas publicações são de destacar Da Incongruência Entre a Observação e a Teoria em Alguns Cristais Cúbitos (1884), os seus  Relatórios sôbre vários jazigos minerais de Portugal, os Estudos sobre o sismo do Ribatejo de 23 de Abril de 1909  (1912) com o geólogo Paul Choffat e ainda, as Notas Histórico-Pedagógicas sobre o Instituto Superior Técnico (1922).

Com a morte do seu pai em 1922 retirou-se para Ponta Delgada, para assumir a administração da empresa industrial paterna e escreveu a biografia dele –  Vida de José Bensaúde -, publicada em 1936. Foi casado com Jeanne Oulman Bensaúde, autora de livros pedagógicos e infantis, bem como pai da bióloga Matilde Bensaúde, também desde 2016 homenageada na toponímia de Lisboa numa artéria próxima. 

Refira-se ainda a sua paixão pela construção e restauro de violinos, tendo construído o seu primeiro em 1874 e imprimido diferença nos que fazia através do verniz de produção própria que aplicava, bem como pela simetria na curvatura dos tampos. Chegou mesmo a interromper os estudos no ano letivo de 1874/1875 para aprender a arte de construir violinos. Na área musical também publicou, em 1905,  Uma concepção evolucionista da música e As canções de F. Schubert.