A Praça do arquiteto do Cine-Teatro Tivoli

Freguesia de Marvila
(Foto: Google Maps editada pelo NT do DPC)

Entre a Rua Luís Cristino da Silva e a Rua Keil do Amaral fica a Praça dedicada ao arquiteto que traçou o cinema Tivoli para a Avenida da Liberdade, a Praça  Raúl Lino, acolhida em Marvila desde  a publicação do Edital municipal de 20 de agosto de 1985.

Raúl Lino da Silva (Lisboa/21.11.1879-13.07.1974/Lisboa) foi estudar para a Grã-Bretanha desde os  10 anos de idade, por orientação de seu pai,  tendo seguido depois para Hannover, na Alemanha, a partir de 1893, onde trabalhou no atelier do historiador e arquiteto Albrecht Haupt (1852-1932). Regressado a Portugal em 1897, Raúl Lino desenhou numerosas obras ao longo da sua vida, cerca de 700, de que que se salientam as seguintes para Lisboa:

  • o modelo de Jardim-Escola João de Deus (1909) e o edifício  da Avenida Álvares Cabral, 69 (1918);
  • os arranjos das instalações dos animais no Jardim Zoológico de Lisboa (1912), na Quinta das Laranjeiras;
  • a loja Gardénia (1917) no nº 54 da Rua Garrett;
  • o Cine-Teatro Tivoli (1918 – 1924) que desde 2015 é  Monumento de Interesse Público;
  • a moradia na Rua Castilho nº 64 a 66, que foi Prémio Valmor  em 1930 (já demolida);
  • as alterações ao antigo Picadeiro Régio/Museu dos Coches (1940) e o Pavilhão do Brasil na Exposição do Mundo Português (1940).

A moradia na Rua Castilho nº 64 a 66 que foi Prémio Valmor  em 1930
(Foto: Paulo Guedes, Arquivo Municipal de Lisboa)

Fora da capital refira-se a sua autoria  na casa Montsalvat para o pianista Alexandre Rey Colaço (1901), no Monte Estoril; no Solar dos Patudos para José Relvas (1904); na Casa da Quinta da Comenda no Outão (1909); o Sanatório de Sousa Martins  (1907) na Guarda; na Casa do Cipreste (1907-1913), em Sintra, para si próprio; na Pérgola em Penacova (1918); na Casa de Santa Maria (1918) em Cascais; na Casa dos Penedos (1920) em Sintra;  no Cine-Teatro Curvo Semedo (1923) em Montemor-o-Novo; na Casa do Soar de Cima (1925) em Viseu; na Quinta das Romeiras em Câmara de Lobos (1933); ou nos Paços do Concelho de Setúbal (1938).

Raúl Lino foi ainda autor de numerosos textos teóricos sobre  arquitetura, como A Nossa Casa (1918), A casa portuguesa (1929), Casas portuguesas (1933) e L´évolution de l´ architecture domestique au Portugal (1937), neles revelando a sua principal preocupação de criar uma arquitetura integrada na paisagem, assente na  ideia de que só o conhecimento do terreno sobrevaloriza os valores tradicionais da pura arquitetura portuguesa, procurando assim conciliar a arquitetura erudita com a tradição popular.

Raúl Lino foi agraciado com o Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura de 1930, o Prémio José de Figueiredo  de 1948 e a Comenda da Ordem Militar de Cristo (1941). Também integrou o júri do prémio Valmor em 1931, que premiou o edifício da Rua Infantaria 16, da autoria dos arquitetos Miguel Jacobethy Rosa e António Reis Camelo.

Para além do seu traço de arquiteto, Raúl Lino também desempenhou cargos como  Chefe da Repartição de Estudos e Obras em Monumentos da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (entre 1936 e 1949),  Superintendente Artístico dos Palácios Nacionais a partir de 1938 e ainda, Diretor dos Monumentos Nacionais a partir de 1949.

Raúl Lino foi ainda membro fundador da Academia Nacional de Belas Artes em 1932 e seu presidente a partir de 1967. Refira-se também que a produção artística de Raúl Lino inclui o design de mobiliário, painéis, azulejos e porcelanas; a cenografia (sobretudo no São Carlos e com Almada Negreiros) e a programação cultural, principalmente para o cinema Tivoli onde exibiu, entre outros, filmes de Fritz Lang e de Chaplin, para além de colaborar em publicações como a Atlantida, Homens Livres, Ilustração ou a Revista Municipal de Lisboa.

Na vida pessoal, escolheu viver numa casa na Avenida António Augusto de Aguiar e teve duas filhas: Isolda Lino Norton de Matos e Maria Cristina Lino Pimentel . O seu espólio foi doado pela família, em 1989, à Fundação Calouste Gulbenkian.

Freguesia de Marvila
(Planta: Sérgio Dias| NT do DPC)