O Jardim da fadista que gostava de ser quem era

Placa Tipo IV (Foto: Artur Matos)

Placa Tipo IV
(Foto: Artur Matos)

Sete dias após o falecimento  de Amália deliberou a Câmara que o seu nome designasse uma via de Lisboa, o que se concretizou com o Edital de 18/04/2000 que atribuiu o topónimo Jardim Amália Rodrigues ao Jardim do Alto do Parque Eduardo VII,  um espaço de 5,7 ha da autoria do arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, que é parte integrante do Corredor Verde, que une o Parque Eduardo VII a Monsanto. 

Freguesia das Avenidas Novas  (Foto: Artur Matos)

Freguesia das Avenidas Novas
(Foto: Artur Matos)

Amália da Piedade Rebordão Rodrigues (Lisboa/23.07.1920 – 06.10.1999/Lisboa) por muitos considerada a maior voz portuguesa, por interpretar de um modo único e invulgar o fado, nasceu na Rua de Martim Vaz da antiga Freguesia da Pena, quando os seus pais visitavam os seus avós maternos e, dadas as dúvidas sobre o dia exato a artista adotou o dia 1 de julho como data de aniversário durante toda a sua vida. Aos seis anos mudou-se com os avós para Alcântara, bairro onde viveria até aos 19 anos. 

Estreou-se como profissional em 1939 no Retiro da Severa e, rapidamente se tornou cabeça de cartaz  a cantar no Café Luso, com um cachet de valor nunca antes pago a um fadista. Antes, usara Amália Rebordão como nome artístico mas por  sugestão de Filipe Pinto, diretor artístico do Solar da Alegria, mudou para Amália Rodrigues. E ao longo da sua carreira, Amália também se destacou pela singularidade de reinventar a  postura da fadista, à frente e não atrás dos guitarristas, a que juntou um estilo de vestidos e xailes negros. 

O seu êxito como fadista também a levou ao teatro, de 1940 a 1947,  onde foi a voz de fados e canções de sucesso, tendo começado no palco do Teatro Maria Vitória. Amália Rodrigues  passou também pelo cinema, a partir do  filme Capas Negras (estreado no cinema Condes a 16 de maio de 1947), a que se seguiram Fado – História de Uma Cantadeira (1947), Sol e Toiros (1949), Vendaval Maravilhoso (1949), Os Amantes do Tejo (1955), April in Portugal (1955), Sangue Toureiro (1958), Fado Corrido (1964), As Ilhas Encantadas (1965), Via Macao (1965) e  também em curtas-metragens de Augusto Fraga.

Entre os seus inúmeros êxitos musicais podem destacar-se  Ai, Mouraria Barco negro, Casa portuguesaEstranha forma de vida, O fado do ciúmeFoi Deus, Gostava de ser quem era, Povo que lavas no rio ou Vou dar de beber à dor.  Muitos dos fados que interpretou tiveram letra de poetas portugueses contemporâneos, como Alexandre O’Neill, Ary dos Santos, David Mourão-Ferreira, José Afonso, José Régio, Manuel Alegre, Pedro Homem de Mello, Sidónio Muralha, Vasco de Lima Couto. Ela própria escreveu as letras de alguns dos seus temas como é o caso de Gostava de ser quem era e, estes poemas foram editados pela Cotovia, em 1997, com o título Versos. A diferença dos fados de Amália também resultaram da parceria com as composições de Alain Oulman, de 1962 até 1975, muitas vezes referidas como as “óperas” de Amália, onde também cantou poesia dos trovadores galaico-portugueses, do Cancioneiro de Garcia de Resende e de Camões.

Amália foi também considerada a maior embaixatriz de Portugal no mundo, por ter levado o nome de Portugal ao resto do mundo, dada a sua permanente e constante exibição pelos cinco continentes, ao longo da sua carreira. Data de  1943 a sua primeira vez no estrangeiro, em Madrid, a que se seguiram Brasil, Paris, Londres, Berlim, Roma, Dublin, Moscovo, Nova Iorque, entre muitas outras cidades e países. 

A fadista foi galardoada com a Ordem de Santiago de Espada (Cavaleiro em 1958, Oficial em 1970 e  Grã-Cruz em 1990), a Grande Medalha de Prata da Cidade de Paris (1959), a Ordem do Infante D. Henrique (1980), a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa (1980), o Grau de Comendador da Ordem das Artes e Letras (1985), a Medalha de Ouro da Cidade do Porto (1986), a Legião de Honra francesa (1991),  uma homenagem pública num espetáculo na Expo’98 e, a 8 de julho de 2001, o seu corpo foi trasladado do Cemitério dos Prazeres para a Sala da Língua Portuguesa no Panteão Nacional.

amaliazinha adaptada

29 thoughts on “O Jardim da fadista que gostava de ser quem era

  1. Pingback: Leitão de Barros o realizador do 1º filme sonoro português, numa Rua de São Domingos de Benfica | Toponímia de Lisboa

  2. Pingback: David Mourão-Ferreira, o «escrevivente» do amor feliz, na toponímia de Lisboa | Toponímia de Lisboa

  3. Pingback: Raúl Portela, do fado Lisboa Antiga, numa Rua do Alto do Chapeleiro | Toponímia de Lisboa

  4. Pingback: A Rua do maestro Tavares Belo que regeu a Orquestra RTP no 1º Festival da Canção | Toponímia de Lisboa

  5. Pingback: A Rua do compositor basco Shegundo Galarza | Toponímia de Lisboa

  6. Pingback: Ferrer Trindade, o compositor da Canção do Mar numa rua do Lumiar | Toponímia de Lisboa

  7. Pingback: O património musical na toponímia de Lisboa | Toponímia de Lisboa

  8. Pingback: O património natural na toponímia de Lisboa | Toponímia de Lisboa

  9. Pingback: A Rua do Mestre Lagoa Henriques, autor do Fernando Pessoa de A Brasileira | Toponímia de Lisboa

  10. Pingback: A Rua do falado Nélson de Barros | Toponímia de Lisboa

  11. Pingback: Xavier de Magalhães, da Maria Rapaz e Lavadeiras de Caneças, numa Rua de Marvila | Toponímia de Lisboa

  12. Pingback: A Rua Laura Alves do Monumental | Toponímia de Lisboa

  13. Pingback: Património teatral na toponímia alfacinha | Toponímia de Lisboa

  14. Pingback: A Rua do autor da letra d’A Casa da Mariquinhas e d’A minha casinha | Toponímia de Lisboa

  15. Pingback: A Rua Maestro Raúl Ferrão da popular tendinha | Toponímia de Lisboa

  16. Pingback: A Rua do Britinho da revista, do fado e da Canção do Mar | Toponímia de Lisboa

  17. Pingback: A Rua Carlos Conde em Campolide | Toponímia de Lisboa

  18. Pingback: A Rua do guitarrista Jaime Santos das unhas postiças | Toponímia de Lisboa

  19. Pingback: A Rua da pintora Maluda que é nome de fado | Toponímia de Lisboa

  20. Pingback: A Rua do Capelão, da Severa e de Fernando Maurício | Toponímia de Lisboa

  21. Pingback: A seiscentista Rua de Martim Vaz onde nasceu Amália | Toponímia de Lisboa

  22. Pingback: A Rua Leitão de Barros, do realizador da Severa e criador das Marchas Populares | Toponímia de Lisboa

  23. Pingback: O Largo da primeira fadista, Severa | Toponímia de Lisboa

  24. Pingback: O Fado na toponímia de Lisboa | Toponímia de Lisboa

  25. Pingback: O Fado e a Rua do Capelão | Toponímia de Lisboa

  26. Pingback: Toponomenclatura de espaços verdes: os Jardins e os Parques | Toponímia de Lisboa

  27. Pingback: Novembro: As Ruas dos Cinemas de Lisboa – a partir de amanhã | Toponímia de Lisboa

  28. Pingback: A Rua da voz do Hino do Benfica, Luís Piçarra | Toponímia de Lisboa

  29. Pingback: Música na Toponímia de Lisboa | Toponímia de Lisboa

Os comentários estão fechados.