A memória de uma Leva da Morte de 1918 ou a Rua António Maria Cardoso

A Rua António Maria Cardoso no dia 25 de abril de 1974
(Foto: sem identificação de autor, Arquivo Municipal de Lisboa)

Rua António Maria Cardoso era no dia 25 de Abril de 1974 a morada da sede da PIDE, polícia de repressão política do Estado Novo, que ainda nessa tarde fez mais 4 mortos – os únicos da revolução – e 45 feridos, através de rajadas disparadas a partir das suas janelas, pelo que não se estranha que este topónimo figure muitas vezes entre os pedidos de alterações apresentados no pós-25 de Abril, sendo sugerido como topónimos alternativos que passasse a ser Rua da Leva da Morte ou Rua Dias Coelho, um pintor assinado pelo PIDE aos 38 anos de idade.

Entre inúmeras solicitações de alterações que a Comissão Municipal de Toponímia de Lisboa recebeu na época, a substituição da Rua António Maria Cardoso por Rua Dias Coelho, foi sugerida pelo cidadão Alberto Bastos Flores. O topónimo pedido acabou por ser concretizado em Alcântara, com a Rua José Dias Coelho, freguesia onde o artista havia sido morto a tiro e justamente na artéria onde tal aconteceu, através do Edital municipal de 17 de fevereiro de 1975.

Também a Associação dos Ex-Presos Políticos Antifascistas (AEPPA)  propôs que a Rua António Maria Cardoso voltasse «à sua antiga denominação de Rua da Leva da Morte » a que a Comissão Municipal respondeu que deveria «aguardar-se maior manifestação popular no sentido da alteração toponímica». Em termos de rigor histórico, a Rua da Leva da Morte havia sido,  durante a I República, um troço daquela artéria que hoje identificamos como Rua Serpa Pinto, em homenagem aos presos políticos anti-sidonistas que foram mortos num tiroteio em plena Rua Vítor Cordon em 1918, mas a força simbólica da presença da PIDE naquele arruamento era muito forte, a ponto da Associação dos Ex-Presos Políticos Antifascistas, que tinha sede nesta rua ter impresso os seus materiais e papel timbrado com Rua da Leva da Morte nº 15 como morada.

Freguesias da Misericórdia e de Santa Maria Maior
(Planta: Sérgio Dias)

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