As oficinas de conservas de peixe na Baixa lisboeta

Núcleo Arqueológico da Casa dos Bicos

Felicitas Iulia Olisipo, a que o imperador César Augusto concedeu o estatuto de município de cidadãos romanos (municipium), possuía uma cintura artesanal e manufatureira de salga e conserva de peixe. As oficinas, com os seus pátios e as suas cetárias (tanques), estendiam-se desde a Casa dos Bicos, na Rua dos Bacalhoeiros, até à Rua Augusta, formando o complexo conserveiro da Lisboa Romana.

Fora dos limites definidos pela muralha romana fundacional, na área suburbana de Olisipo, estariam as outras construções cujas funções aconselhavam uma localização isolada como o circo,  as necrópoles que acompanhavam as vias de saída da cidade e as oficinas que tinham uma maior concentração junto ao rio.

Olisipo era um importante centro de transformação de pescado. Na margem esquerda do Tejo, várias olarias fabricavam as ânforas em que eram exportadas as conservas olisiponenses, como na Quinta do Rouxinol (Seixal). Esta indústria de fabrico de preparados piscícolas seria até a principal base da economia da Lisboa Romana, cidade mobilizadora de rotas comerciais como da captura de pescado, produção de sal, assim como do transporte de peixe, vinho e azeite para todo o mundo romano.

Na Lisboa de hoje, localizamos as oficinas de  transformação de pescado em conservas e molhos de peixe perto do Tejo, na Rua dos Bacalhoeiros (Núcleo Museológico da Casa dos Bicos, classificado como Monumento Nacional); na antiga margem oriental do esteiro do Tejo; duas unidades distintas na Rua Augusta; várias outras na Rua dos Correeiros (Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros nº 21, classificado como Monumento Nacional ), onde para além das oficinas se encontraram umas pequenas termas e parte de uma via romana; no cruzamento da Rua de São Nicolau com a Rua dos Douradores; duas unidades fabris na Rua dos Fanqueiros no nº 51-57 e nº 72- 76, bem como na Rua da Conceição. Segundo o arqueólogo Rodrigo B. da Silva, seria forte a tendência ortogonal no desenho urbanístico alto-imperial desta área suburbana, cobrindo um amplo espaço equivalente à parte oriental e setentrional do Vale da Baixa e que, em função dos dados já publicados da Praça da Figueira, poderá remontar ao principado de Cláudio, pelo menos. Também Jacinta Bugalhão constata que muitas unidades de processamento de preparados de peixe prosseguem a sua laboração adentro do século IV d.C.

Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros

Textos: © CML | DPC | NT e CAL – Centro de Arqueologia de Lisboa | 2019

Fotos: © CML | DPC | José Vicente |2018