A Rua do Mestre Lagoa Henriques, autor do Fernando Pessoa de A Brasileira

Freguesia de Belém
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Junto ao antigo Atelier de Mestre Lagoa Henriques, no local onde hoje funciona o CAL – Centro de Arqueologia de Lisboa, está também na toponímia fixada a memória deste escultor através da Rua Lagoa Henriques, nascida por via do Edital municipal de 24 de julho de 2015, a partir de uma proposta da Profª Maria Calado enquanto membro da Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa.

António Augusto Lagoa Henriques (Lisboa/27.12.1923 — 21.02.2009/Lisboa), filho de Delfim Augusto Henriques e de Palmira C. de Almeida Lagoa Henriques, começou por viver  no Bairro dos Açores, na Rua da Ilha Terceira, até que a morte da avó os fez mudar-se para a casa do avô viúvo, na Baixa lisboeta, no 2º Dtº do nº 21 da Rua dos Douradores.

Foi por conselho do professor Agostinho da Silva,  nas aulas particulares que deu a Lagoa Henriques que este seguiu, em 1945,  para o Curso Especial de Escultura na Escola de Belas Artes de Lisboa. Três anos depois pediu transferência para o Porto, para ser aluno do escultor Barata Feyo. Concluiu o Curso em 1954, no decorrer do qual foi também discípulo de Carlos Ramos e de Dórdio Gomes.

Será também docente de ambas as escolas de belas artes de Lisboa e do Porto: na Escola Superior de Belas-Artes do Porto de 1960-1965, como professor de Escultura e de Desenho; na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa de 1966 a 1987, na cadeira de Desenho, tendo em 1974, quando da reestruturação dos cursos da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, criado a disciplina de Comunicação Visual, assim como fez a Escola sair à rua para a experienciar. Na década de noventa foi professor de Desenho na Escola Superior de Conservação e Restauro e mais tarde, também Catedrático da Universidade Autónoma de Lisboa. Acrescente-se que Lagoa Henriques foi ainda Presidente do Conselho Cientifico e Pedagógico da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa a partir de 6 de junho de 1981.

Lagoa Henriques tinha atelier em Belém, nos pavilhões junto ao Tejo que tinham sido da Exposição do Mundo Português, mas ocorreu um  incêndio no  início dos anos 70 do séc. XX e a Câmara Municipal de Lisboa distribuiu então novos espaços por todos os lesados, como Raúl Xavier ou Martins Correia, calhando a Lagoa Henriques uns armazéns na Avenida da Índia para criar um novo atelier.

Da obra de Lagoa Henriques que pode ser fruída em espaços públicos destaca-se desde logo a estátua de Fernando Pessoa na esplanada do café A Brasileira do Chiado, na Rua Garrett, produzida nos anos 80. Ainda em Lisboa encontramos a estátua em bronze de Guerra Junqueiro na Praça de Londres mais o bronze O segredo (1961) no Jardim Amália Rodrigues e ainda, o Grupo das Varinas e o Memorial a Antero de Quental (1991), de pedra e aço, no Jardim do Príncipe Real.

Fora de Lisboa, destacamos a União do Lis e Lena (1973) em Leiria; a escultura de Alves Redol nu e com a sua boina, em Vila Franca de Xira (2004); o António Aleixo sentado em Loulé; Camões e Ilha dos Amores, em Constância; o monumento ao Condestável Nuno Álvares Pereira, em Abrantes;  A Conquista de Ceuta, no Jardim do Ouro de Lordelo do Ouro, no Porto; o D. Sebastião em bronze, de Esposende; as  esculturas da Imperatriz Sissi e do Papa João Paulo II, na Ilha da Madeira; ou Ano do Cão nas proximidades das ruínas de S. Paulo, em Macau.

Refira-se ainda que em 1982 foi requisitado pelo Instituto Português do Património Cultural para coordenar um projeto de divulgação do património cultural até 1984, bem como foi membro do Júri do Concurso para uma Medalha de Homenagem a Almada Negreiros. Na sua vida, dedicou-se ainda à cenografia,  bem como a ser um grande comunicador de temas de arte, quer através de conferências, quer através dos programas televisivos de que também foi autor- Risco Inadiável, Pare, Escute e Olhe, Portugal Passado e Presente e Lisboa Revisitada-, e ainda ao colaborar na dinamização cultural  de instituições como a Fundação Calouste Gulbenkian, o Museu Nacional de Arte Antiga, o Centro Nacional de Cultura e o Instituto Português do Património Cultural.

No seu palmarés somou a Medalha de Escultura na Sociedade Nacional de Belas Artes e o Prémio Soares dos Reis (1954), o Prémio Teixeira Lopes e a Medalha de Honra na Exposição Internacional de Bruxelas (1958), o Prémio Rotary Clube do Porto, o Prémio Diogo de Macedo (1961), o 1º Prémio de Escultura da II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian (1963), a 1.ª Medalha da Sociedade Nacional de Belas-Artes e foi também agraciado com a Grã-Cruz de Honra e Mérito (1988) e a atribuição do seu nome no  Auditório da Faculdade de Belas Artes de Lisboa em abril de 2009, para além de estar também representado na toponímia da Nazaré, onde o Mestre até aos seus 20 anos passou férias.

Freguesia de Belém
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)