Uma Rua bem picadinha p’ra voz da Hermínia sobressair

Placa Tipo II

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Hermínia Silva comemoria hoje o seu 106º aniversário e Lisboa guarda-lhe a memória numa Rua do Bairro do Caramão da Ajuda, desde há 20 anos, com a publicação do Edital de 31 de Agosto de 1993 que a inscreveu na que era a Rua 15 do Bairro do Caramão da Ajuda, pouco mais de um mês após o seu falecimento, por recomendação da Assembleia Municipal de Lisboa.

Hermínia da Silva Leite Guerreiro (Lisboa/23.10.1907 – 13.06.1993/Lisboa) foi uma lisboeta fadista e actriz de revista e cinema. Nasceu no Hospital de S. José, morou no Campo dos Mártires da Pátria e, a partir dos 8 anos, no Bairro do Castelo. Foi aprendiza de costureira numa alfaiataria da Rua dos Fanqueiros mas também frequentava a Sociedade Recreativa Leais Amigos, onde fazia teatro amador e aí cantou os primeiros fados, acompanhados ao piano, em 1925. No ano seguinte, integrou a Tournée Artística Gil Vicente, organizada pelo maestro A. Júlio Machado e pelo seu filho Victor Machado, que percorre o país e alguns locais de Espanha. Depois cantou fados no cinema Malacaio, após a exibição dos filmes e, daí passou para o Valente das Farturas, no Parque Mayer, local onde a partir de 1929 estará nas peças da Esplanada Egípcia a interpretar fados. Nos anos seguintes actuará como cantadeira na antiga Cervejaria Jansen, no Salão Artístico de Fados, no Solar da Alegria e no Café Luso.

Hermínia criou um estilo muito próprio expresso em fados como «A Velha Tendinha», «A Casa da Mariquinhas», «Vou Dar de Beber à Alegria», «Fado Mal Falado» ou «Marinheiro Americano» e também inovou ao trautear os refrões ou ao entoar “trolarós”, tendo ainda  popularizado frases como «Anda Pacheco!», «Isso bem picadinho que é p’ra voz sobressair» ou «Eh pá ‘tás à rasca!».

Em 1958, a 13 de Maio, abriu com o seu marido o Solar da Hermínia, no Largo Trindade Coelho, onde passou a cantar até ao encerramento do espaço em 23 de Outubro de 1982, no dia em que a fadista completava 75 anos.

Para além do fado, Hermínia Silva actuou também em revista, rádio, cinema e televisão. Logo em 1932, ainda no Parque Mayer, integrou o elenco da opereta «Fonte Santa» no Teatro Maria Vitória e, no ano seguinte já era segunda figura no Teatro Variedades, logo a seguir a Beatriz Costa, sendo esta uma relação que manterá regularmente até 1958 e, depois esporadicamente, no Teatro ABC em 1964, 1975 e 1976. No cinema, participou em 5 filmes: «A Aldeia da Roupa Branca» (1938), «Costa do Castelo» (1943), «Um Homem do Ribatejo» (1946) – onde interpretou o «Fado da Sina» – , «Ribatejo» (1949) e, «O Diabo Era Outro» (1969) .

Hermínia Silva foi galardoada com o Prémio Nacional de Teatro Ligeiro (1946), a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa (1980), a Comenda (1985) e a Grã-Cruz (1990) da Ordem do Infante D. Henrique.

Freguesia da Ajuda

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  14. XXXXXXXXX Amigos toponímicos: Continuo a apreciar o vosso excelente trabalho que, além de muitas mais vantagens, tem a de me poupar na feitura de fichas, agora desnecessárias porque tenho a papinha feita. Obrigado. Um ligeiríssimo reparo: a Hermínia cantou coisas sem fim e, nomeadamente, uma paródia sobre a Mariquinhas (“Vou dar de beber à alegria”, uma espécie de resposta ao “Vou dar de beber à dor” da Amália). Mas o fado “Casa da Mariquinhas”, o autêntico, não é dela e talvez nunca o tenha cantado. É uma das relíquias do Alfredo Marceneiro, que foi autor da música e intérprete; a letra é de Silva Tavares. Abraços sortidos Appio Sottomayor XXXXXXXXX Date: Wed, 23 Oct 2013 06:38:12 +0000 To: appiosottomayor@hotmail.com

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